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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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Para analistas, compras erradas prejudicaram instituições

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma sucessão de compras erradas e prejuízos estariam por trás da saída de bancos estrangeiros do país, na opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
"O BBVA, por exemplo, cometeu o erro de comprar o Excel Econômico sem fazer uma "due diligence" [auditoria nas contas" preliminar e sem a disposição de investir o dinheiro necessário para levantar o banco", diz Carlos Coradi, presidente da EFC -Engenheiros Financeiros & Consultores.
O resultado foi que, dois meses após fecharem o negócio, os espanhóis descobriram que os ativos do banco eram bem menores do que a avaliação inicial fornecida pelos antigos controladores.
Segundo Coradi, desde 1998, data da compra do Excel Econômico, "o BBVA injetou pelo menos US$ 1 bilhão para recompor o patrimônio líquido do banco, já que as perdas com operações de crédito do Excel eram pesadas".
Além disso, segundo o diretor de um grande banco local, houve ainda um "choque cultural" provocado pelas características próprias dos bancos de varejo locais: automação elevada e necessidade de se buscar ganhos de escala.
Mas o Excel Econômico era um banco defasado do ponto de vista tecnológico, o que exigia dos novos controladores pesado investimento em automação bancária.

Estilo
O estilo de gestão implantado por três diretorias sucessivas de expatriados da matriz também espantava o mercado. Na área de distribuição de fundos de investimento, por exemplo, os espanhóis entraram dando brindes -panelas, toalhas- aos investidores, simplesmente porque tal estratégia de marketing fora bem sucedida em outras bases da América Latina.
Já o Sudameris, à venda desde o ano passado quando foi negociado pelo Itaú, sem sucesso, também teria tropeçado já nos seus primeiros passos no país. "Os italianos compraram em 1998 o banco América do Sul, que carregava pesados financiamentos concedidos à cooperativa Agrícola de Cotia e não pagos, sem uma auditoria prévia", diz Coradi.
Segundo ele, no ano seguinte à compra daquele banco, o Sudameris perdeu o equivalente ao seu patrimônio líquido ao absorver os créditos podres do América do Sul. Além disso, tanto o BBVA quanto o Sudameris viram o valor dos seus ativos caírem a um terço do que eram na época da compra com a mudança da política cambial, que catapultou o dólar de US$ 1,10, em média, para os atuais R$ 3,38. (SANDRA BALBI)


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