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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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REAL VALORIZADO

Permissão para que bancos comprem mais moeda dos EUA e rolagem menor da dívida cambial não surtem efeito

Dólar ainda não reagiu a medidas do BC

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Analistas de bancos e corretoras concordam que as últimas medidas tomadas pelo Banco Central terão efeito muito pequeno sobre o câmbio. No mais, sobram discordâncias.
No dia 2 deste mês, quando o câmbio atingiu R$ 2,818, a menor taxa do ano, o Banco Central reduziu o volume de capital exigido para os bancos operarem com dólar, o que permitiria que comprassem quantidades maiores da moeda.
Além disso, o BC tem diminuído o percentual de rolagem da dívida cambial.
Enquanto uma parcela de economistas, principalmente de bancos, defende uma intervenção mais firme do BC para conter a apreciação do real, outro grupo argumenta que a fase do dólar em queda é transitória.
Para uns, a desvalorização do câmbio, que já atingiu 20% neste ano e fechou cotado na sexta-feira a R$ 2,889, com alta de 0,66%, incomoda porque prejudicaria as exportações.
Para outros, os exportadores estariam garantidos e o problema seria a vulnerabilidade externa, o risco do grande passivo em dólar.
E há quem afirme que nada disso deveria preocupar porque a valorização da moeda brasileira resultaria da melhora de humor dos mercados em relação ao país.
A medida do BC, dizem analistas, apenas sinalizaria que o câmbio começa a incomodar. "O BC aumentou um limite que nem estava sendo usado", diz Alexandre Póvoa, do banco Modal.
"Esse limite não será usado porque quem comprou dólar perdeu dinheiro. As apostas hoje são muito pequenas; ninguém quer ficar com posição comprada porque a volatilidade é muito grande", afirma Alexandre Schwartzman, economista do Unibanco.
"O BC dá mais corda para se enforcar", diz um operador.
Para Schwartzman, "o câmbio vai voltar a andar. Essa grande liquidez é transitória. A entrada de recursos deve cair em meses".
João Mascolo, da Foresee Asset Management, diz que o fluxo não deve cair, principalmente se as reformas saírem e que é natural que a moeda se valorize com a queda do risco. "O país vai aprender a conviver com o dólar mais alto."

Dólar barato
Segundo modelo econométrico usado pelo Unibanco, com o dólar médio real do segundo trimestre deste ano (R$ 2,95), os superávits seriam de aproximadamente US$ 19 bilhões em 2003 e de US$ 14,5 bilhões em 2004.
"Não são nada desastrosos", conclui Schwartzman, para quem "o grau de controle no câmbio flutuante é baixíssimo".
Nem a redução da proporção da rolagem de títulos cambiais -do lote de US$ 2,7 bilhões que venceu na quinta-feira, foram rolados apenas 52% -ajudou a valorizar a moeda estrangeira.
"O BC deve reduzir as rolagens agressivamente. Mais do que pelas exportações, para se livrar desse passivo em dólar, que fez um estrago no ano passado. Para que não ocorra de novo, o BC vai ofertar menos hedge [proteção contra a flutuação cambial]", diz Schwartzman.
Analistas defendem que o BC abandone a excessiva cautela e aproveite o ambiente favorável.
"Deve não apenas reduzir agressivamente a rolagem e melhorar o perfil da dívida, como também emitir bônus e reforçar as reservas", diz Póvoa.
Para Mascolo, além de aprovar as reformas, o governo deveria emitir mais papéis lá fora, "em vez de entrar aqui diretamente".
"Isso reduziria os juros aqui. Há demanda lá fora para trocar dívidas externa e interna por papéis mais longos. Falta visão de longo prazo à autoridade monetária."
A receita de compra de dólares prescrita por muitos economistas não é unanimidade. "O Banco Central não deveria comprar dólares", diz Póvoa. "Indicaria piso para a moeda, inundaria de reais a economia, agora que acabamos de escapar de uma séria ameaça inflacionária."

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