São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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Com apenas 5 aviões, BRA prepara redução de vôos

Contando com metade da frota, empresa propõe nova malha à Anac

Após divergências com a direção da companhia, fundos de investimento parceiros pararam de injetar recursos há um mês

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A BRA apresentou ontem uma nova malha aérea à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) com o objetivo de adequar as operações à sua crise financeira: a empresa vai voar com apenas 5 aviões, com um sexto para reserva técnica, de uma frota de 10. Os fundos de investimento que vinham financiando a companhia aérea pararam de aportar recursos na empresa há um mês.
A companhia aérea -cujo presidente, Humberto Folegatti, anunciou anteontem que deixará o cargo- não está mais operando no aeroporto de Congonhas (São Paulo) e teve seus vôos internacionais suspensos temporariamente pela agência. A Anac ainda não tem detalhes sobre a nova malha proposta.
A BRA tinha uma participação de mercado em vôos internacionais de 3,82% em setembro. No mercado doméstico, o percentual era de 4,60%, a terceira maior em market-share.
Segundo a empresa, com a suspensão dos vôos internacionais, ontem 30 passageiros aguardavam em Madri e outros 23 em Milão para embarcar para seus destinos, além de 35 em Recife. Como a BRA não faz parte de uma câmara de compensação internacional -um mecanismo que permitiria a alocação dos passageiros em vôos de outras companhias aéreas sem maiores custos adicionais imediatos-, a BRA teve de pagar o valor dos bilhetes para a portuguesa Luzair, o que prejudica ainda mais a sua situação.
No final do ano passado, a Brazil Air Partners, que tem sócios como a Gávea, administradora de recursos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, entre outros fundos de investimento, anunciou a compra de parte da BRA. A entrada dos fundos foi divulgada, à época, como o início de uma gestão profissional.
Consultores contratados pelos novos investidores passaram a acompanhar o dia-a-dia da empresa, mas, segundo a Folha apurou, tiveram dificuldade em conseguir informações e fazer mudanças por causa da resistência de Folegatti.
Especialistas afirmam que os fundos chegaram a investir cerca de US$ 70 milhões na companhia, mas os recursos não foram usados para investimentos na expansão da malha.
Como o presidente não quis se afastar do controle, a relação com os fundos se deteriorou, e estes pararam de aportar recursos há cerca de um mês.
"A Gávea é irrelevante nesse caso", afirmou Fraga à Folha. "Nossa posição na empresa é pequena, tem gente muito maior. Mas prefiro não comentar o caso", completou.
No início deste mês, devido a reclamações de passageiros sobre atrasos e cancelamentos, a Anac determinou auditoria na BRA. A recomendação de funcionários da agência reguladora foi pela suspensão de venda de bilhetes, mas, segundo a Folha apurou, a medida foi vetada pelo diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi.
O diretor-técnico da empresa, Jair Evaristo, pediu demissão há 15 dias e foi interrogado pela Anac sobre a saída. Ele negou que houvesse qualquer relação com a situação da empresa e afirmou que não há nenhum problema com a manutenção dos seus aviões. O diretor financeiro da companhia aérea tomou a decisão, nesta semana, de deixar a empresa.
No setor, a avaliação é a de que a companhia depende agora da entrada dos fundos de investimento na gestão.
A situação se reflete principalmente na dificuldade de manter os aviões em operação. Depois de negociar dívidas, a BRA pagou à Vasp neste mês.
Além disso, a BRA enfrenta dificuldades de abastecimento de peças e combustível, segundo a Folha apurou.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas encaminhou denúncias ao Ministério Público do Trabalho e à Anac sobre o excesso de jornada dos trabalhadores e sobre os salários da empresa. Já existem processos em Guarulhos e em Natal.
"O excesso de jornada é uma constante na BRA", diz Graziela Baggio, presidente do sindicato. O sindicato fez denúncia à Agência Nacional de Vigilância Sanitária de que os alimentos da tripulação ficam muitas horas a bordo, o que facilita a deterioração. Com isso, os tripulantes evitam se alimentar a bordo, afirma o sindicato.
Em nota, a BRA afirmou que a empresa tem enfrentado problemas por conta de serviços de manutenção não-programados, além do atraso no recebimento de dois aviões.


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