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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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Aprovação da reforma da Previdência permitiria redução maior

Para núcleo do governo, BC pode acelerar corte no juro

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do governo avalia que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) poderia "acelerar" o seu chamado gradualismo. Em outras palavras, acentuar a atual tendência de redução de juros, ao diminuir a taxa básica um pouco acima da expectativa do mercado.
De forma discreta, o "núcleo duro" (grupo de ministros e auxiliares petistas mais ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva) debateu o gradualismo do BC após a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno de votação na Câmara.
Segundo a Folha apurou, a avaliação do "núcleo duro", inclusive do próprio ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), é que a aprovação da reforma da Previdência em primeira etapa e os indicadores que mostram forte desaceleração da economia permitiriam maior ousadia na diminuição dos juros básicos da economia (a taxa Selic). Palocci, porém, não quer pressionar o Copom. Daí sua declaração para deixar o órgão "trabalhar em paz".
Reunido desde ontem, o Copom deve anunciar hoje a nova taxa básica de juros, atualmente em 24,5% ao ano. No mercado, é majoritária a opinião de que a taxa cairá 1,5 ponto percentual, para 23%.
Apesar de afirmarem categoricamente que Lula e Palocci não interferem na decisão do Copom, membros do governo disseram à Folha que seria bem recebida no Palácio do Planalto uma queda nas taxas de juros entre 2 e 2,5 pontos percentuais.
Uma queda superior a 1,5 ponto percentual teria, na avaliação do "núcleo duro", um significado simbólico por mostrar um BC menos "atrelado" às expectativas do mercado. Os juros reais ainda estariam num patamar mais elevado do que no final de 2002, já que a expectativa de inflação anual é menor agora do que no fim do ano passado.
Em novembro de 2002, o Copom elevou as taxas de juros de 21% para 22% ao ano. Na última reunião do comitê da gestão Armínio Fraga, em dezembro, a taxa foi para 25%, quando a expectativa inflacionária era bem superior à atual.
Logo no primeiro mês da nova equipe do Banco Central, sob o governo Lula, os juros subiram para 25,5%. Em fevereiro, a taxa subiu mais um ponto percentual. Após três meses sem alterações, o Copom começou a cortar os juros em junho (meio ponto). No mês passado, reduziu a taxa para os 24,5% atuais.

Meirelles
A discussão da cúpula do governo sobre gradualismo é feita com muita cautela porque o presidente do BC, Henrique Meirelles, tem apresentado argumentos a favor de sua tese considerados fortes pelo Planalto e a Fazenda. O principal, segundo a Folha apurou, é que, mantido o gradualismo (com quedas em média de 1,5 ponto percentual por mês), o governo chegaria ao final de dezembro com taxa anual de juros na casa de 18%.
Meirelles argumenta ainda que seria ruim dar uma paulada para baixo nos juros e passar meses sem diminuir a taxa. Ou pior: caso haja volta da ameaça inflacionária, obrigar o Copom a elevá-la novamente.
O "núcleo duro", porém, acredita ser baixo o risco de volta da ameaça inflacionária e que haveria clima político na hora em que o governo comemora um vitória importante (aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara).

Imagem
Como se preocupam em reafirmar a força de Palocci, Lula e o "núcleo duro" também se preocupam com a imagem do ministro da Fazenda. Ou seja, se Palocci foi o homem do ajuste fiscal duro, também deverá ser o homem a dar uma boa notícia ao setor produtivo da economia, baixando as taxas de juros de forma mais significativa.
Incomodam muito Lula críticas como as feitas repetidamente pelo vice-presidente da República, José Alencar. Ao classificar o ano como "perdido" na economia, Alencar estimula uma imagem negativa de Lula e de Palocci, avalia o Palácio do Planalto.


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