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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Para analistas, Copom não vai reduzir taxa a fim de demonstrar credibilidade e que não age sob pressão

BC deve manter Selic para mostrar força

SANDRA BALBI
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) não deverá baixar a taxa básica de juros, a Selic, na sua reunião mensal, que termina amanhã. Segundo analistas ouvidos pela Folha, já há condições para começar o recuo dos juros, mas o BC terá de dar uma demonstração de força para deixar evidente que não age sob pressão.
"É ruim, para o Copom, cortar juros em meio a tanta pressão política de setores do governo e da sociedade", diz Cláudio Adilson Gonçalez, sócio da MCM Consultores e ex-chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda (1989 e 1990).
Mais do que a queda da Selic, estaria em jogo na reunião do Copom a credibilidade do BC. "O BC é o guardião da moeda e vem afirmando que a inflação ainda preocupa e não dá para baixar os juros. Se recuar diante do crescimento do coro em favor do corte dos juros, perde credibilidade. Estive no governo e, muitas vezes, mudamos uma decisão para não agir sob pressão", diz Gonçalez.
O economista Francisco Lopreatto, professor da Unicamp, também vê um embate político por trás da decisão que o Copom tomará. "Embora todos os sinais da economia apontem para baixo -inflação caindo, atividade econômica baixa, risco de deflação no resto do mundo-, o Copom não deverá cortar os juros neste momento", diz. Segundo ele, a decisão sobre os juros contrapõe, no governo, duas linhas divergentes de política econômica. "Em um mês o BC acredita que poderá cortar os juros dentro da ortodoxia da política econômica."
Para manter a taxa de juros, o Copom deverá aferrar-se aos argumentos técnicos -principalmente a chamada "inércia inflacionária". E, segundo Gonçalez, os dados que indicam a inércia ainda são dúbios. O núcleo do IPCA está oscilando entre 14% e 10%, anualizado.
O núcleo da inflação medido pelo método de médias aparadas (excluem-se as maiores e menores altas) mostrará, em abril, uma inflação anualizada de 14%; já o núcleo expurgado dos preços administrados aponta 11% e, tirando também a sazonalidade de alguns alimentos, vai para 10,2%.
José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ, refuta a hipótese de que o BC não baixará os juros como sinal de que não está disposto a dobrar-se ante a coro público.
""A idéia de que o BC tenha que mostrar força não me parece adequada", afirma o economista. ""O BC adquire credibilidade à medida que sinaliza para os agentes econômicos que vai jogar a inflação para um nível adequado em determinado momento", afirma.
Camargo indica razões técnicas para a manutenção dos juros. ""O BC não tem indicativos de que a queda de preços no atacado vá se refletir nos índices para o consumidor, que no final das contas é o que interessa. Se olharmos para os índices de preços ao consumidor, perceberemos que a inflação continua alta", argumenta.
Edward Amadeo, sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, diz que o BC não deveria cortar os juros. Segundo Amadeo, ainda é preciso esperar até que a tendência de queda da inflação se consolide. "Estamos próximos de ter inflação e expectativa de inflação mais baixas, ponto a partir do qual o BC pode reduzir juros de forma segura. Fazê-lo antes de ter essas evidências asseguradas, que é a situação atual, pode gerar desconfiança e risco de um revés [nova elevação dos juros] no futuro."

Viés
Luís Suzigan, economista-chefe da LCA, sustenta que há espaço para um corte de três pontos percentuais nos juros, até julho. "O melhor momento será na virada de maio para junho, quando o núcleo da inflação deverá desacelerar mais." Por isso ele diz que o Copom deverá aprovar um viés de baixa, amanhã, e começar a cortar a taxa de juros antes da próxima reunião.
O professor José Cézar Castanhar, da FGV, argumenta que o BC ""tem espaço para baixar os juros, mas não o fará". ""A política de controle da inflação deveria ser vista de forma estratégica e não depender da decisão de sete xiitas monetaristas", diz, em alusão aos membros do Copom. ""A inércia inflacionária é decorrente mais das tarifas públicas, e isso exige uma ação gerencial do governo."


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