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Vinte anos atrás, Bolsa de Nova York vivia a sua "segunda-feira negra"
MICHAEL MACKENZIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK
Vinte anos atrás, em 19 de
outubro, os operadores de
mercados de ações e investidores assistiram com "fascínio horrorizado" a uma queda
de 22,6% em uma única sessão, na Bolsa de Nova York.
Jamais houve um dia de tamanha baixa, antes ou depois.
O crash de 1987 foi marcado
por uma queda quase duas vezes maior que a perda diária
mais alta registrada na crise
de 1929. Pouco admira que o
dia seja relembrado como
"segunda-feira negra".
As reverberações se fizeram sentir em mercados de
todo o mundo. Ainda que
muitos deles viessem a recuperar o equilíbrio bem mais
rápido do que as pessoas temiam, os acontecimentos daquele dia mudaram fundamentalmente a maneira de
pensar sobre como funcionam os mercados de ações.
O crash se tornou o marco
pelo qual todos os períodos
subseqüentes de agitação no
mercado passaram a ser medidos. Foi um momento supremo, no qual o medo superou a cobiça. Restam em atividade muitos operadores e
profissionais de investimento
capazes de rememorar vividamente aquele momento,
em que o medo superou a cobiça dos investidores.
Duas décadas depois, a forma e os métodos de negociar
ações mudaram de muitas
maneiras. Mas o fator humano, caracterizado pelo medo
de perder dinheiro ou de perder uma oportunidade de lucro à medida que uma alta se
alonga, continua a ser o elemento combustível essencial
dos mercados, aquilo que
John Maynard Keynes designava como "espírito animal".
"Uma crise gira acima de
tudo em torno de emoções
humanas, cobiça e medo", diz
Jim Paulsen, estrategista-chefe da Wells Capital Management. "Os fundamentos
não mudam tanto assim. Colapsos e pânicos são uma história bem antiga. E funcionam da mesma maneira em
qualquer parte do mundo."
Inicialmente, à medida que
a "segunda-feira negra" se desenrolava, os operadores não
compreenderam plenamente
a magnitude da crise em curso e presumiram que haveria
uma recuperação.
"Quando o mercado começou a cair, os assistentes dos
operadores brincavam dizendo que "é hora do bungee'",
diz uma pessoa que estava no
pregão naquele dia. Mas a
corda do bungee se esticaria
muito antes de voltar a arremessar o mercado para cima.
A escala das vendas, cuja intensidade foi reforçada por
programas computadorizados de operações que lançavam novas ordens de venda a
cada vez que as ações derrubavam certas marcas de queda, era maior do que a que os
operadores e o sistema de
transações baseado em papel
e telefones da Bolsa eram capazes de enfrentar.
"As pessoas ficaram chocadas por o mercado operar daquele jeito", afirma Anthony
Conroy, diretor da BNYConvergEx, que em 1987 estava
no Lehman Brothers. "Quem
estava por aqui em 1987 e
continua no mercado aprendeu a considerar os investimentos com mais dureza.
Tendo atravessado um declínio como aquele, você certamente fica mais cauteloso."
Paulsen, que em 1987 trabalhava em um banco de investimento, diz que ficou
"mais fascinado do que apavorado. Você tinha a sensação
de que estava vivendo um
momento histórico".
Para Tobias Levkovich, estrategista-chefe no Citigroup,
1987 marcou seu primeiro
ano em Wall Street, como
analista júnior, e ele diz que a
experiência o ensinou a ter
"muita humildade".
A empresa para a qual Levkovich trabalhava fechou
poucos meses mais tarde, e
ele lembra uma sensação de
assistir ao desenvolvimento
da história. "Era algo notável.
Nós íamos à Bolsa para assistir ao fechamento. As pessoas
não conseguiam acompanhar
o que estava acontecendo."
Mas apenas dois anos mais
tarde, o índice Dow Jones já
havia se recuperado. Nos
anos subseqüentes, os investidores temiam o próximo
crash, à medida que as transações eletrônicas, o papel predominante dos fundos de
hedge e novos produtos como
os derivativos de ações transformavam Wall Street.
"A disseminação de informações ficou tão mais rápida.
Isso pode ou acelerar a mentalidade de rebanho ou ajudar
a dispersar essa espécie de
risco", diz William Strazzullo,
da BellCurve Trading.
Depois de 1987, limites de
transações e sistemas de paralisação automática foram
introduzidos com o objetivo
de esfriar as coisas em caso de
novo colapso. Sempre que o
índice composto da Bolsa de
Nova York se movimenta em
150 pontos ou mais em relação ao pregão anterior, as
transações conduzidas por
ordem de programas de computador são suspensas. Uma
queda de 10% resulta em suspensão automática do pregão
por uma hora, como forma de
prevenir pânico.
O mecanismo só foi utilizado uma vez, em 1997, durante
a crise financeira asiática.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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