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RECEITA ORTODOXA
Para analistas, Copom não vai reduzir taxa a fim de demonstrar credibilidade e que não age sob pressão
BC deve manter Selic para mostrar força
SANDRA BALBI
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central) não
deverá baixar a taxa básica de juros, a Selic, na sua reunião mensal, que termina amanhã. Segundo analistas ouvidos pela Folha, já
há condições para começar o recuo dos juros, mas o BC terá de
dar uma demonstração de força
para deixar evidente que não age
sob pressão.
"É ruim, para o Copom, cortar
juros em meio a tanta pressão política de setores do governo e da
sociedade", diz Cláudio Adilson
Gonçalez, sócio da MCM Consultores e ex-chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda
(1989 e 1990).
Mais do que a queda da Selic, estaria em jogo na reunião do Copom a credibilidade do BC. "O BC
é o guardião da moeda e vem afirmando que a inflação ainda preocupa e não dá para baixar os juros.
Se recuar diante do crescimento
do coro em favor do corte dos juros, perde credibilidade. Estive no
governo e, muitas vezes, mudamos uma decisão para não agir
sob pressão", diz Gonçalez.
O economista Francisco Lopreatto, professor da Unicamp,
também vê um embate político
por trás da decisão que o Copom
tomará. "Embora todos os sinais
da economia apontem para baixo
-inflação caindo, atividade econômica baixa, risco de deflação
no resto do mundo-, o Copom
não deverá cortar os juros neste
momento", diz. Segundo ele, a decisão sobre os juros contrapõe, no
governo, duas linhas divergentes
de política econômica. "Em um
mês o BC acredita que poderá
cortar os juros dentro da ortodoxia da política econômica."
Para manter a taxa de juros, o
Copom deverá aferrar-se aos argumentos técnicos -principalmente a chamada "inércia inflacionária". E, segundo Gonçalez,
os dados que indicam a inércia
ainda são dúbios. O núcleo do IPCA está oscilando entre 14% e
10%, anualizado.
O núcleo da inflação medido
pelo método de médias aparadas
(excluem-se as maiores e menores altas) mostrará, em abril, uma
inflação anualizada de 14%; já o
núcleo expurgado dos preços administrados aponta 11% e, tirando também a sazonalidade de alguns alimentos, vai para 10,2%.
José Márcio Camargo, professor
da PUC-RJ, refuta a hipótese de
que o BC não baixará os juros como sinal de que não está disposto
a dobrar-se ante a coro público.
""A idéia de que o BC tenha que
mostrar força não me parece adequada", afirma o economista. ""O
BC adquire credibilidade à medida que sinaliza para os agentes
econômicos que vai jogar a inflação para um nível adequado em
determinado momento", afirma.
Camargo indica razões técnicas
para a manutenção dos juros. ""O
BC não tem indicativos de que a
queda de preços no atacado vá se
refletir nos índices para o consumidor, que no final das contas é o
que interessa. Se olharmos para
os índices de preços ao consumidor, perceberemos que a inflação
continua alta", argumenta.
Edward Amadeo, sócio-diretor
da Tendências Consultoria Integrada, diz que o BC não deveria
cortar os juros. Segundo Amadeo,
ainda é preciso esperar até que a
tendência de queda da inflação se
consolide. "Estamos próximos de
ter inflação e expectativa de inflação mais baixas, ponto a partir do
qual o BC pode reduzir juros de
forma segura. Fazê-lo antes de ter
essas evidências asseguradas, que
é a situação atual, pode gerar desconfiança e risco de um revés [nova elevação dos juros] no futuro."
Viés
Luís Suzigan, economista-chefe
da LCA, sustenta que há espaço
para um corte de três pontos percentuais nos juros, até julho. "O
melhor momento será na virada
de maio para junho, quando o núcleo da inflação deverá desacelerar mais." Por isso ele diz que o
Copom deverá aprovar um viés
de baixa, amanhã, e começar a
cortar a taxa de juros antes da
próxima reunião.
O professor José Cézar Castanhar, da FGV, argumenta que o
BC ""tem espaço para baixar os juros, mas não o fará". ""A política
de controle da inflação deveria ser
vista de forma estratégica e não
depender da decisão de sete xiitas
monetaristas", diz, em alusão aos
membros do Copom. ""A inércia
inflacionária é decorrente mais
das tarifas públicas, e isso exige
uma ação gerencial do governo."
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