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Aprovação da reforma da Previdência permitiria redução maior
Para núcleo do governo, BC pode acelerar corte no juro
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula do governo avalia que
o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) poderia
"acelerar" o seu chamado gradualismo. Em outras palavras, acentuar a atual tendência de redução
de juros, ao diminuir a taxa básica
um pouco acima da expectativa
do mercado.
De forma discreta, o "núcleo
duro" (grupo de ministros e auxiliares petistas mais ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva)
debateu o gradualismo do BC
após a aprovação da reforma da
Previdência em primeiro turno de
votação na Câmara.
Segundo a Folha apurou, a avaliação do "núcleo duro", inclusive
do próprio ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), é que a
aprovação da reforma da Previdência em primeira etapa e os indicadores que mostram forte desaceleração da economia permitiriam maior ousadia na diminuição dos juros básicos da economia (a taxa Selic). Palocci, porém,
não quer pressionar o Copom.
Daí sua declaração para deixar o
órgão "trabalhar em paz".
Reunido desde ontem, o Copom deve anunciar hoje a nova
taxa básica de juros, atualmente
em 24,5% ao ano. No mercado, é
majoritária a opinião de que a taxa cairá 1,5 ponto percentual, para
23%.
Apesar de afirmarem categoricamente que Lula e Palocci não
interferem na decisão do Copom,
membros do governo disseram à
Folha que seria bem recebida no
Palácio do Planalto uma queda
nas taxas de juros entre 2 e 2,5
pontos percentuais.
Uma queda superior a 1,5 ponto
percentual teria, na avaliação do
"núcleo duro", um significado
simbólico por mostrar um BC
menos "atrelado" às expectativas
do mercado. Os juros reais ainda
estariam num patamar mais elevado do que no final de 2002, já
que a expectativa de inflação
anual é menor agora do que no
fim do ano passado.
Em novembro de 2002, o Copom elevou as taxas de juros de
21% para 22% ao ano. Na última
reunião do comitê da gestão Armínio Fraga, em dezembro, a taxa
foi para 25%, quando a expectativa inflacionária era bem superior
à atual.
Logo no primeiro mês da nova
equipe do Banco Central, sob o
governo Lula, os juros subiram
para 25,5%. Em fevereiro, a taxa
subiu mais um ponto percentual.
Após três meses sem alterações, o
Copom começou a cortar os juros
em junho (meio ponto). No mês
passado, reduziu a taxa para os
24,5% atuais.
Meirelles
A discussão da cúpula do governo sobre gradualismo é feita com
muita cautela porque o presidente do BC, Henrique Meirelles, tem
apresentado argumentos a favor
de sua tese considerados fortes
pelo Planalto e a Fazenda. O principal, segundo a Folha apurou, é
que, mantido o gradualismo
(com quedas em média de 1,5
ponto percentual por mês), o governo chegaria ao final de dezembro com taxa anual de juros na casa de 18%.
Meirelles argumenta ainda que
seria ruim dar uma paulada para
baixo nos juros e passar meses
sem diminuir a taxa. Ou pior: caso
haja volta da ameaça inflacionária, obrigar o Copom a elevá-la
novamente.
O "núcleo duro", porém, acredita ser baixo o risco de volta da
ameaça inflacionária e que haveria clima político na hora em que
o governo comemora um vitória
importante (aprovação da reforma da Previdência em primeiro
turno na Câmara).
Imagem
Como se preocupam em reafirmar a força de Palocci, Lula e o
"núcleo duro" também se preocupam com a imagem do ministro da Fazenda. Ou seja, se Palocci
foi o homem do ajuste fiscal duro,
também deverá ser o homem a
dar uma boa notícia ao setor produtivo da economia, baixando as
taxas de juros de forma mais significativa.
Incomodam muito Lula críticas
como as feitas repetidamente pelo
vice-presidente da República, José Alencar. Ao classificar o ano
como "perdido" na economia,
Alencar estimula uma imagem
negativa de Lula e de Palocci, avalia o Palácio do Planalto.
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