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BANCOS
Instituições estrangeiras venderam R$ 40,7 bi em ativos no país desde o final de 2001; HSBC e Boston negam saída
"Revoada" de estrangeiros deve continuar
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos estrangeiros venderam R$ 40,7 bilhões em ativos no
país desde o final de 2001 até a semana passada, quando o espanhol BBVA foi adquirido pelo
Bradesco por R$ 2,63 bilhões.
Segundo estudo da ABM Consulting, a participação das instituições estrangeiras no total de
ativos do sistema financeiro nacional, que chegou a 29,9% em
2001, caiu para 27,1% após as vendas de participações do ano passado e a saída dos espanhóis.
"Está havendo uma consolidação do sistema bancário brasileiro, que começou com os bancos
de investimento e agora chega aos
bancos de varejo", diz Marcelo
Bessan, sócio da KPMG.
Há cerca de um ano e meio começou a revoada de bancos de investimento que perderam dinheiro com títulos brasileiros. "Houve
um movimento de venda de ativos para bancos locais e, depois,
uma redução dos negócios dos
que ficaram no país", diz Bessan.
Desde o final de 2001, pelo menos cinco administradoras de recursos de terceiros ligadas a bancos internacionais trocaram de
mãos e de sotaque, indo parar em
poder de instituições brasileiras.
O Lloyds Asset foi comprado
pelo Itaú, o Deutsche Asset pelo
Bradesco, o Dresdner Asset pelo
ABN Amro, o Sudameris Asset
pelo Itaú e o ING Asset pela Sul
América Investimentos.
Na área de varejo, dizem experientes dirigentes de instituições
financeiras, por enquanto estão
batendo em retirada os bancos estrangeiros que vieram com muita
expectativa em relação ao mercado brasileiro, compraram bancos
com problemas e estavam mal
posicionados no mercado.
Segundo Carlos Coradi, presidente da EFC (Engenheiros Financeiros & Consultores), esse
seria o caso do italiano Sudameris, à venda desde o ano passado,
do BBVA, recém-adquirido pelo
Bradesco, dos portugueses da
Caixa Geral de Depósitos, vendida ao Unibanco, e do Interatlântico, que comprou o Boavista e teve
de revendê-lo ao Bradesco.
Mas, segundo dirigentes de instituições financeiras ouvidos pela
Folha, importantes bancos estrangeiros ainda poderão deixar o
país, seja porque não conseguiram escala para competir com os
líderes -Bradesco e Itaú- e não
têm estratégia definida, ou porque a operação local não é relevante para suas matrizes. Nesse
caso, dizem os executivos, estariam o HSBC e o BankBoston.
"É um absurdo pensar que o
HSBC poderia seguir o caminho
de outros grupos estrangeiros e
vender seus ativos no Brasil. Por
que venderíamos? Compramos
três bancos no Brasil nos últimos
seis anos: o Bamerindus, em 1997,
e as atividades locais dos grupos
internacionais CCF (Crédit Commercial de France) e Republic, em
2000", diz Michael Geoghegan,
presidente do HSBC Bank Brasil.
Ele contabiliza ainda o crescimento das operações do banco:
"A base de cartões de crédito saltou de quase nada para mais de 1
milhão de plásticos, nos tornamos o quinto maior administrador de recursos de terceiros, com
mais de R$ 20 bilhões de clientes
em nossos fundos de investimentos, e somos o segundo maior
"private bank" (administradores
de grandes patrimônios) do país".
Segundo Geoghegan, "tudo isso
foi alcançado ao mesmo tempo
em que os acionistas receberam
mais de 20% de retorno por ano".
Também a direção do BankBoston nega que esteja reduzindo
suas operações no país ou que
possa vir a fazer as malas.
"Estamos há 60 anos no país, temos um foco no mercado local,
que são os clientes de alta renda",
diz Alex Zornig, vice-presidente
de finanças do BankBoston.
Na sua opinião, a consolidação
em marcha no setor é semelhante
à que está ocorrendo no México.
"Só que lá os bancos não estavam
preparados para concorrer com
os estrangeiros e viraram caça. No
Brasil, os bancos estão mais preparados, são mais eficientes que
os demais da América Latina."
É por isso, segundo ele, que os
bancos nacionais "são caçadores,
e na posição de caça estão os bancos estrangeiros pequenos, sem
estratégica definida, e que não
têm a menor idéia do que é o Brasil", diz ele.
"Nós [do Boston" não somos
um bando de expatriados tentando atuar no mercado, temos uma
equipe de administradores que
conhece e entende o país", diz.
Segundo analistas, o problema
do Boston -que poderia determinar sua saída ou redução de tamanho no país- é a mentalidade
do seu controlador, o FleetBoston, que comprou o banco em
1999. O Fleet, um banco regional
norte-americano, quer crescer
nos EUA e, segundo tal análise,
não teria interesse em manter
operações na América Latina.
Tanto que decidiu encolher na
Argentina, e o próximo passo nessa direção seria o Brasil.
Para Zornig, esse tipo de análise
não tem fundamento. "O Boston
perdeu muito dinheiro na Argentina, mas não deixou o país, apenas reviu sua estratégia e deverá
deixar de atuar no varejo para tornar-se um banco de nicho como o
do Brasil", diz ele.
Além disso, "o Fleet não está
tendo problema de capitalização e
não tem necessidade premente de
vender ativos, como era o caso do
BBVA". Segundo o executivo, a
operação brasileira é a uma das
poucas unidades do FleetBoston
que projeta crescimento do lucro
para este ano.
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