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INSTABILIDADE
Euforia com mercados de países em desenvolvimento pode estar chegando ao fim, após contágio do resultado fraco da GM
Petróleo e juro dos EUA ameaçam emergentes
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
A mais recente fase de euforia
dos investidores com mercados
emergentes pode ter chegado ao
fim. Isso não deve trazer pânico e
crise financeira, mas tem significado uma correção nos preços de
títulos e ações, que vêm sendo alvo de vendas, provocadas por um
menor apetite por risco.
Instituições estrangeiras não estão pessimistas, mas já sugerem
aos investidores cuidado quando
o assunto são determinadas apostas em mercados emergentes. O
Goldman Sachs, por exemplo,
afirmou em relatório divulgado
na semana passada que o real poderá voltar a se valorizar no Brasil
-o câmbio comercial fechou a
R$ 2,72 anteontem, depois de
atingir cotação inferior a R$ 2,60
nas semanas anteriores. Mas o
banco americano diz que é recomendável cautela maior nesse tipo de aposta de agora em diante e
sugere o uso de instrumentos financeiros que oferecem proteção
(as chamadas opções).
A intensidade do problema para
mercados emergentes, daqui para
a frente, dependerá principalmente, de acordo com especialistas, do que ocorrerá com os preços do petróleo, que voltaram a
atingir picos, e as taxas de juros
nos Estados Unidos, que também
subiram bastante nas últimas
duas semanas.
A essas duas tendências se somou um anúncio feito pela General Motors, na última terça-feira,
de que amargara prejuízo no primeiro trimestre de 2005. Esse foi o
fato principal que detonou o movimento de vendas de ativos de
países emergentes.
A GM tem uma dívida no mercado estimada em US$ 300 bilhões e já vinha havia algum tempo com desempenho econômico
ruim. Com a notícia de que, além
de tudo, teria prejuízo, investidores começaram a se preparar para
a possibilidade de que a empresa
passe a ser classificada, em breve,
como ativo de alto risco -tal como os mercados emergentes- e
saíram à venda de suas ações.
Contágio
O problema é o chamado contágio. Embora a GM seja uma empresa, o movimento antecipado
de reorganização de portfólios
dos investimentos e a maior aversão a risco levaram também a
vendas de papéis de mercados
emergentes, como o Brasil.
"O movimento de venda no
mercado corporativo de "high
yields" (alto risco) contaminou o
de mercados emergentes, embora
os fundamentos dos dois sejam
completamente diferentes", disse
Jan Randolph, chefe do departamento de risco soberano da consultoria Global Insight.
Os preços sentiram o golpe. O
risco-país dos mercados emergentes como um todo fechou a
363 pontos na última sexta-feira,
mais de 10% acima do nível inferior a 330 pontos atingido há pouco mais de uma semana. No caso
do Brasil, esse risco passou de 365
para 428 pontos no mesmo período, uma alta de 17,2%.
A forte oscilação nos preços de
todos os ativos, como a cotação
do real, levou o governo brasileiro
a cancelar um leilão semanal de
dívida em contratos de swap na
última semana.
Segundo dados da consultoria
AMG Data, braço da Merrill
Lynch, os fundos dedicados a países emergentes registraram, nos
sete dias encerrados em 16 de
março, sua primeira captação líquida negativa (mais saques do
que novos investimentos) desde a
penúltima semana de janeiro deste ano. O volume foi pequeno,
apenas US$ 1,2 milhão, mas pode
significar uma inversão de tendência, até porque os chamados
fundos "high yields" vêm sofrendo saídas líquidas há cinco semanas. E, segundo Christopher Garman, da Merrill Lynch, há correlação entre essas classes de fundos.
Juros nos EUA
Garman diz que os saques dos
fundos de maior risco têm sido
associados, principalmente, à elevação da taxa de juros futuros nos
EUA -que reflete a expectativa
de que o aperto monetário promovido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) vai continuar. Nas últimas
duas semanas, as taxas praticadas
dos títulos de dez anos norte-americanos subiram de pouco
menos de 4% para 4,5%.
Um dos principais fatores é o temor de que a disparada nos preços de petróleo -que voltaram a
um patamar superior a US$ 55-
possa ter impacto negativo sobre
a inflação dos EUA, fazendo o
preço dos combustíveis subir.
Maior inflação nos EUA pode
significar um movimento mais
brusco de aumento de juros no
país, o que seria uma notícia bem
pior que o anúncio da GM para
mercados emergentes.
"Tudo vai depender do mercado de títulos norte-americano. Se
as taxas de dez anos se estabilizarem em torno de 4,5%, a recente
crise [nos mercados emergentes]
passará rápido. Se a taxa subir
mais e rapidamente, aí poderemos ver um forte movimento de
venda, provocando uma correção
muito forte de preços", afirma Peter West, economista-chefe da
Poalim Asset Management.
Randolph, da GlobalInsight,
acredita que as cotações dos ativos de mercados emergentes estejam passando por uma correção
que não deverá ser brusca, principalmente porque os fundamentos
econômicos de países como o
Brasil vêm melhorando bastante.
Mas, segundo ele, uma correção
era inevitável porque os preços
dos títulos das dívidas externas
desses países haviam atingido níveis historicamente muito baixos
e insustentáveis. Agora, com a
tendência de que a liquidez global
diminua, puxada por juros maiores nos EUA, a expectativa é que
esses preços caiam mesmo.
A conseqüência disso é que governo e empresas de nações
emergentes passarão a pagar mais
caro se quiserem financiamento
externo. Por isso, Randolph acredita que o ideal para o Brasil seria
renovar o acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional), que vence no fim deste mês.
"Isso seria bom para reforçar a
confiança dos mercados. Nunca
sabemos o que nos aguarda na esquina", diz ele.
Nesse contexto, há investidores
como Mohamed El-Erian, da
Pimco (Pacific Investment Management Co), que administra US$
20 bilhões em dívidas de mercados emergentes, que afirmam terem aproveitado os preços mais
baixos para aumentar sua exposição a países como o Brasil. El-Erian disse à Folha que as vendas
da semana passada foram provocadas, principalmente, por fuga
de investidores de curto prazo:
"De forma geral, parece que os
investidores de longo prazo não
venderam. E, no nosso caso, vamos aproveitar o movimento de
venda para aumentar nossos ativos de Brasil e de outros créditos
com fortes fundamentos", disse.
Na opinião dele, a tendência é
que os efeitos da última semana
sejam revertidos em breve. Mas a
maior parte dos analistas não
acredita que os preços de ativos
de emergentes se recuperem a
ponto de voltar para os melhores
níveis históricos que chegaram a
alcançar nos últimos meses.
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