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LUÍS NASSIF
O controle dos medicamentos
Tema dos mais relevantes,
a merecer atenção redobrada nos próximos anos, é a política de controle de preços e consumo de medicamentos. Hoje em
dia existe uma preocupação internacional em relação ao peso
cada vez maior dos medicamentos no orçamento público e das
pessoas.
Técnica do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), assessora especial do ministro da Saúde, a economista Elba Cristina Lima Rêgo procedeu a um levantamento
competente do mercado, assim
como das políticas de regulação.
Provavelmente seu trabalho
-"Políticas de Regulação do
Mercado de Medicamentos: A
Experiência Internacional"-
servirá de base para uma futura
política de regulação do setor
-que não se funda exclusivamente em intervenções tópicas
sobre preços praticados.
O trabalho parte da constatação da existência de monopólios
e oligopólios por classes e subclasses terapêuticas. Esse oligopólio é garantido por sistemas
de proteção a patentes e lealdade a marcas -garantida por investimentos pesados em marketing e na inércia da classe médica em geral.
Além disso, as imperfeições do
mercado são ditadas pela chamada assimetria de informações -consumidores, classe médica e farmacêutica sendo menos informados que os laboratórios e indo beber em sua fonte.
Outro aspecto do mercado é que
quem consome não é quem decide sobre os medicamentos.
Quem decide não paga e quem
paga, muitas vezes, são terceiros
(caso de cobertura por seguros
públicos ou privados).
Com todos esses problemas, os
gastos totais com produtos farmacêuticos variam de 0,7% a
2,2% como proporção do PIB
nos países da OCDE (os mais desenvolvidos), onde os gastos públicos com medicamentos equivalem, em média, a 0,7% do PIB
-um crescimento 1,5% ao ano
maior que o do PIB do bloco.
Diferentes tipos de regulação
permitiram aos países da OCDE
níveis diferentes de preços de remédios. O trabalho identifica
um conjunto de ações de regulação pelo lado da demanda e pelo da oferta.
Do lado da demanda, o recurso mais utilizado pelos países da
OCDE é a definição de lista de
medicamentos passíveis de cobertura total ou parcial pelo sistema nacional de saúde. Também são adotadas medidas para
influenciar as prescrições médicas, com a utilização de critérios
de custo-efetividade. O principal instrumento de controle são
as listas de remédios cobertos
pelos sistemas públicos.
Outros recursos para reduzir a
demanda são sistemas de co-pagamento, nos quais o consumidor banque uma parte. A gratuidade pode levar ao sobreconsumo. Muitos países definem tetos para gastos individuais com
medicamentos. Alguns, como a
França e a Alemanha, estipulam punições para os médicos e
para a indústria quando as metas são ultrapassadas. Tal política tem levado a reduções significativas das prescrições e/ou ao
aumento das prescrições de produtos mais baratos, mas tem gerado muitas reclamações por
parte dos médicos.
A promoção agressiva de genéricos tem sido outra prática.
Nos EUA, primeiro país a adotar essas políticas, os genéricos
têm entrado no mercado em
média três meses após a expiração da patente. Mas a redução
de preço só ocorre quando entram vários genéricos concorrentes e quando existe algum tipo de responsabilização do que
os médicos prescrevem.
Existem também políticas de
preços. No Canadá, por exemplo, o governo central controla o
preço de saída das fábricas e as
Províncias o preço de venda ao
consumidor, por meio de listas
de remédios passíveis de cobertura pelo sistema público de
saúde. Em Portugal, o sistema
nacional de saúde negocia o
preço com o laboratório e estabelece o preço de venda ao consumidor, controlando também
as margens de comercialização.
Como o trabalho é bastante
amplo, volto à continuação proximamente.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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