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AUDITORIA
Em 2004, empresa cresceu 30% e já é a 3ª no ranking; para concorrentes, força vem da proximidade com o poder
Após apoiar PT, Trevisan ganha mercado
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde 2003, quando os petistas
chegaram ao governo, a Trevisan
aumentou em ritmo acelerado o
número de contratos e o porte das
empresas que atende.
No ano passado a auditoria
cresceu 30%, provocando críticas
dos concorrentes. Para eles, o sucesso da Trevisan é, em boa medida, resultado da proximidade de
Antoninho Marmo Trevisan com
os poderosos do PT.
"A força da Trevisan é a força
política", afirmou à Folha o diretor da área de finanças estruturadas da KPMG, Maurício Endo,
responsável pela área de PPPs no
Brasil. "Por enquanto, sentimos
isso principalmente na área de
fundos [de pensão]. Até fizemos
um ponto de interrogação: o que
será que a Trevisan tem que nós
não temos? Temos tamanho e experiência internacionais", complementou o executivo.
Empresas de menor porte concordam. "A Trevisan é praticamente governo, agora", reforçou
Marcelo Tommasi, sócio da Terco, atual sócia da Grant Thornton
International. Esta última foi parceira da Trevisan por 11 anos, até
outubro de 2004, quando a brasileira se uniu à BDO. Outros auditores ouvidos pela Folha fizeram
eco a Endo e a Tommasi, sob condição de anonimato.
"Eles que vão trabalhar", reagiu
Antoninho Marmo Trevisan, na
primeira vez em que falou com a
Folha sobre as acusações. "Estamos crescendo, sim, e vamos
crescer mais. Que tomem cuidado." (Leia entrevista abaixo.)
Os números da área são nebulosos, mas a Trevisan é considerada
pela maioria dos especialistas como a quinta colocada na grade
nacional.
Perde para as estrangeiras Deloitte, PricewaterhouseCoopers,
KPMG e Ernst & Young. Juntas,
são as "Big Four" -as "grandes"
no mercado global, com receita
superior a US$ 10 bilhões por ano,
cerca de R$ 27 bilhões.
No ano passado, o faturamento
estimado da Trevisan foi de cerca
de R$ 100 milhões. A BDO, parceira internacional da Trevisan, faturou, no mundo, US$ 2,7 bilhões
(cerca de R$ 7,3 bilhões) no ano
fiscal encerrado em setembro de
2003. É a quinta do ranking geral.
Fermento
A Trevisan é a primeira a reconhecer o salto considerável dado
por seus resultados nos últimos
tempos. No ano passado, abocanhou o terceiro lugar na grade de
auditorias da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários).
A lista, relativa a 30 de setembro
de 2004, contempla só empresas
com ações negociadas em Bolsa.
A Trevisan deixou para trás a
KPMG e a Ernst & Young, respectivamente, quarta e quinta colocadas no ranking. A liderança coube
à Deloitte, seguida da Price.
"Nosso objetivo é passar ao segundo lugar em 2005", adianta
Carlos Eduardo Assman, diretor
da Trevisan. Nos cálculos dele, o
crescimento do grupo bateu 30%
em 2004. A esperança é aumentar
mais 30% em 2005.
De acordo com Assman, a Trevisan contrata, em média, quatro
auditores por semana, além de
um contador e um tributarista.
O diretor informa que, para dar
vazão a todo o incremento, o escritório de Porto Alegre dobrou
de tamanho, assim como o de Curitiba. Em Florianópolis, a auditoria saiu do zero e hoje conta com
dez pessoas. Na cidade de Belo
Horizonte, a Trevisan livrou-se da
sócia local. Mas nada se compara
a Salvador e Recife -o crescimento foi de 300% em quatro meses, disse Assman.
Campo Grande, Cuiabá e Goiânia compõem a regional Centro-Oeste. Por lá, são filiais ainda incipientes. A meta é incrementá-las,
assim como os escritórios de Manaus e de Belém.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os dois maiores escritórios, há
falta de espaço para abrigar os
funcionários.
A receita de tamanho sucesso,
na avaliação de Assman, é que escândalos contábeis internacionais
mostraram a necessidade de auditorias sérias. O diretor pondera
que a Trevisan não está submetida à matriz internacional, o que
permite à brasileira preços mais
competitivos.
Companheiros
A gênese das acusações contra a
Trevisan está no extenso círculo
de amizades de seu dono. Antoninho Marmo Trevisan foi um dos
primeiros empresários renomados do país a apoiar o PT. Ele ajudou a escrever o programa de governo do partido e opinou na
transição de governo. Desde 2002,
é tido como um dos empresários
"ministeriáveis".
Trevisan também é próximo ao
vice-presidente da República e
ministro da Defesa, José Alencar.
Em 21 de fevereiro, o vice foi convidado para ser patrono na graduação de uma turma da Faculdade Trevisan. Não pôde ir. Estava ocupado com as negociações
da Varig, empresa da qual a Trevisan é auditora e consultora, por
conta de uma liminar judicial.
A saída de Alencar foi pedir ao
filho, Josué Gomes da Silva, presidente e controlador da Coteminas, para representá-lo. Lá pelas
tantas, o celular de Silva tocou e o
vice discursou pelo telefone.
O empresário também é tratado
com deferência pelo presidente
do PT, José Genoino, e o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, entre outras estrelas do PT.
O presidente do BNDES, Guido
Mantega, o considera um dos auditores mais eficientes do país. O
banco nega contratos com a Trevisan.
Contratos
A maioria dos contratos da Trevisan, segundo a empresa, está no
setor de serviços (36% do total).
Indústria aparece na segunda colocação (23%), seguida da área financeira (15%), terceiro setor
(14%) e agronegócios (7%). O governo está no fim da lista, com
meros 5%.
À Folha, e por escrito, a Trevisan negou possuir contratos vigentes -nas áreas de auditoria,
consultoria ou prestação de serviços- com empresas controladas
pela União.
Não é o que dizem o Banco do
Brasil e a Cobra Tecnologia. Com
o BB, desde janeiro de 2004 vigora
um contrato que permite à Trevisan prestar serviços às regionais
Sul e Sudeste, inclusive a capital
de São Paulo.
O documento, segundo a assessoria do BB, prevê a terceirização
de serviços e permite a contratação de mil terceirizados para dar
apoio aos servidores concursados
nas agências da instituição. Por isso, na região central de São Paulo
é possível encontrar pessoas com
crachá da Trevisan nas agências
do BB ensinado clientes a operar
caixas eletrônicos ou indicando a
fila apropriada que devem pegar.
O Banco do Brasil garante que a
escolha da Trevisan foi feita por
meio de licitação.
A Petrobras também contraria a
versão da Trevisan ao informar
que há, sim, um contrato de consultoria tributária entre elas.
O trato foi oficializado em 30 de
julho de 2004, pelo período de um
ano, no valor de R$ 1,6 milhão. O
objetivo é aconselhar a Petrobras
sobre meios de diminuir o passivo previdenciário acumulado pela petrolífera.
Dois outros contratos, no valor
total de R$ 1,1 milhão, expiraram.
Um deles foi assinado sem tomada de preços no mercado. Mas, de
acordo com a Petrobras, atendeu
ao decreto-lei 2.745/88, que trata
das regras para procedimentos
simplificados da estatal. O outro
derivou de licitação.
À Folha a Trevisan também negou relação oficial com fundos de
pensão estatais de grande porte
-Previ (Banco do Brasil), Funcef
(Caixa Econômica Federal) e Petros (Petrobras). As exceções, diz
a empresa, ficam por conta da Paranapanema e do Sauípe, investimentos onde a Previ participa.
Procurado, o fundo de pensão
do BB afirmou que não faz parte
de sua política administrativa dar
informações à imprensa sobre a
gestão das empresas nas quais
participa. O mesmo fez a Funcef.
A Folha, contudo, apurou que a
Trevisan tem opinado na gestão
de empresas ferroviárias ligadas à
Previ e à Funcef. A auditoria teria
sido chamada para olhar com lupa as contas da Brasil Ferrovias,
ao lado da Angra Partners, por
suspeita de má gestão dos recursos ao longo de vários anos.
Petros, da Petrobras, informou
que a empresa é responsável pela
auditoria externa contábil da entidade desde abril de 2004.
A Trevisan audita também a
Bovespa, a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo) e a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas).
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