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Com apenas 5 aviões, BRA prepara redução de vôos
Contando com metade da frota, empresa propõe nova malha à Anac
Após divergências com a direção da companhia, fundos de investimento
parceiros pararam de injetar recursos há um mês
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A BRA apresentou ontem
uma nova malha aérea à Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) com o objetivo de adequar as operações à sua crise financeira: a empresa vai voar
com apenas 5 aviões, com um
sexto para reserva técnica, de
uma frota de 10. Os fundos de
investimento que vinham financiando a companhia aérea
pararam de aportar recursos na
empresa há um mês.
A companhia aérea -cujo
presidente, Humberto Folegatti, anunciou anteontem que
deixará o cargo- não está mais
operando no aeroporto de Congonhas (São Paulo) e teve seus
vôos internacionais suspensos
temporariamente pela agência.
A Anac ainda não tem detalhes
sobre a nova malha proposta.
A BRA tinha uma participação de mercado em vôos internacionais de 3,82% em setembro. No mercado doméstico, o
percentual era de 4,60%, a terceira maior em market-share.
Segundo a empresa, com a
suspensão dos vôos internacionais, ontem 30 passageiros
aguardavam em Madri e outros
23 em Milão para embarcar para seus destinos, além de 35 em
Recife. Como a BRA não faz
parte de uma câmara de compensação internacional -um
mecanismo que permitiria a
alocação dos passageiros em
vôos de outras companhias aéreas sem maiores custos adicionais imediatos-, a BRA teve de
pagar o valor dos bilhetes para a
portuguesa Luzair, o que prejudica ainda mais a sua situação.
No final do ano passado, a
Brazil Air Partners, que tem sócios como a Gávea, administradora de recursos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, entre outros fundos
de investimento, anunciou a
compra de parte da BRA. A entrada dos fundos foi divulgada,
à época, como o início de uma
gestão profissional.
Consultores contratados pelos novos investidores passaram a acompanhar o dia-a-dia
da empresa, mas, segundo a
Folha apurou, tiveram dificuldade em conseguir informações e fazer mudanças por causa da resistência de Folegatti.
Especialistas afirmam que os
fundos chegaram a investir cerca de US$ 70 milhões na companhia, mas os recursos não foram usados para investimentos
na expansão da malha.
Como o presidente não quis
se afastar do controle, a relação
com os fundos se deteriorou, e
estes pararam de aportar recursos há cerca de um mês.
"A Gávea é irrelevante nesse
caso", afirmou Fraga à Folha.
"Nossa posição na empresa é
pequena, tem gente muito
maior. Mas prefiro não comentar o caso", completou.
No início deste mês, devido a
reclamações de passageiros sobre atrasos e cancelamentos, a
Anac determinou auditoria na
BRA. A recomendação de funcionários da agência reguladora foi pela suspensão de venda
de bilhetes, mas, segundo a Folha apurou, a medida foi vetada
pelo diretor-presidente da
Anac, Milton Zuanazzi.
O diretor-técnico da empresa, Jair Evaristo, pediu demissão há 15 dias e foi interrogado
pela Anac sobre a saída. Ele negou que houvesse qualquer relação com a situação da empresa e afirmou que não há nenhum problema com a manutenção dos seus aviões. O diretor financeiro da companhia
aérea tomou a decisão, nesta
semana, de deixar a empresa.
No setor, a avaliação é a de
que a companhia depende agora da entrada dos fundos de investimento na gestão.
A situação se reflete principalmente na dificuldade de
manter os aviões em operação.
Depois de negociar dívidas, a
BRA pagou à Vasp neste mês.
Além disso, a BRA enfrenta
dificuldades de abastecimento
de peças e combustível, segundo a Folha apurou.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas encaminhou denúncias ao Ministério Público do
Trabalho e à Anac sobre o excesso de jornada dos trabalhadores e sobre os salários da empresa. Já existem processos em
Guarulhos e em Natal.
"O excesso de jornada é uma
constante na BRA", diz Graziela Baggio, presidente do sindicato. O sindicato fez denúncia à
Agência Nacional de Vigilância
Sanitária de que os alimentos
da tripulação ficam muitas horas a bordo, o que facilita a deterioração. Com isso, os tripulantes evitam se alimentar a
bordo, afirma o sindicato.
Em nota, a BRA afirmou que
a empresa tem enfrentado problemas por conta de serviços
de manutenção não-programados, além do atraso no recebimento de dois aviões.
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