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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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QUEDA-DE-BRAÇO

Apesar dos reajustes e do dólar mais barato, fabricantes dizem que ainda há pressões de custos a repassar

Indústria prevê mais aumentos de preços

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o dólar dispara, os preços sobem. Quando a cotação da moeda cai, porém, nada muda. Pelo contrário: outros reajustes devem vir. Empresários ligados à área de bens de consumo durável (como celulares e TVs) confirmam que não há expectativa de queda de preço no varejo. Isso mesmo com as indústrias importando matéria-prima a preços mais baratos devido à recente valorização do real frente ao dólar.
Redes de varejo já solicitaram tabelas sem reajustes, como a Lojas Cem, com mais de 80 pontos no país. O pedido foi rejeitado. Fabricantes alegam que ainda têm algumas pressões nos custos a serem repassadas aos preços. E a retração na demanda interna não deve inibir novos repasses.
"As coisas não funcionam dessa maneira. Mesmo pagando mais barato pelos insumos, nós ainda temos que repassar 20% de aumento que não foi possível em 2002, no período da disparada da cotação do dólar", diz Paulo Saab, presidente da Eletros, entidade que representa empresas como Semp Toshiba, Arno e Philco.
Na semana passada, a moeda sofreu alguns repiques, mas o valor ainda está bem abaixo do registrado no último trimestre de 2002. Desde o dia 31 de dezembro até a sexta-feira (17), o dólar passou de R$ 3,54 para 3,38, uma queda de 4,5%. Toda vez que uma empresa do setor de bens de consumo compra matéria-prima, o valor pago pelo insumo varia de acordo com a cotação no dia.
Tanto que há empresas que aguardaram a queda na taxa para decidir desembaraçar os lotes comprados da Ásia que chegam pelos portos do país, segundo a Folha apurou com a superintendência do Porto de Santos.
Além do pagamento dos produtos, as empresas ainda precisam pagar os impostos de importação, que também variam de acordo com o valor do dólar no dia, informa Ernani Brune, da área de telefonia da Siemens.
Os ganhos com a operação realizada nesses períodos de dólar mais baixo ajudam a dar fôlego às companhias do setor, que "carregam" baixo nível de "hedge" cambial -operação financeira que garante às empresas proteção contra desvalorização do real.
Entretanto, o nível de "hedge" contratado no mercado pelas empresas não cresce há meses. A constatação é dos próprios bancos, que intermediam a operação.

Sem esperanças
O consumidor que contava com a redução nos preços neste momento de menor pressão do dólar teria ainda outro motivo para acreditar nisso.
Na prática, desde o último trimestre do ano passado, algumas empresas da área de bens duráveis fecharam contratos de compra de insumos com base no dólar a ser praticado dentro de 30 a 60 dias. Ou seja, agora elas podem quitar a fatura com a cotação atual, mais baixa do que a praticada há dois meses.
Isso dá um fôlego ao caixa e reduz pressões nos custos de produção da empresa. Logo, não seria preciso praticar aumentos agora.
Mas a questão -rebatem os fabricantes- é que nem tudo se resume ao dólar. "Estamos carregando inflação elevada que não é repassada há tempos", diz Saab, da Eletros. Nos últimos doze meses, os aparelhos de imagem e som subiram 4,80%, um reajuste inferior à alta da inflação, que atingiu no período 9,90%.
Apenas o aparelho de TV, chamariz de vendas ao lado do DVD, tem subido de preço há cinco meses consecutivos, desde agosto. A elevação não deve parar. Em meados do ano passado, após a escalada do dólar iniciada em maio de 2002, os fabricantes propuseram reajustes de 30%.
"Aumentamos um pouco a cada mês, mas não há muita razão para alta agora. O dólar caiu em relação ao mês de dezembro. O que a gente quer é redução", diz Valdemir Coleone, superintendente da Lojas Cem.
O que poderia impedir o aumentos de preços é a demanda. Mas esse fator não convence os fabricantes. Consumo em queda -no Natal as vendas foram só 3,5% superiores às do Natal de 2001, quando a queda foi de 10%- é um fator que impede aumento de preços somente até certo ponto.
"Se as empresas acumulam margens de lucro muito apertadas, chega uma hora em que elas precisam recompor margem", afirma Brune.


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