São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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VIZINHO EM CRISE

Negociadores de títulos públicos são obrigados a emprestar ainda mais dinheiro para o governo de De La Rúa

Bancos tiveram de entrar no pacote do FMI

JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

O governo da Argentina precisou alterar regras para garantir que os 12 grandes bancos que atuam no mercado interno tomassem parte no socorro financeiro liderado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Na divisão do pacote de US$ 39,7 bilhões anunciado anteontem, o conjunto de instituições responde por US$ 10 bilhões, superados somente pelo próprio Fundo, com US$ 13,7 bilhões. Mas enquanto a parte do FMI pode ser tomada como um vultoso ""cheque especial", o comprometimento dos bancos é maior.
Esses bancos, chamados "market makers" (instituições muito influentes), financiarão o governo por meio das licitações de títulos públicos ao longo de 2001. A função desses agentes é garantir a liquidez no mercado. Mas, para se manter no posto, estão obrigados a fazer ofertas de compra e de venda contínua para os papéis sob sua responsabilidade.
No caso da Argentina, a saída encontrada pelo governo para garantir no próximo ano uma constante demanda por seus títulos, ao menos no mercado interno, foi aumentar de 6% para 9% a quantidade mínima de papéis que cada um desses bancos terá que se comprometer a comprar durante as licitações. Como em 2001, o número de "market makers" locais será reduzido de 12 para 11, o governo tem de antemão garantidas ofertas para, no mínimo, 99% dos títulos.
As taxas de juros serão definidas a cada operação, de acordo com as condições do mercado -este ano, o país chegou a pagar taxas de 16% para obter financiamento, contra a média de 9% em 1999.
Prevalece, no entanto, uma regra antiga: a instituição que não participar de uma licitação perde o posto de "market maker".
""Para o governo é um grande negócio porque demonstra ao investidor externo que seus títulos têm procura. A nós não interessava que a Argentina tivesse mais problemas, foi uma forma de respaldo e de preservar nossos interesses", Javier Finkman, economista-chefe do HSBC.
""Todos aceitaram porque não querem perder o posto de "market maker". O segundo aspecto é que os negócios de um banco são de longo prazo. Para isso, precisa de mercado e a Argentina é um deles", disse Gustavo Cañoneiro, do Deutsche Bank.
Antes de confirmar a ajuda financeira, o Fundo Monetário exigiu por escrito o comprometimento dos 12 bancos. Tentava se resguardar de cometer mais uma vez o erro do empréstimo à Rússia, em 1998, quando o dinheiro serviu para resgatar uma série de credores e financiou também uma fuga de capitais, já que os bancos não tinham qualquer vínculo com o socorro.


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