|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COLISÃO
Presidente dos EUA quer abertura agressiva, mas o do Brasil quer implementação de acordos da Rodada Uruguai
Comércio internacional opõe FHC a Clinton
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Genebra
Brasil e Estados Unidos bateram
de frente, nas últimas 24 horas, em
termos de interesses e prioridades
em relação ao comércio internacional.
A tal ponto que, se o discurso
que o presidente Fernando Henrique Cardoso pronunciou ontem, a
propósito do 50º aniversário do
sistema internacional de comércio, não tivesse vindo pronto do
Brasil, pareceria uma resposta direta e frontal ao pronunciamento,
na véspera, de seu colega norte-americano Bill Clinton.
Nem é preciso interpretar cada
frase para notar profundas diferenças (ver quadro).
É verdade que Fernando Henrique tratou de minimizar o choque,
ao conversar no início da noite
com jornalistas brasileiros.
"É uma situação semelhante à
que ocorre na Alca (Área de Livre
Comércio das Américas, que deve
englobar os 34 países americanos,
menos Cuba) e que nós estamos
conseguindo resolver", disse o
presidente.
Mas emendou: "O Brasil coloca
os seus interesses na mesa de negociações e não tem porque seguir
os interesses dos outros".
Pelo menos em relação aos Estados Unidos, o interesse de cada
parte segue, de fato, direção divergente.
Era da Informação
Os Estados Unidos, pela boca de
Clinton, pregam, por exemplo, o
aproveitamento "do pleno potencial da Era da Informação".
O Brasil, diz Fernando Henrique, prefere, antes, que estejam
"implementados os compromissos acordados na Rodada Uruguai", o mais abrangente pacote
de liberalização do comércio, concluído em 1994.
É uma alusão à necessidade de
que os países ricos abram seus
mercados agrícolas à produção
brasileira (e dos demais países em
desenvolvimento) e, também, ao
período de transição, que vai durar mais três anos, para que caiam
as tarifas de importação de bens
industriais.
Agricultura e indústria, como é
óbvio, são bens anteriores à Era da
Informação.
Ao ataque
Clinton fala em "agressiva"
abertura de mercados. Fernando
Henrique ataca o fato de que, "em
países desenvolvidos, não é incomum constatar-se que, sob o
manto de medidas de defesa comercial, uma eficiente burocracia
governamental substituiu, com
vantagem, a deficiente competitividade de certos setores".
Aludiu especificamente às medidas compensatórias ou de antidumping, recursos que os Estados
Unidos adotam mais do que qualquer outro país.
Servem, no primeiro caso, para
se defender de supostos (ou reais)
subsídios às exportações por outros países.
Já medidas antidumping são
atos que tratam de impedir que
um país venda em outro produtos
a preços iguais ou inferiores aos de
produção.
Ataque à lei
Fernando Henrique atacou
igualmente a lei Helms-Burton,
citando-a como exemplo de "leis
comerciais de duvidosa compatibilidade com as normas multilateralmente acordadas".
É a lei norte-americana que impõe punições a quem comercialize
com Cuba.
A menção à Helms-Burton não
constava do texto do discurso presidencial distribuído previamente
aos jornalistas.
Que as críticas a esses tipos de
práticas comerciais se dirigem aos
Estados Unidos, fica claro pela
análise do ministro Botafogo Gonçalves (Indústria e Comércio).
"Outros países também praticam políticas inconsistentes com
as normas da OMC, mas, como os
Estados Unidos são a maior economia do mundo...".
A rigor, Fernando Henrique e
Clinton só coincidem na análise
que fazem da globalização.
Para Fernando Henrique, "é um
fato, um processo real que está aí".
Para Clinton, "a globalização
não é uma escolha política, é um
fato".
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|