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OPINIÃO ECONÔMICA
O futuro chegou?
ANTONIO BARROS DE CASTRO
Na última coluna afirmei, referindo-me à economia brasileira, que aquilo que já se definiu é mais importante do que o
que está ainda por definir. O
texto levou um amigo a comentar: "Se entendi bem, você disse
que o futuro chegou". Confessando um certo embaraço, trato
de explicitar um pouco mais o
que buscava dizer. O futuro
chegou, sim, mas apenas no limitado sentido de que a economia não mais se encontra numa encruzilhada -percepção
amplamente difundida no início desta década.
O grau de abertura presentemente alcançado pela economia brasileira pode ser caracterizado pelo fato de que a alíquota média efetivamente paga
pelas importações foi de apenas
7% em 97. Esse valor é da mesma ordem de grandeza daquele
que caracteriza as economias
desenvolvidas -sendo que estas últimas empregam barreiras
não-tarifárias com maior intensidade do que o Brasil.
Quanto à privatização de empresas do Estado, a única grande dúvida parece ser hoje o destino da Petrobrás -cabendo
observar, a esse propósito, que o
Chile preservou o cobre na esfera pública, e o mesmo fez o México com o petróleo.
A estabilização da economia
que, sem ser uma tarefa concluída (dada a persistência e
mesmo o agravamento do quadro fiscal), alcançou resultados
que ultrapassam as previsões
mais otimistas.
Os atores privados, de sua
parte, em grande medida já se
reposicionaram em resposta às
transformações verificadas no
meio ambiente local. As empresas, reorganizando-se, alterando seu porta-fólio de produtos,
suas técnicas, criando ou transferindo fábricas. Muitas já se
encontram, inclusive, no segundo ou terceiro round da reestruturação. Além do mais, de 96
em diante, empresas estrangeiras iniciaram uma verdadeira
revoada em direção ao país. E
as suas decisões, à medida que
se concretizavam, passaram a
definir o perfil (em certos casos
o próprio eixo) de uma nova
safra de investimentos.
Os resultados colhidos a partir dessas transformações revelaram-se, de início, enormemente gratificantes e, a seguir,
crescentemente frustrantes. No
atual momento, as mudanças
já ocorridas vão deixando de
ser aspirações e projetos -e
seus resultados não podem
mais ser entendidos como surpreendentes. Os gestores da política econômica, o comando
das empresas e a população em
geral, começam a perceber e
identificar uma (nova) realidade. Ela passa a ser entendida (e
criticada) pelas suas (novas)
características. Vai se formando uma outra visão do que seja
o Brasil.
Convém evocar um momento
fundamental da nossa história.
A industrialização foi uma aspiração que ganhou força na
transição para os anos 40 e consolidou-se nos anos 50. A partir
de certo ponto o Brasil passou a
ser visto e entendido como uma
economia em processo de industrialização (e desenvolvimento). E os seus problemas
passavam a ser concebidos como próprios à industrialização
(e ao desenvolvimento).
Hoje, por analogia, o Brasil
começa a ser visto como uma
economia de mercado, aberta e
estável -e os seus problemas
passam a ser aqueles que ameaçam essas características. O cupom cambial (remuneração
exigida pelos que aqui colocam
o seu dinheiro), tão em evidência neste momento, é uma boa
ilustração. Sem que ele se situe
em nível desejado pelos candidatos a credores, não é possível
atrair capitais no volume necessário para manter a estabilidade e a abertura da economia.
O fato de que os problemas
existentes no novo quadro -o
desequilíbrio fiscal, a possibilidade de uma crise cambial, o
crescimento travado- já tenham sido detectados, significa,
não apenas que a (nova) agenda da política econômica está
definida, mas também que os
rumos da economia se encontram, se não traçados, pelo menos claramente sugeridos.
Para os atores, públicos e privados, são, em suma, poucos os
graus de liberdade existentes
nesse contexto. Para os primeiros, porque a fragilidade macroeconômica é evidente. Para
os segundos, porque a competição é intensíssima -seja pela
abertura, seja pela enorme elevação e melhoria da capacidade de produzir, num meio ambiente em que a demanda se
encontra basicamente travada.
Saímos da encruzilhada, e
agora, para o bem e para o mal,
somos reféns das opções feitas.
Antonio Barros de Castro, 58, professor-titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social), escreve às quartas-feiras, a cada 15
dias, nesta coluna.
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