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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Ministro diz que país não crescerá o 1,8% previsto inicialmente

Palocci admite crescimento menor

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

Pela primeira vez neste ano o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) admitiu, publicamente, que o crescimento econômico em 2003 será menor do que o oficialmente esperado pelo governo, de 1,8%. "Esse é um fato", disse o ministro ontem em Dubai (Emirados Árabes Unidos).
Sua declaração foi em resposta a perguntas de jornalistas sobre se o país iria crescer menos do que a estimativa oficial do governo, dados os recentes indicadores de queda do nível da atividade econômica.
Para Palocci, sair da crise que o Brasil enfrentou no ano passado e no começo de 2003 sem ter queda do PIB (Produto Interno Bruto), como tiveram outros países, já é "uma grande vitória".
"É claro que todos queriam crescer, principalmente o ministro da Fazenda. Agora, sair de uma crise tem um custo. Você sair de uma crise sem perder PIB, essa é uma grande vitória do país. Não do ministro, [mas] do país, da economia, que fez esse ajuste [o aumento do saldo da balança comercial reduziu a dependência externa do Brasil]", disse ele.
Ele ressaltou depois, no entanto, que não queria dizer que a projeção atual de crescimento estava totalmente descartada.
Palocci lembrou que países como Malásia, Argentina, México e Coréia do Sul tiveram queda no PIB de 5% a 11% depois de passar por crises financeiras que levaram a ajustes nas contas externas.
"O Brasil pode sair [da crise] sem perder PIB. Agora, se se compara com economia que está crescendo, estamos crescendo menos."

Resposta positiva
O ministro não quis dizer de quanto poderia ser uma nova projeção usada pela Fazenda. Lembrou que os cortes recentes nos juros básicos (Selic) promovidos pelo Banco Central não têm impacto no "curtíssimo prazo", que levam algum tempo para que seus efeitos sejam sentidos completamente pela economia.
Palocci afirmou que a economia real já está respondendo, no entanto, de maneira positiva à queda dos juros definidos pelo Banco Central. Lembrou que os juros no mercado futuro, que superavam a taxa básica no começo do ano, agora estão mais baixos do que a Selic atual, em 20%.
Mas deu a entender que não negaria o fato de que o nível da atividade econômica está muito fraco. "Os números mostram, nós não brigamos contra números, de forma alguma", disse.

Núcleos estáveis
Para Palocci, indicadores recentes de inflação, que apontaram aumentos dos preços em setembro maiores do que nos meses passados, não significam piora de cenário.
O ministro lembrou que os núcleos dos índices de preços -que sinalizam a tendência da inflação futura- têm permanecido estáveis nas últimas semanas.
Na semana retrasada, o Ministério do Planejamento divulgou nota projetando que a economia deverá crescer cerca de 0,9% neste ano. Uma semana antes, quando encaminhou a proposta de Orçamento da União para 2004 ao Congresso, o governo, pelo menos em público, ainda contava com crescimento de 1,8% do PIB para este ano.
O próprio ministro do Planejamento, Guido Mantega, já havia confirmado a nova projeção de sua pasta para 2003. Mas é a primeira vez neste ano que Palocci admite que o crescimento poderá ficar menor do que 1,8%.
A nota do Planejamento foi divulgada para contestar a previsão feita na véspera pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado ao Ministério do Planejamento. Os pesquisadores do instituto estimaram que a economia brasileira cresceria 0,5% em 2003.
Palocci está em Dubai para o encontro anual conjunto do FMI (Fundo Monetário Internacional) com o Banco Mundial.


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