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COMENTÁRIO
"Novo câmbio é de alto risco"
DO "FINANCIAL TIMES"
A argentina está com problemas de novo. Depois de
sua recente e bem-sucedida operação de troca de títulos, o país parecia reconquistar a confiança dos
investidores, mas o plano de introduzir um câmbio duplo fez com
que eles saíssem correndo em busca de abrigo, uma vez mais.
O plano tem lá sua lógica. A Argentina é um dos poucos países do
mundo que tem sua moeda ainda
atrelada ao dólar dos EUA e a economia do país sofreu muito devido à força do dólar.
Abandonar esse vínculo é praticamente impossível, a curto prazo, no entanto, já que a maioria
das dívidas da Argentina são denominadas em dólares. O plano
de Domingo Cavallo, o ministro
da Economia, significa impor uma
tarifa às importações e conceder
um subsídio equivalente às exportações de seu país. O objetivo é
melhorar a competitividade econômica sem causar problemas
com relação à dívida do país.
Ao usar a média das taxas de
câmbio do dólar e do euro, o sistema duplo de pagamentos também
ofereceria a vantagem de manter o
alinhamento com um plano de
Cavallo para um futuro mais distante, o de vincular o peso a uma
cesta cambial composto das duas
moedas, assim que o euro e o dólar atingirem paridade.
Mas o mecanismo adotado
apresenta dois sérios problemas.
O primeiro é que qualquer sistema
de câmbio diferencial encoraja
distorções e corrupção. Os exportadores tentarão inflar o valor de
seus produtos; os importadores,
de sua parte, procurarão por maneiras de evitar o pagamento da
tarifa.
O segundo problema é que os
mercados financeiros odeiam o
plano. Da mesma forma que as
propostas anunciadas por Cavallo
para uma possível cesta de equivalência cambial baseada no euro e
no dólar causaram forte alta nas
taxas de juros do país em abril, esta semana o fator de risco da Argentina parece ter disparado de
novo. Juros mais altos farão com
que ressurjam os temores quanto
a uma possível moratória.
Dados esses problemas, talvez
fosse melhor não mexer no câmbio e aceitar um novo período de
estagnação. O problema de competitividade não é insuperável. A
Argentina é uma economia relativamente fechada e as exportações
ainda estão crescendo. Depois de
um período de deflação de salários
e preços, o retorno da confiança
pode ter encorajado novos investimentos e crescimento.
Mas, à medida que o país enfrenta seu terceiro ano de recessão, é
fácil ver por que Cavallo está explorando todos os meios possíveis
para impulsionar o crescimento.
Se o plano de câmbio for acoplado
a uma política fiscal sensível e a
mais reformas estruturais, pode
ser que funcione.
Não há como negar que se trata
de uma estratégia de alto risco. Se
Cavallo fracassar em vender sua
política mais recente aos mercados -e os primeiros sinais não
são muito bons-, os danos causados pelos juros mais altos superarão com facilidade os benefícios
gerados pelas condições de comércio externo melhoradas. O ministro argentino está apostando
que sua credibilidade bastará para
fazer com que esse plano nada ortodoxo funcione.
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