UOL


São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BANCOS

Instituições estrangeiras venderam R$ 40,7 bi em ativos no país desde o final de 2001; HSBC e Boston negam saída

"Revoada" de estrangeiros deve continuar

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos estrangeiros venderam R$ 40,7 bilhões em ativos no país desde o final de 2001 até a semana passada, quando o espanhol BBVA foi adquirido pelo Bradesco por R$ 2,63 bilhões.
Segundo estudo da ABM Consulting, a participação das instituições estrangeiras no total de ativos do sistema financeiro nacional, que chegou a 29,9% em 2001, caiu para 27,1% após as vendas de participações do ano passado e a saída dos espanhóis.
"Está havendo uma consolidação do sistema bancário brasileiro, que começou com os bancos de investimento e agora chega aos bancos de varejo", diz Marcelo Bessan, sócio da KPMG.
Há cerca de um ano e meio começou a revoada de bancos de investimento que perderam dinheiro com títulos brasileiros. "Houve um movimento de venda de ativos para bancos locais e, depois, uma redução dos negócios dos que ficaram no país", diz Bessan.
Desde o final de 2001, pelo menos cinco administradoras de recursos de terceiros ligadas a bancos internacionais trocaram de mãos e de sotaque, indo parar em poder de instituições brasileiras.
O Lloyds Asset foi comprado pelo Itaú, o Deutsche Asset pelo Bradesco, o Dresdner Asset pelo ABN Amro, o Sudameris Asset pelo Itaú e o ING Asset pela Sul América Investimentos.
Na área de varejo, dizem experientes dirigentes de instituições financeiras, por enquanto estão batendo em retirada os bancos estrangeiros que vieram com muita expectativa em relação ao mercado brasileiro, compraram bancos com problemas e estavam mal posicionados no mercado.
Segundo Carlos Coradi, presidente da EFC (Engenheiros Financeiros & Consultores), esse seria o caso do italiano Sudameris, à venda desde o ano passado, do BBVA, recém-adquirido pelo Bradesco, dos portugueses da Caixa Geral de Depósitos, vendida ao Unibanco, e do Interatlântico, que comprou o Boavista e teve de revendê-lo ao Bradesco.
Mas, segundo dirigentes de instituições financeiras ouvidos pela Folha, importantes bancos estrangeiros ainda poderão deixar o país, seja porque não conseguiram escala para competir com os líderes -Bradesco e Itaú- e não têm estratégia definida, ou porque a operação local não é relevante para suas matrizes. Nesse caso, dizem os executivos, estariam o HSBC e o BankBoston.
"É um absurdo pensar que o HSBC poderia seguir o caminho de outros grupos estrangeiros e vender seus ativos no Brasil. Por que venderíamos? Compramos três bancos no Brasil nos últimos seis anos: o Bamerindus, em 1997, e as atividades locais dos grupos internacionais CCF (Crédit Commercial de France) e Republic, em 2000", diz Michael Geoghegan, presidente do HSBC Bank Brasil.
Ele contabiliza ainda o crescimento das operações do banco: "A base de cartões de crédito saltou de quase nada para mais de 1 milhão de plásticos, nos tornamos o quinto maior administrador de recursos de terceiros, com mais de R$ 20 bilhões de clientes em nossos fundos de investimentos, e somos o segundo maior "private bank" (administradores de grandes patrimônios) do país".
Segundo Geoghegan, "tudo isso foi alcançado ao mesmo tempo em que os acionistas receberam mais de 20% de retorno por ano".
Também a direção do BankBoston nega que esteja reduzindo suas operações no país ou que possa vir a fazer as malas.
"Estamos há 60 anos no país, temos um foco no mercado local, que são os clientes de alta renda", diz Alex Zornig, vice-presidente de finanças do BankBoston.
Na sua opinião, a consolidação em marcha no setor é semelhante à que está ocorrendo no México. "Só que lá os bancos não estavam preparados para concorrer com os estrangeiros e viraram caça. No Brasil, os bancos estão mais preparados, são mais eficientes que os demais da América Latina."
É por isso, segundo ele, que os bancos nacionais "são caçadores, e na posição de caça estão os bancos estrangeiros pequenos, sem estratégica definida, e que não têm a menor idéia do que é o Brasil", diz ele.
"Nós [do Boston" não somos um bando de expatriados tentando atuar no mercado, temos uma equipe de administradores que conhece e entende o país", diz.
Segundo analistas, o problema do Boston -que poderia determinar sua saída ou redução de tamanho no país- é a mentalidade do seu controlador, o FleetBoston, que comprou o banco em 1999. O Fleet, um banco regional norte-americano, quer crescer nos EUA e, segundo tal análise, não teria interesse em manter operações na América Latina. Tanto que decidiu encolher na Argentina, e o próximo passo nessa direção seria o Brasil.
Para Zornig, esse tipo de análise não tem fundamento. "O Boston perdeu muito dinheiro na Argentina, mas não deixou o país, apenas reviu sua estratégia e deverá deixar de atuar no varejo para tornar-se um banco de nicho como o do Brasil", diz ele.
Além disso, "o Fleet não está tendo problema de capitalização e não tem necessidade premente de vender ativos, como era o caso do BBVA". Segundo o executivo, a operação brasileira é a uma das poucas unidades do FleetBoston que projeta crescimento do lucro para este ano.


Texto Anterior: Líderes do ranking vão a seminário na Bovespa
Próximo Texto: Para analistas, compras erradas prejudicaram instituições
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.