São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2001

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"OVINO LOUCO"
Animais são do mesmo lote que originou, no PR, três casos de "scrapie", doença ligada ao mal da vaca louca

Ovelhas importadas terão de ser abatidas

RONALDO SOARES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O abate de ovelhas iniciado no sul do Paraná em virtude do surgimento do "scrapie", doença associada ao mal da vaca louca, não ficará restrito à propriedade onde foi detectado o foco de animais enfermos.
Ontem, o Ministério da Agricultura determinou que mais 35 ovelhas, de uma propriedade no município de Agudo do Sul, também terão de ser sacrificadas.
O ministério agora espera o rastreamento dos animais de origem canadense importados dos EUA em 1989, em cujo lote foram encontrados os três casos da doença até agora. O processo é longo, podendo tomar semanas, e de difícil precisão: pode ter havido inúmeros cruzamentos não identificados entre os animais.
Todos os animais identificados serão abatidos, disse o chefe da Divisão Sanitária do Ministério da Agricultura no Paraná, Carlos Conte. Os bichos a serem mortos em Agudo do Sul pertencem ao deputado federal Gustavo Fruet (PMDB-PR).
Segundo o ministério, ovelhas oriundas da propriedade de Fruet deram origem ao foco da doença no município de Candói, onde 290 ovinos tiveram de ser sacrificados quarta-feira por medida de precaução.
Fruet disse que as ovelhas importadas faziam parte de um lote de cerca de 250 animais que seu pai, Maurício Fruet, e outros dez produtores trouxeram para o Brasil.
O deputado afirmou ter documentos referentes à importação em que, de acordo com ele, o próprio ministério reconhece que os animais trazidos ao Brasil eram saudáveis.
De acordo com o parlamentar, em um dos documentos -o Certificado Zoossanitário Internacional de Origem para Importação-, a Secretaria de Defesa Sanitária Animal do ministério reconhece que as ovelhas importadas provêm de uma região dos Estados Unidos onde não há registro de paraplexia enzoóica, termo clínico do "scrapie".
Fruet encaminhou cópia dos documentos ao ministério e disse que vai solicitar um laudo técnico para que seja determinada a origem da doença.
Segundo Carlos Conte, o rastreamento dos animais se baseia em registros de origem de animais importados, existentes no ministério e na Arco (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos), com sede em Bagé, no Rio Grande do Sul.
Ele acredita que o trabalho de identificação dos animais levará de três a quatro meses. Conte não soube estimar quantas ovelhas deverão ser sacrificadas.
De acordo com a Associação Paranaense de Criadores de Hampshire Down, existem no Estado cerca de 100 mil exemplares desta raça -a mesma importada.
Segundo o presidente da entidade, Egon Antonio Torres Berg, além da importação feita em 1989, produtores paranaenses trouxeram outros dois lotes de animais para o Brasil -com cerca de 200 ovelhas cada um- no início e no final de 1990.

Degeneração nervosa
O "scrapie" é considerado o vetor da encefalopatia espongiforme bovina, o mal da vaca louca.
De acordo com os técnicos da Defesa Sanitária Animal do Paraná, não há casos de transmissão da doença dos ovinos a seres humanos.
A doença é transmitida entre ovinos, no momento do parto, por meio do líquido amniótico. Ela também pode se manifestar em animais que tenham predisposição hereditária.
A moléstia degenera as células nervosas, levando à morte. No Reino Unido, o uso de carcaças (com material do sistema nervoso, como medulas e miolos) de ovinos na composição de ração para bovinos levou ao mal da vaca louca.
Por sua vez, alguns humanos que comeram carne bovina contaminada acabaram desenvolvendo a variante humana do mal, a doença de Creutzfeldt-Jakob.



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