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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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Apesar do corte acima do esperado, taxa real ainda é a maior do mundo

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do corte, acima da expectativa do mercado, de 1,5 ponto percentual na Selic, o país ainda tem a maior taxa real do planeta. O juro real passou de 11,98% ao ano, em outubro, para 10,92% agora, segundo cálculo da UAM (Unibanco Asset Management).
De acordo com estudo da Global Invest, Israel -o segundo no ranking dos juros- tem taxa real de 8,4% ao ano, e a Hungria, de 6,5%. O juro real no Brasil foi calculado pela UAM com base na Selic efetiva -aquela praticada diariamente no mercado-, com desconto da expectativa de inflação para 12 meses à frente, divulgada semanalmente pelo BC (Banco Central).
Nos demais países, a Global Invest projeta a inflação futura com base na média mensal deste ano. De acordo com Alexsandro Agostini Barbosa, economista da empresa, o juro real encostou na taxa de equilíbrio estimada por alguns especialistas -de 10,5% ao ano. A taxa de equilíbrio, segundo os economistas, é aquela que permite otimizar o maior crescimento possível da economia com o patamar desejado para a inflação.
Mas não há consenso, entre os economistas, sobre o patamar de equilíbrio da taxa de juro real. "Por enquanto é difícil determinar qual é a taxa de juros adequada para proporcionar crescimento sem acelerar a inflação", diz Luiz Suzigan, economista-chefe da LCA Consultoria.
A dificuldade em cravar um ponto de equilíbrio, segundo ele, estaria nas mudanças recentes na economia: "Passamos por um choque de juros, em 2002 e no início deste ano, e por mudanças na conta corrente do balanço de pagamentos do país", diz Suzigan.
O balanço de pagamentos é o saldo das transações comerciais e financeiras do país. "Essa conta, que era deficitária em US$ 4 bilhões, está equilibrada hoje, o que reduz a necessidade de financiamento externo do país."
Ou seja, se o Brasil precisa de menos recursos externos para se financiar, pela lógica, o juro real não tem de ser tão alto para atrair investidores. Para Suzigan, a taxa está alta e inviabiliza o crescimento. "Se, nos próximos três anos, continuarmos com taxa real em torno dos 11%, não haverá crescimento de 3,5% do PIB [Produto Interno Bruto], como projeta o governo para 2004", diz.
Também não há consenso sobre o crescimento possível e seu fôlego num contexto de controle da inflação. "No ano 2000, o juro real estava em torno de 10,5% ao ano, e o PIB cresceu 4,5%. Mas, no ano seguinte, o país entrou em recessão", diz Jorge Simino, diretor da UAM.
Segundo Simino, para crescer de forma consistente, não basta só administrar a taxa de juros. "É preciso aumentar a produtividade, os investimentos e melhorar a infra-estrutura", diz.


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