São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Chanceler brasileiro rebate críticas feitas por seu primo, presidente da Fiesp, e o compara ao Taleban

Lafer acusa Piva de "provincianismo"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, rebateu ontem as críticas feitas ao governo pelo seu primo, Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e por entidades do setor eletrônico.
Lafer disse que o primo tem uma visão inadequada da realidade e que não leva em consideração as vantagens da parceria econômica com a Argentina. Na segunda-feira, Piva e vários empresários fizeram duras críticas ao governo. O presidente da federação disse que "talvez Brasília esteja distante do Brasil" e afirmou que o governo não poderia colocar na pauta, em primeiro lugar, os problemas argentinos.
A posição foi seguida por industriais e lideranças de setores como Abinee e Eletros, entidades do segmento eletrônico.
"É uma manifestação de provincianismo talebanesco", disse Lafer sobre as declarações de Piva. O neologismo faz referência ao Taleban, grupo político-religioso que controla 90% do território do Afeganistão e que impôs um regime marcado pelo extremismo.
Não foi a primeira vez que os extremistas do Afeganistão foram citados nas controvérsias entre a Fiesp e o governo.
Na semana passada, Piva chamou a equipe econômica de "talebans da ortodoxia financeira que mandam em Brasília". A crítica tinha como alvo membros do governo, que, neste ano, decidiram fazer a indústria arcar com parte do pagamento das perdas do FGTS com planos econômicos.
Para o ministro, porém, Piva tem "uma visão plúmbea (cinzenta) da realidade". Ele disse que falava levando em consideração "a relação fraterna" que tem com o presidente da Fiesp. E completou: "que é meu amigo e meu primo".
Lafer não poupou ataques. "Para quem acha que sou apenas delicado, está aí uma resposta mais contundente", disse o ministro.
Defendendo as recentes medidas adotadas pelo país vizinho, com o aval do Brasil, Lafer afirmou que "olhar para o interesse da Argentina é olhar para o interesse do Brasil".
Já para os empresários, o quadro não é bem esse. "É importante que a Argentina se recupere, mas o Cavallo (ministro argentino) bem ou mal tem uma agenda e arranca concessões. E quanto às nossas exigências?", diz Piva.
A Folha tentou entrar em contato com Piva, mas ele estava viajando e não conseguiu responder aos telefonemas. O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) presente na reunião na Fiesp, também foi procurado, mas os diretores não foram localizados, segundo a assessoria da entidade.


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