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RECEITA ORTODOXA
Ministro diz que país não crescerá o 1,8% previsto inicialmente
Palocci admite crescimento menor
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
Pela primeira vez neste ano o
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) admitiu, publicamente, que o crescimento econômico
em 2003 será menor do que o oficialmente esperado pelo governo,
de 1,8%. "Esse é um fato", disse o
ministro ontem em Dubai (Emirados Árabes Unidos).
Sua declaração foi em resposta a
perguntas de jornalistas sobre se o
país iria crescer menos do que a
estimativa oficial do governo, dados os recentes indicadores de
queda do nível da atividade econômica.
Para Palocci, sair da crise que o
Brasil enfrentou no ano passado e
no começo de 2003 sem ter queda
do PIB (Produto Interno Bruto),
como tiveram outros países, já é
"uma grande vitória".
"É claro que todos queriam
crescer, principalmente o ministro da Fazenda. Agora, sair de
uma crise tem um custo. Você sair
de uma crise sem perder PIB, essa
é uma grande vitória do país. Não
do ministro, [mas] do país, da
economia, que fez esse ajuste [o
aumento do saldo da balança comercial reduziu a dependência
externa do Brasil]", disse ele.
Ele ressaltou depois, no entanto,
que não queria dizer que a projeção atual de crescimento estava
totalmente descartada.
Palocci lembrou que países como Malásia, Argentina, México e
Coréia do Sul tiveram queda no
PIB de 5% a 11% depois de passar
por crises financeiras que levaram
a ajustes nas contas externas.
"O Brasil pode sair [da crise]
sem perder PIB. Agora, se se compara com economia que está crescendo, estamos crescendo menos."
Resposta positiva
O ministro não quis dizer de
quanto poderia ser uma nova
projeção usada pela Fazenda.
Lembrou que os cortes recentes
nos juros básicos (Selic) promovidos pelo Banco Central não têm
impacto no "curtíssimo prazo",
que levam algum tempo para que
seus efeitos sejam sentidos completamente pela economia.
Palocci afirmou que a economia
real já está respondendo, no entanto, de maneira positiva à queda dos juros definidos pelo Banco
Central. Lembrou que os juros no
mercado futuro, que superavam a
taxa básica no começo do ano,
agora estão mais baixos do que a
Selic atual, em 20%.
Mas deu a entender que não negaria o fato de que o nível da atividade econômica está muito fraco.
"Os números mostram, nós não
brigamos contra números, de forma alguma", disse.
Núcleos estáveis
Para Palocci, indicadores recentes de inflação, que apontaram
aumentos dos preços em setembro maiores do que nos meses
passados, não significam piora de
cenário.
O ministro lembrou que os núcleos dos índices de preços -que
sinalizam a tendência da inflação
futura- têm permanecido estáveis nas últimas semanas.
Na semana retrasada, o Ministério do Planejamento divulgou
nota projetando que a economia
deverá crescer cerca de 0,9% neste
ano. Uma semana antes, quando
encaminhou a proposta de Orçamento da União para 2004 ao
Congresso, o governo, pelo menos em público, ainda contava
com crescimento de 1,8% do PIB
para este ano.
O próprio ministro do Planejamento, Guido Mantega, já havia
confirmado a nova projeção de
sua pasta para 2003. Mas é a primeira vez neste ano que Palocci
admite que o crescimento poderá
ficar menor do que 1,8%.
A nota do Planejamento foi divulgada para contestar a previsão
feita na véspera pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado ao Ministério
do Planejamento. Os pesquisadores do instituto estimaram que a
economia brasileira cresceria
0,5% em 2003.
Palocci está em Dubai para o encontro anual conjunto do FMI
(Fundo Monetário Internacional)
com o Banco Mundial.
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