|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSIÇÃO
Carlos Lessa, novo presidente da instituição, diz que projetos que ainda precisam de apoio devem ter prioridade
BNDES pode se desfazer de "investimentos maduros"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos desafios da nova administração do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) será dar um rumo às participações acionárias da
BNDESPar, que conta com ações
de 97 companhias. Segundo especialistas, muitos investimentos já
estão "maduros" e o banco poderia começar a se desfazer deles.
Estimada em valores de mercado em R$ 13,2 bilhões pela consultoria Economática, em levantamento feito a pedido da Folha, a
carteira da BNDESPar (empresa
de participações do banco) tem
ações de empresas de diversos setores e portes.
O presidente do BNDES, Carlos
Lessa, disse em entrevista à Folha
que a participação do banco de
desenvolvimento em empresas
terá duas missões simultâneas: fomentar o mercado de capitais e
dar rentabilidade aos recursos do
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), geridos pelo banco.
"O BNDES, com a grande massa
de ações que possui, é uma instituição-chave para o mercado de
capitais. É importante para o funcionamento desse mercado. E deve também ser o guardião da poupança institucional do trabalhador [os recursos do FAT". Para isso, deve ter ativos de qualidade.
Uma coisa não exclui a outra",
disse, acrescentando que precisa
ainda conhecer melhor a situação
da BNDESPar.
Sobre a escolha dos papéis que
devem formar o portifólio, Lessa
afirmou: "Não devemos estar
preocupados com os [investimentos" que estão maduros, e sim
com os que precisam de apoio".
Participações
Em muitos casos, o banco entrou como sócio em operações
para estimular o lançamento de
ações. Em outros, com o objetivo
de socorrer companhias em dificuldade ou apenas fazer investimentos para dar rentabilidade
aos recursos que administra.
Entre as maiores participações,
em valor, estão três empresas saudáveis e que são destaque na Bovespa: Telemar, Petrobras e Eletrobrás.
Analistas de mercado ouvidos
pela Folha, que preferiram não se
identificar, dizem que não faz sentido para o banco manter esses
papéis, pelo menos no nível atual.
Isso porque há investidores de sobra para eles.
Em percentual, a maior posição
da BNDESPar é em ações da empresa de máquinas e equipamentos agrícolas Iochpe-Maxion, da
qual tem 40,7% das preferenciais.
Para o especialista em indústria
Salomão Quadros, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o BNDES
deveria sair ao máximo dessas
participações, "deixando investidores privados aplicarem".
"O banco deve atuar nas falhas
de mercado. Deve estar presente
em setores pouco rentáveis e cujas
companhias precisam de um empurrão." Citou os casos dos setores de energia, transporte, saneamento e infra-estrutura.
Para Quadros, os investimentos, mesmo em setores prioritários, têm de ser transitórios. "É esse o papel de um banco de desenvolvimento."
Na carteira do banco, há empresas com o perfil apontado por
Quadros. São os casos da distribuidora de energia Copel, da Inepar Energia e da CEG (concessionária de gás no Rio), entre outras.
Também estão no portifólio
companhias em dificuldades, que
passam por processo de reestruturação de dívidas. São exemplos
a própria Inepar e a Net (ex-Globo Cabo) -nesta, o BNDES aumentou sua participação de 8,9%
para 22%, no ano passado, com o
objetivo de capitalizar a companhia.
Foco
Dois setores parecem ser focos
da BNDESPar, ao menos se considerado o número de empresas listadas: telefonia e papel e celulose.
Exportadoras, as maiores companhias de papel e celulose do
país têm como acionista o
BNDES. Entre elas, Klabin
(20,71%), Aracruz (10,09%), Suzano (12,61%) e VCP (15,13%) -a
última é do grupo Votorantim.
Por causa da sua importância no
comércio exterior, Lessa considera o segmento estratégico.
Na telefonia, a razão para a alta
concentração é o fato de o BNDES
ter participado como minoritário
de vários consórcios que disputaram o leilão de privatização. O objetivo era viabilizar a venda das
antigas estatais.
Além dos 25% que possui na
Telemar, o BNDES está no capital
da Brasil Telecom (4,06%), da
Embratel (7,12%) e de várias empresas de telefonia celular. Também é sócio da ex-estatal Embraer
(8,48%).
O vice-presidente do BNDES,
Darc da Luz Costa, afirmou na
sexta-feira que a diretoria faria alterações no setor de telecomunicações. Não quis dizer, porém, o
que o banco faria com sua participação na Telemar.
Colaborou ANTÔNIO GOIS, da Sucursal
do Rio
Texto Anterior: Concentração no sistema bancário vai prosseguir Próximo Texto: FOLHAINVEST Mercado Financeiro: Copom e guerra devem dominar a semana Índice
|