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OPINIÃO ECONÔMICA
Para onde vamos
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A crise política que estamos
vivendo adicionou uma dose nova de incertezas sobre a economia brasileira. O ambiente de
otimismo que prevalecia no encerramento do ano de 2003 e no
início de 2004 começou a mudar
com a decisão desastrada tomada na reunião do Copom de janeiro passado. A interrupção na
queda dos juros Selic foi entendida, por parte do mercado, como
uma ameaça à retomada do
crescimento econômico neste segundo ano do mandato do presidente Lula. Até as pedras sabem
que a falta de melhora significativa nos níveis de emprego e renda neste ano vai gerar uma crise
política no Brasil.
A manutenção da taxa Selic na
reunião de fevereiro, decisão inevitável devido à ata da reunião
de janeiro, vai contribuir para
aumentar ainda mais as incertezas sobre essa questão. Os índices
de crescimento industrial no último mês de dezembro já apontam
para uma nova estagnação, embora em um nível 3,5% superior
ao que prevaleceu em 2003. Os
dados relativos a janeiro, que serão divulgados pelo IBGE no início de março, nos darão uma visão mais segura sobre esse engasgo.
Nesse cenário de dúvidas, agravado pelo aumento significativo
do chamado risco Brasil que
ocorreu no fim de janeiro, a crise
envolvendo o ministro José Dirceu caiu como uma verdadeira
bomba. O enfraquecimento político do governo Lula e o aumento
do peso dos partidos não ideológicos -principalmente do
PMDB- na sua sustentação podem ter efeitos terríveis sobre a
condução da política econômica
do ministro Palocci.
Não concordo com a idéia que
domina o mercado de que as dificuldades do ministro José Dirceu
representam um aumento do poder de seu "darling" que ocupa o
Ministério da Fazenda. Essa é
uma leitura política superficial e
"naive". Aliás, a capacidade do
mercado financeiro em entender
a política no Brasil é lamentável.
Os analistas confundem a racionalidade da política econômica
dos últimos dez anos -racionalidade de país anglo-saxão-
com a dinâmica política de um
sistema dominado ainda por políticos populistas e na sua grande
maioria ligados ao Brasil atrasado com o qual ainda convivemos.
Posso falar sobre essa forma
pueril de ler os acontecimentos
políticos, pois fui no passado
-no início dos anos 90- vítima
dela. Na crise do governo Collor,
embarquei nesse tipo de análise
superficial e não consegui entender as repercussões que uma crise
política, envolvendo a Presidência da República, podem gerar
na economia brasileira. Paguei
alto preço por isso -como a
maioria de meus colegas podem
estar fazendo hoje-, mas aprendi a respeitar os riscos de uma situação como a que estamos vivendo!
Vejo três cenários possíveis para as próximas semanas. No primeiro, que chamarei de otimista,
o governo e seus aliados conseguem limitar as denúncias contra o assessor do ministro José
Dirceu e isolar o Palácio do Planalto do escândalo. Nesse caso, é
bastante provável que a CPI no
Senado não se viabilize e, dificilmente, serão investigadas as evidências de que havia um esquema institucional de captação de
recursos para o PT com os chamados empresários do jogo. Nessa hipótese, a crise atual se esgotaria e o governo voltaria a ter
condições políticas de levar
adiante sua agenda.
No segundo cenário, que chamaria de pessimista moderado,
novas evidências da relação institucional do assessor de José Dirceu com a comunidade dos bicheiros e bingueiros apareceriam
na imprensa e no trabalho dos
procuradores federais. Nesse caso,
a criação de uma CPI seria quase
certa e a batalha do governo se
deslocaria para o sonho impossível de controlá-la por meio do PT
e de seus partidos aliados. A crise
política ficaria entre nós por um
tempo longo e o mercado passaria
a viver as incertezas associadas a
essa situação, com um grande aumento na volatilidade dos negócios. Além disto, certamente teríamos efeitos negativos sobre o crescimento econômico, o que aumentaria a tensão do ambiente
político por conta do adiamento
do chamado "espetáculo do crescimento".
Vejo ainda a possibilidade de
ocorrer um terceiro cenário, de
gravidade e conseqüências ainda
maiores do que os dois anteriores.
Isso pode ocorrer se forem confirmados os boatos de que apareceriam na imprensa revelações novas e dramáticas sobre o chamado caso Santo André. A abertura
de uma segunda frente de desgaste para o governo Lula seria um
verdadeiro desastre para a governabilidade do país e a crise atual
tomaria outra dimensão. Não
consigo visualizar neste momento
o que poderia ocorrer nessa hipótese. Vamos torcer para que ela
não ocorra!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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