São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Abin investiga segurança da Petrobras

Agência deve recomendar mudança nos procedimentos da estatal, vistos no Planalto como muito frágeis

VALDO CRUZ
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além do inquérito da Polícia Federal, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) fará uma investigação paralela sobre os procedimentos de segurança da Petrobras e buscará identificar instituições -empresas ou governos- que poderiam ter interesse nos dados sigilosos furtados da estatal.
Ao final dos seus trabalhos, a Abin irá fazer recomendações ao presidente Lula e à Petrobras sobre mudanças no sistema de segurança da empresa para proteger dados estratégicos considerados segredos de Estado pelo governo.
A estratégia das duas investigações foi definida em reunião anteontem em Brasília na sede da Abin, convocada pelos ministros Tarso Genro (Justiça) e Jorge Armando Félix (Gabinete de Segurança Institucional).
O primeiro é responsável pela PF. O segundo, pela Abin.
Na avaliação do Palácio do Planalto, o esquema de segurança da estatal se mostrou "totalmente frágil" e precisa ser revisto para evitar furtos como o dos computadores e discos rígidos com dados sigilosos.
A equipe de Lula continua tratando o furto como um caso de espionagem industrial, que pode envolver quadrilhas especializadas em vender dados sigilosos a empresas ou a governos estrangeiros.
A PF também trabalha como linha principal de investigação a espionagem industrial, apesar de não descartar a hipótese de crime comum. Mas, nas palavras de um agente envolvido no inquérito, seria "fatalidade demais ser um furto banal".
Até o momento, as características do crime apontam que não teria sido obra de apenas uma pessoa, mas possivelmente de uma quadrilha, especializada em fazer furtos por encomenda. A PF está cruzando informações de uma outra investigação feita pelo órgão no ano passado, chamada de Águas Profundas, que investigou funcionários da estatal por venda de informações.
Agentes do órgão avaliam ainda que os indícios recolhidos inicialmente apontando para um crime comum podem ter sido uma "simulação".
Ontem, depois de participar de uma teleconferência, o ministro Tarso Genro disse que o furto é "seguramente uma questão de Estado" independentemente se foi crime comum ou espionagem. "Mesmo que tenha sido um delito comum, alguém apropriou-se de material reservado, o que não diminui a gravidade", afirmou.
Em seguida, o ministro comentou que, "se foi uma conspiração de quadrilha para obter dados do Estado, também tem gravidade. Em qualquer hipótese, é sim uma questão de segurança do Estado". Tarso Genro também questionou o esquema de segurança da estatal ao falar da possibilidade de o caso ser um crime comum. "Um material desse tipo não poderia estar exposto a um delito feito por amadores."
Até agora a Petrobras não detalhou o que de fato havia nos equipamentos furtados em um escritório/contêiner utilizado pela Halliburton, empresa contratada pela estatal.
No governo, há apenas a confirmação de que estavam armazenados "dados estratégicos de grande interesse do país", sem especificar se eram informações dos campos Tupi e Júpiter, grandes reservas de petróleo recentemente descobertas.


Colaborou JOHANNA NUBLAT, da Sucursal de Brasília

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