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QUEDA-DE-BRAÇO
Apesar dos reajustes e do dólar mais barato, fabricantes dizem que ainda há pressões de custos a repassar
Indústria prevê mais aumentos de preços
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o dólar dispara, os preços sobem. Quando a cotação da
moeda cai, porém, nada muda.
Pelo contrário: outros reajustes
devem vir. Empresários ligados à
área de bens de consumo durável
(como celulares e TVs) confirmam que não há expectativa de
queda de preço no varejo. Isso
mesmo com as indústrias importando matéria-prima a preços
mais baratos devido à recente valorização do real frente ao dólar.
Redes de varejo já solicitaram
tabelas sem reajustes, como a Lojas Cem, com mais de 80 pontos
no país. O pedido foi rejeitado.
Fabricantes alegam que ainda têm
algumas pressões nos custos a serem repassadas aos preços. E a retração na demanda interna não
deve inibir novos repasses.
"As coisas não funcionam dessa
maneira. Mesmo pagando mais
barato pelos insumos, nós ainda
temos que repassar 20% de aumento que não foi possível em
2002, no período da disparada da
cotação do dólar", diz Paulo Saab,
presidente da Eletros, entidade
que representa empresas como
Semp Toshiba, Arno e Philco.
Na semana passada, a moeda
sofreu alguns repiques, mas o valor ainda está bem abaixo do registrado no último trimestre de
2002. Desde o dia 31 de dezembro
até a sexta-feira (17), o dólar passou de R$ 3,54 para 3,38, uma
queda de 4,5%. Toda vez que uma
empresa do setor de bens de consumo compra matéria-prima, o
valor pago pelo insumo varia de
acordo com a cotação no dia.
Tanto que há empresas que
aguardaram a queda na taxa para
decidir desembaraçar os lotes
comprados da Ásia que chegam
pelos portos do país, segundo a
Folha apurou com a superintendência do Porto de Santos.
Além do pagamento dos produtos, as empresas ainda precisam
pagar os impostos de importação,
que também variam de acordo
com o valor do dólar no dia, informa Ernani Brune, da área de telefonia da Siemens.
Os ganhos com a operação realizada nesses períodos de dólar
mais baixo ajudam a dar fôlego às
companhias do setor, que "carregam" baixo nível de "hedge" cambial -operação financeira que
garante às empresas proteção
contra desvalorização do real.
Entretanto, o nível de "hedge"
contratado no mercado pelas empresas não cresce há meses. A
constatação é dos próprios bancos, que intermediam a operação.
Sem esperanças
O consumidor que contava com
a redução nos preços neste momento de menor pressão do dólar
teria ainda outro motivo para
acreditar nisso.
Na prática, desde o último trimestre do ano passado, algumas
empresas da área de bens duráveis fecharam contratos de compra de insumos com base no dólar
a ser praticado dentro de 30 a 60
dias. Ou seja, agora elas podem
quitar a fatura com a cotação
atual, mais baixa do que a praticada há dois meses.
Isso dá um fôlego ao caixa e reduz pressões nos custos de produção da empresa. Logo, não seria
preciso praticar aumentos agora.
Mas a questão -rebatem os fabricantes- é que nem tudo se resume ao dólar. "Estamos carregando inflação elevada que não é
repassada há tempos", diz Saab,
da Eletros. Nos últimos doze meses, os aparelhos de imagem e
som subiram 4,80%, um reajuste
inferior à alta da inflação, que
atingiu no período 9,90%.
Apenas o aparelho de TV, chamariz de vendas ao lado do DVD,
tem subido de preço há cinco meses consecutivos, desde agosto. A
elevação não deve parar. Em meados do ano passado, após a escalada do dólar iniciada em maio de
2002, os fabricantes propuseram
reajustes de 30%.
"Aumentamos um pouco a cada mês, mas não há muita razão
para alta agora. O dólar caiu em
relação ao mês de dezembro. O
que a gente quer é redução", diz
Valdemir Coleone, superintendente da Lojas Cem.
O que poderia impedir o aumentos de preços é a demanda.
Mas esse fator não convence os fabricantes. Consumo em queda
-no Natal as vendas foram só
3,5% superiores às do Natal de
2001, quando a queda foi de
10%- é um fator que impede aumento de preços somente até certo ponto.
"Se as empresas acumulam
margens de lucro muito apertadas, chega uma hora em que elas
precisam recompor margem",
afirma Brune.
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