São Paulo, quinta, 20 de agosto de 1998

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POLÍTICA ECONÔMICA
Presidente do Banco Central repete que nível de reservas aguenta remessas de US$ 1 bi ou US$ 10 bi
Saída de dólares era esperada, diz Franco

CARI RODRIGUES
enviada especial a Porto Alegre

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, afirmou ontem que US$ 1 bilhão deixou o país na última terça-feira, mas minimizou a importância da saída de recursos externos ao responder a perguntas de empresários reunidos na Federasul (Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre (RS).
"Nosso nível de reservas é capaz de aguentar saídas de US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões, US$ 5 bilhões, US$ 10 bilhões. Isso não nos traz preocupação", afirmou. As reservas fecharam o mês de junho em pouco mais de US$ 70 bilhões.
Franco disse que a saída registrada no dia 18 estava prevista e refere-se a operações de curto prazo (geralmente recursos que ingressam no país para lucrar com o diferencial de juros).
Nos primeiros 18 dias do mês, deixaram o país US$ 3,576 bilhões, segundo números oficiais do BC e dados obtidos no mercado. O número mais aproximado de saída registrada anteontem foi de US$ 1,026 bilhão. No mês passado, ingressaram no país US$ 4,9 bilhões. Essa entrada foi impulsionada pela privatização da Telebrás.
Os dólares estão deixando o país pelo segmento de taxas livres, que opera com moeda estrangeira para comércio exterior (exportações e importações) e operações financeiras (investimentos diretos, ações, fundos).
Anteontem, deixaram o país US$ 2,669 bilhões pelo mercado de taxas livres. Grande parte desses recursos se refere a vencimentos de títulos de empresas privadas lançados no exterior para captar recursos.
Como os compradores dos papéis estão exigindo juros mais altos para comprar os papéis brasileiros, devido à crise externa, os tomadores estão quitando as operações e remetendo o dinheiro para fora do país.
Outra parte corresponde ao vencimento das operações conhecidas como "63 caipira" -empréstimos tomados no exterior, teoricamente destinados à agricultura, mas que podem ser aplicados em títulos com correção cambial.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Demósthenes Madureira de Pinho Neto, disse ontem que já estavam previstas saídas de recursos externos em agosto e setembro, quando vencem essas operações.
Ontem, Pinho Neto mudou a estimativa do valor dos empréstimos externos feitos por meio dessa modalidade que vencem neste mês e em setembro. Inicialmente, o BC havia dito que esse valor era de US$ 4 bilhões, depois passou para US$ 4,5 bilhões e, ontem, aumentou para US$ 5 bilhões.
Apesar das dificuldades para rolagem de empréstimos tomados no exterior, admitida anteontem por Franco, o diretor de Assuntos Internacionais do BC disse que não vê nada no cenário externo "que nos faça sair do rumo da política monetária". Ele se referia a mudanças na trajetória dos juros.
Pinho Neto disse que as reservas devem "flutuar" em torno dos US$ 70 bilhões nos próximos dois meses, mas não quis adiantar números. "Seria fútil prever em quanto poderão fechar as reservas em agosto", afirmou.



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