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COMÉRCIO MUNDIAL
Cálculo é de US$ 160 bi
FHC condena
a "proteção"
à agricultura
do enviado especial
O presidente Fernando Henrique Cardoso denunciou ontem as
barreiras impostas a produtos
agropecuários do Brasil ("e outros tantos países"), apontando-as
como "o maior aparato de protecionismo e subvenções já montado para a preservação dos interesses de um setor".
O presidente calculou em US$
160 bilhões a quantia empregada, a
cada ano, "por países desenvolvidos para impedir que sua agricultura se veja exposta às regras da
concorrência".
O ataque de FHC foi feito no discurso pronunciado a partir de 15h
de ontem (10h em Brasília), na sessão plenária comemorativa do 50º
aniversário do sistema internacional de comércio.
Como o Itamaraty anunciara na
véspera, o eixo do discurso foi a
agricultura, o que explicita a prioridade brasileira no atual estágio
de negociações em torno do comércio internacional.
O presidente brasileiro disse que
"a persistência do protecionismo
e dos subsídios à exportação no
comércio agrícola mundial constituem não apenas a maior anomalia a ser corrigida, como também a
mais desleal para com os países
em desenvolvimento competitivos
nesse setor".
FHC chegou a condicionar o
apoio à chamada "Rodada do Milênio" (uma nova e ainda mais
abrangente negociação para liberalização do comércio) a avanços
na questão agrícola.
"Esse exercício (a "Rodada do
Milênio") não deveria ocorrer antes que estivessem implementados
os compromissos assumidos na
Rodada Uruguai, pois isso prejudicaria o equilíbrio das concessões
que ali se pactuaram", disse FHC.
Na Rodada Uruguai, ficou acertado que, no início do ano 2000, se
faria uma negociação sobre agricultura, para reduzir a proteção
que os países ricos concedem a
seus produtores.
Por isso, o presidente brasileiro
não quer que uma eventual "Rodada do Milênio", também defendida anteontem por Clinton, ainda que não utilizasse o termo,
"venha a interferir no processo
negociador já definido para a agricultura nem visasse a incorporar
apenas setores específicos de interesse de alguns países".
A frase mostra o desejo do Brasil
de beneficiar-se do que em economia se batizou de "trade off", ou
seja, o toma-lá-dá-cá.
O Brasil aceita abrir setores que
hoje protege desde que os outros
países, em especial os desenvolvidos, façam igualmente concessões
nas áreas que defendem atualmente, como a agricultura.
A ênfase do presidente na agricultura é fácil de entender: produtos agrícolas e alimentares representaram, em 97, 32% das exportações brasileiras (US$ 16,7 bilhões do total de US$ 53 bilhões).
E há um estudo, da economista
Lia Valls (Fundação Getúlio Vargas), que imagina uma situação
utópica: a queda de todas as barreiras agrícolas. Nesse caso, o Brasil poderia exportar 50% mais
(US$ 8 bilhões, portanto).
(CR)
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