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CVM questiona recusa da Perdigão à oferta da Sadia
Órgão diz que argumentos de negativa são insuficientes
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
ERNANE GUIMARÃES NETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), órgão regulador
do mercado financeiro, divulgou ontem comunicado sobre a
oferta hostil da Sadia pela concorrente Perdigão, segundo o
qual os documentos apresentados pela Perdigão para embasar
sua recusa, anunciada há dois
dias, são insuficientes.
Assim, a CVM notificou os
acionistas que recusaram a
proposta para que confirmassem, "de maneira inequívoca",
a rejeição da oferta realizada
pela Sadia.
Ao todo, sócios detentores de
55,38% do capital da Perdigão
declinaram da venda. O grupo é
formado por sete fundos de
pensão e a Weg Participações.
Até o fechamento desta edição, a Perdigão não havia feito o
comunicado solicitado pela
CVM. Mas a assessoria da principal acionista da companhia, a
Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil,
dono de 15,67% das ações), informou que enviou os documentos solicitados pela CVM.
A intenção de compra foi tornada pública oficialmente na
segunda. A Sadia quer comprar
o controle da Perdigão -50%
das ações mais uma. Para tanto,
fez uma oferta pelo total dos
papéis, de R$ 3,7 bilhões, equivalentes a R$ 27,88 por ação.
A maioria dos acionistas da
Perdigão desconsiderou a proposta sob duas justificativas: a
de que ela desrespeitava o estatuto da empresa e a de que o
preço cogitado era baixo. Queriam cerca de R$ 35 por ação.
Na terça-feira, o presidente
da Perdigão, Nildemar Secches,
havia descartado a hipótese de
chamar uma assembléia de
acionistas para avaliar a proposta da Sadia. O argumento
era que a maioria dos sócios havia se unido e deixado clara sua
intenção de recusar a oferta.
No comunicado de ontem, a
CVM também avisa que a Sadia
terá 24 horas para modificar
sua oferta após a Perdigão confirmar que rechaçou a oferta
inicial. Na terça-feira, o diretor
financeiro da Sadia, Luiz Murat, afirmou que a empresa não
tem intenção de aumentar o valor de seu lance inicial.
Pessoas de mercado e do governo acreditam que as idas e
vindas do caso tendem a se caracterizar como um jogo para a
elevação da oferta pela Sadia
-o que, de quebra, interfere no
preço atual das ações de ambas
as companhias.
Jogo em andamento
O presidente do Conselho de
Administração da Perdigão,
Eggon João da Silva, reconheceu em entrevista à Folha, ontem pela manhã, que o jogo
ainda não havia acabado.
"Em nenhum momento foi
descartada a negociação, contanto que preencha os requisitos legais", disse ontem.
Há dois dias, o jornal "Diário
Catarinense" publicou declaração de Silva segundo as quais a
oferta era "tentadora". "Era
meu ponto de vista, mas a
maioria não concordou. Foi antes das reuniões [do conselho]." Eggon também disse que,
"num passado mais distante"
-ele não deu datas precisas-,
já houve negociações visando a
uma fusão das empresas, sem
chegar a conclusão.
Para analistas do mercado financeiro, ambas as hipóteses
-compra pela Sadia ou a permanência dos sócios sob a atual
estrutura- são boas para a
Perdigão. A única alternativa
que traria desvantagem à empresa, disseram, seria que os
fundos de pensão comprassem
mais ações e se tornassem controladores da empresa.
Isso porque a Perdigão hoje
está no Novo Mercado da Bovespa -ou seja, todas as ações
têm direito a voto e não há a figura de um dono. O controle é
pulverizado.
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