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COMBUSTÍVEIS
Pesquisa da agência revela quem compra e vende abaixo do custo, mas setor de fiscalização não leva dados em conta
ANP ignora "mapa" da gasolina fraudada
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na lista de preços publicada
mensalmente no site da ANP
(Agência Nacional de Petróleo)
para orientar o mercado de combustíveis aparecem postos que
compram e vendem gasolina a
preços abaixo de custo.
O que aparentemente é uma
boa notícia para o consumidor revela, na realidade, falta de rigor da
agência na fiscalização, pois a prática de comercialização de combustíveis a preços muito baixos é
forte indício de adulteração de
produto e sonegação de impostos,
além de concorrência desleal.
Segundo distribuidoras e postos
ouvidos pela Folha, a principal falha da ANP -que tem como
principal função regular e fiscalizar o setor- é não cruzar as informações de dois dos seus departamentos: o que faz o levantamento de preços nos postos de
gasolina e o que sai a campo para
monitorar a qualidade de combustíveis. A combinação dos dados facilitaria a identificação de
estabelecimentos irregulares.
A ANP levanta preços, mensalmente, em cerca de 16 mil postos
em 411 municípios de todo o país.
Também monitora a qualidade
de combustíveis em cerca de 26
mil postos brasileiros.
Do grupo de 257 postos consultados pela própria ANP no Rio de
Janeiro no período de 5 a 11 deste
mês, como informa o site da ANP
(www.anp.gov.br), 202 adquiriram gasolina de distribuidoras a
preços abaixo do custo das próprias distribuidoras, pelos cálculos do Sindicom (sindicato das
companhias de combustíveis),
feitos a pedido da Folha.
No período pesquisado, segundo informa o sindicato, o custo da
gasolina para as distribuidoras no
Rio, sem acréscimo de impostos e
margens, era de R$ 1,84 por litro
(atualmente está em R$ 1,89). O
site da ANP mostra que há postos
que adquiriram o litro da distribuidora a R$ 1,55 para vendê-lo
ao consumidor a R$ 1,85. Em outras capitais do país a situação se
repete, segundo as distribuidoras.
A inclusão na lista da ANP de
estabelecimentos que comercializam gasolina a preço abaixo do
custo mostra, para distribuidoras
e postos ouvidos pela Folha, que a
agência não está cumprindo, pelo
menos no ritmo em que deveria,
sua função de fiscalização.
O Sincopetro, sindicato que
reúne os postos paulistas, vai encaminhar hoje à ANP notificação
para pedir fiscalização e eventual
punição dos postos listados no site da agência que comercializam
gasolina a preços abaixo de custo
ou inferiores aos que garantem a
margem de lucro média de mercado para postos (entre R$ 0,15 e
R$ 0,25 por litro) e distribuidoras
(entre R$ 0,05 e R$ 0,10 por litro).
"A ANP tem de estar mais ativa", afirma José Alberto Paiva
Gouveia, presidente do Sincopetro. Para ele, a agência também falha porque não despreza os preços abaixo de custo para calcular
o preço médio da gasolina. Esse
preço serve como orientador do
mercado para o consumidor.
A Shell, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do país,
informa que encaminhou à ANP
no ano passado 49 denúncias de
postos que estariam operando de
forma irregular. Teve resposta da
agência sobre nove denúncias,
que geraram três autuações.
A manutenção de preços excessivamente baixos na lista publicada pela ANP, na análise de alguns
donos de postos, poderia ser também um instrumento para "segurar" a inflação. Pelos cálculos do
Sindicom, se todas as distribuidoras e postos trabalhassem com
preços e margens adequados à
realidade do mercado, o preço da
gasolina na bomba estaria hoje
entre R$ 2,09 e R$ 2,24 no Rio e
entre R$ 2,01 e R$ 2,16 em São
Paulo. O preço médio do litro comercializado na cidade do Rio de
Janeiro no período, pelo site da
ANP, era R$ 2,07.
Enquanto isso, o Posto Taquara,
localizado no bairro da Taquara
(Rio), que aparece no site da ANP,
na quinta-feira passada vendia o
litro da gasolina a R$ 1,86. O custo
do produto, segundo o Sindicom,
já está em R$ 1,89 para as distribuidoras. Sobre esse preço as distribuidoras normalmente acrescentam entre R$ 0,05 e R$ 0,10 por
litro, e os postos, entre R$ 0,15 e
R$ 0,25. "Vendo barato porque
compro direto da distribuidora e
tenho frota de caminhões", diz
Fábio Souza, dono do Taquara.
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