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UMA JANELA PARA O MUNDO
Trava do crescimento
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
Já comentamos aqui a baixa taxa de crescimento da
economia no ano passado. O
PIB cresceu apenas 2,9%, ficando muito abaixo do desejável para um país que tem
condições estruturais para
crescer de 6% a 7% ao ano.
A crítica à política econômica em curso é que criou um
beco sem saída. Para manter
a inflação baixa, tem utilizado uma taxa de câmbio defasada e necessita escorá-la
com uma política de juros
reais elevados. Assim, o crescimento é baixo; e se fosse
mais alto teria que ser contido, pois aumentaria o déficit
em conta corrente. Infelizmente, o agravamento desse
déficit deve levar o governo a
conter o crédito ainda neste
semestre para arrefecer o
crescimento.
Mais complicado é que o
governo está adotando uma
compreensão sequencial estática do crescimento. A área
econômica diz que não dá
para crescer mais, pois falta
poupança interna. Dentro
dessa visão, primeiro seria
necessário aprovar as reformas constitucionais para
controlar o déficit público.
Em um segundo momento,
entraria em vigor a reforma
da Previdência, que permitiria aumentar a poupança interna. E, na terceira etapa,
após 2002, o país poderia voltar a crescer acima de 6% ao
ano.
Esse raciocínio possui vários equívocos. Primeiro,
quando um país possui condições estruturais adequadas
para crescer, a poupança surge no próprio processo de
crescimento da renda. Poupança e investimento são fluxos que assinalam como a
renda produzida anualmente
é utilizada. É tolice acreditar
que primeiro se faz a poupança e depois o investimento. A taxa de poupança atual
(cerca de 24% do PIB) é suficiente para alavancar um
crescimento maior e pode se
elevar com o próprio crescimento.
Segundo, a reforma da Previdência não irá aumentar a
poupança agregada, como
não o fez no Chile. Avaliações conduzidas tanto pelo
Banco Mundial quanto pela
OCDE sobre a reforma previdenciária no Chile mostram
que o impacto líquido sobre a
poupança agregada foi negativo nos primeiros quatro ou
cinco anos, quando se consideram todos os custos da passagem do sistema antigo para
o novo. O benefício da reforma é que pode levar a uma
utilização mais eficiente dos
recursos, menor ônus futuro
sobre a seguridade pública e
maior incentivo à poupança
privada. Mas seu efeito sobre
a poupança agregada é nulo,
ou mesmo negativo nos primeiros anos.
O terceiro defeito do raciocínio é ser uma desculpa conveniente para o déficit público atual. Parte substantiva
do déficit nominal se deve às
despesas com juros, as quais
são oneradas pela política de
juros alta adotada. O governo se escuda em um sofisma
pela falta de empenho em
cortar gastos correntes e não
pode diminuir os juros, devido à âncora cambial e à falta
de uma política de reestruturação da dívida pública.
O crescimento da economia
fica, assim, travado até um
futuro idealizado. Esse é o
preço do programa de estabilização que fez a opção de
consolidar os ganhos da área
financeira, em detrimento do
crescimento da produção.
Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular
da Faculdade de Economia e Administração da USP.
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