São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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COMÉRCIO MUNDIAL
Cálculo é de US$ 160 bi
FHC condena a "proteção" à agricultura

do enviado especial

O presidente Fernando Henrique Cardoso denunciou ontem as barreiras impostas a produtos agropecuários do Brasil ("e outros tantos países"), apontando-as como "o maior aparato de protecionismo e subvenções já montado para a preservação dos interesses de um setor".
O presidente calculou em US$ 160 bilhões a quantia empregada, a cada ano, "por países desenvolvidos para impedir que sua agricultura se veja exposta às regras da concorrência".
O ataque de FHC foi feito no discurso pronunciado a partir de 15h de ontem (10h em Brasília), na sessão plenária comemorativa do 50º aniversário do sistema internacional de comércio.
Como o Itamaraty anunciara na véspera, o eixo do discurso foi a agricultura, o que explicita a prioridade brasileira no atual estágio de negociações em torno do comércio internacional.
O presidente brasileiro disse que "a persistência do protecionismo e dos subsídios à exportação no comércio agrícola mundial constituem não apenas a maior anomalia a ser corrigida, como também a mais desleal para com os países em desenvolvimento competitivos nesse setor".
FHC chegou a condicionar o apoio à chamada "Rodada do Milênio" (uma nova e ainda mais abrangente negociação para liberalização do comércio) a avanços na questão agrícola.
"Esse exercício (a "Rodada do Milênio") não deveria ocorrer antes que estivessem implementados os compromissos assumidos na Rodada Uruguai, pois isso prejudicaria o equilíbrio das concessões que ali se pactuaram", disse FHC.
Na Rodada Uruguai, ficou acertado que, no início do ano 2000, se faria uma negociação sobre agricultura, para reduzir a proteção que os países ricos concedem a seus produtores.
Por isso, o presidente brasileiro não quer que uma eventual "Rodada do Milênio", também defendida anteontem por Clinton, ainda que não utilizasse o termo, "venha a interferir no processo negociador já definido para a agricultura nem visasse a incorporar apenas setores específicos de interesse de alguns países".
A frase mostra o desejo do Brasil de beneficiar-se do que em economia se batizou de "trade off", ou seja, o toma-lá-dá-cá.
O Brasil aceita abrir setores que hoje protege desde que os outros países, em especial os desenvolvidos, façam igualmente concessões nas áreas que defendem atualmente, como a agricultura.
A ênfase do presidente na agricultura é fácil de entender: produtos agrícolas e alimentares representaram, em 97, 32% das exportações brasileiras (US$ 16,7 bilhões do total de US$ 53 bilhões).
E há um estudo, da economista Lia Valls (Fundação Getúlio Vargas), que imagina uma situação utópica: a queda de todas as barreiras agrícolas. Nesse caso, o Brasil poderia exportar 50% mais (US$ 8 bilhões, portanto). (CR)


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