São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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CVM questiona recusa da Perdigão à oferta da Sadia

Órgão diz que argumentos de negativa são insuficientes

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

ERNANE GUIMARÃES NETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão regulador do mercado financeiro, divulgou ontem comunicado sobre a oferta hostil da Sadia pela concorrente Perdigão, segundo o qual os documentos apresentados pela Perdigão para embasar sua recusa, anunciada há dois dias, são insuficientes.
Assim, a CVM notificou os acionistas que recusaram a proposta para que confirmassem, "de maneira inequívoca", a rejeição da oferta realizada pela Sadia.
Ao todo, sócios detentores de 55,38% do capital da Perdigão declinaram da venda. O grupo é formado por sete fundos de pensão e a Weg Participações.
Até o fechamento desta edição, a Perdigão não havia feito o comunicado solicitado pela CVM. Mas a assessoria da principal acionista da companhia, a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, dono de 15,67% das ações), informou que enviou os documentos solicitados pela CVM.
A intenção de compra foi tornada pública oficialmente na segunda. A Sadia quer comprar o controle da Perdigão -50% das ações mais uma. Para tanto, fez uma oferta pelo total dos papéis, de R$ 3,7 bilhões, equivalentes a R$ 27,88 por ação.
A maioria dos acionistas da Perdigão desconsiderou a proposta sob duas justificativas: a de que ela desrespeitava o estatuto da empresa e a de que o preço cogitado era baixo. Queriam cerca de R$ 35 por ação.
Na terça-feira, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, havia descartado a hipótese de chamar uma assembléia de acionistas para avaliar a proposta da Sadia. O argumento era que a maioria dos sócios havia se unido e deixado clara sua intenção de recusar a oferta.
No comunicado de ontem, a CVM também avisa que a Sadia terá 24 horas para modificar sua oferta após a Perdigão confirmar que rechaçou a oferta inicial. Na terça-feira, o diretor financeiro da Sadia, Luiz Murat, afirmou que a empresa não tem intenção de aumentar o valor de seu lance inicial.
Pessoas de mercado e do governo acreditam que as idas e vindas do caso tendem a se caracterizar como um jogo para a elevação da oferta pela Sadia -o que, de quebra, interfere no preço atual das ações de ambas as companhias.

Jogo em andamento
O presidente do Conselho de Administração da Perdigão, Eggon João da Silva, reconheceu em entrevista à Folha, ontem pela manhã, que o jogo ainda não havia acabado.
"Em nenhum momento foi descartada a negociação, contanto que preencha os requisitos legais", disse ontem.
Há dois dias, o jornal "Diário Catarinense" publicou declaração de Silva segundo as quais a oferta era "tentadora". "Era meu ponto de vista, mas a maioria não concordou. Foi antes das reuniões [do conselho]." Eggon também disse que, "num passado mais distante" -ele não deu datas precisas-, já houve negociações visando a uma fusão das empresas, sem chegar a conclusão.
Para analistas do mercado financeiro, ambas as hipóteses -compra pela Sadia ou a permanência dos sócios sob a atual estrutura- são boas para a Perdigão. A única alternativa que traria desvantagem à empresa, disseram, seria que os fundos de pensão comprassem mais ações e se tornassem controladores da empresa.
Isso porque a Perdigão hoje está no Novo Mercado da Bovespa -ou seja, todas as ações têm direito a voto e não há a figura de um dono. O controle é pulverizado.


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