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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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TRANSIÇÃO

Carlos Lessa, novo presidente da instituição, diz que projetos que ainda precisam de apoio devem ter prioridade

BNDES pode se desfazer de "investimentos maduros"

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Um dos desafios da nova administração do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) será dar um rumo às participações acionárias da BNDESPar, que conta com ações de 97 companhias. Segundo especialistas, muitos investimentos já estão "maduros" e o banco poderia começar a se desfazer deles.
Estimada em valores de mercado em R$ 13,2 bilhões pela consultoria Economática, em levantamento feito a pedido da Folha, a carteira da BNDESPar (empresa de participações do banco) tem ações de empresas de diversos setores e portes.
O presidente do BNDES, Carlos Lessa, disse em entrevista à Folha que a participação do banco de desenvolvimento em empresas terá duas missões simultâneas: fomentar o mercado de capitais e dar rentabilidade aos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), geridos pelo banco.
"O BNDES, com a grande massa de ações que possui, é uma instituição-chave para o mercado de capitais. É importante para o funcionamento desse mercado. E deve também ser o guardião da poupança institucional do trabalhador [os recursos do FAT". Para isso, deve ter ativos de qualidade. Uma coisa não exclui a outra", disse, acrescentando que precisa ainda conhecer melhor a situação da BNDESPar.
Sobre a escolha dos papéis que devem formar o portifólio, Lessa afirmou: "Não devemos estar preocupados com os [investimentos" que estão maduros, e sim com os que precisam de apoio".

Participações
Em muitos casos, o banco entrou como sócio em operações para estimular o lançamento de ações. Em outros, com o objetivo de socorrer companhias em dificuldade ou apenas fazer investimentos para dar rentabilidade aos recursos que administra.
Entre as maiores participações, em valor, estão três empresas saudáveis e que são destaque na Bovespa: Telemar, Petrobras e Eletrobrás.
Analistas de mercado ouvidos pela Folha, que preferiram não se identificar, dizem que não faz sentido para o banco manter esses papéis, pelo menos no nível atual. Isso porque há investidores de sobra para eles.
Em percentual, a maior posição da BNDESPar é em ações da empresa de máquinas e equipamentos agrícolas Iochpe-Maxion, da qual tem 40,7% das preferenciais.
Para o especialista em indústria Salomão Quadros, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o BNDES deveria sair ao máximo dessas participações, "deixando investidores privados aplicarem".
"O banco deve atuar nas falhas de mercado. Deve estar presente em setores pouco rentáveis e cujas companhias precisam de um empurrão." Citou os casos dos setores de energia, transporte, saneamento e infra-estrutura.
Para Quadros, os investimentos, mesmo em setores prioritários, têm de ser transitórios. "É esse o papel de um banco de desenvolvimento."
Na carteira do banco, há empresas com o perfil apontado por Quadros. São os casos da distribuidora de energia Copel, da Inepar Energia e da CEG (concessionária de gás no Rio), entre outras.
Também estão no portifólio companhias em dificuldades, que passam por processo de reestruturação de dívidas. São exemplos a própria Inepar e a Net (ex-Globo Cabo) -nesta, o BNDES aumentou sua participação de 8,9% para 22%, no ano passado, com o objetivo de capitalizar a companhia.

Foco
Dois setores parecem ser focos da BNDESPar, ao menos se considerado o número de empresas listadas: telefonia e papel e celulose.
Exportadoras, as maiores companhias de papel e celulose do país têm como acionista o BNDES. Entre elas, Klabin (20,71%), Aracruz (10,09%), Suzano (12,61%) e VCP (15,13%) -a última é do grupo Votorantim. Por causa da sua importância no comércio exterior, Lessa considera o segmento estratégico.
Na telefonia, a razão para a alta concentração é o fato de o BNDES ter participado como minoritário de vários consórcios que disputaram o leilão de privatização. O objetivo era viabilizar a venda das antigas estatais.
Além dos 25% que possui na Telemar, o BNDES está no capital da Brasil Telecom (4,06%), da Embratel (7,12%) e de várias empresas de telefonia celular. Também é sócio da ex-estatal Embraer (8,48%).
O vice-presidente do BNDES, Darc da Luz Costa, afirmou na sexta-feira que a diretoria faria alterações no setor de telecomunicações. Não quis dizer, porém, o que o banco faria com sua participação na Telemar.


Colaborou ANTÔNIO GOIS, da Sucursal do Rio


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