São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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Tailândia dá susto no mercado global

Bolsa do país despenca 15% após medidas de controle de capital; Bovespa chegou a perder 1,42%, mas fechou em alta de 0,19%

Para analistas, impacto deve ser pequeno e de curto prazo; inflação maior que a prevista nos EUA também preocupou investidores


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro global tomou um susto ontem. Uma série de medidas anunciadas pelo governo da Tailândia para controlar a presença de capital especulativo no país pegou os investidores de surpresa e fez com que os mercados abrissem em terreno negativo. Nas principais Bolsas de Valores da Ásia e da Europa, o dia foi de perdas importantes.
No Brasil, a Bovespa chegou a registrar desvalorização de 1,42% no pior momento do dia. Mas, na última hora de pregão, iniciou um movimento de recuperação e acabou por fechar com alta de 0,19%. A baixa dos preços atraiu investidores para diferentes ações brasileiras.
O mesmo ocorreu na Bolsa de Nova York. O índice Dow Jones chegou a cair 0,35%, mas encerrou suas operações com ganhos de 0,24%. A Nasdaq recuou 0,25%.
Além da preocupação com a Tailândia, os EUA divulgaram que o PPI (índice de inflação ao produtor) subiu 2% em novembro, a maior alta em 32 anos. O resultado ficou muito acima do esperado e desagradou ao mercado.
Os mercados que mais sofreram com as medidas de controle tailandesas foram os asiáticos. A Bolsa da Tailândia despencou 14,84%. Na Indonésia, a queda foi de 2,85%; em Hong Kong, de 1,19%; o índice Nikkei, de Tóquio, teve baixa de 1,09%.
Na Europa, as principais perdas ficaram com as Bolsas de Paris (-0,82%), Londres (-0,70%) e Frankfurt (-0,66%).
Sobre as medidas tomadas na Tailândia, Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas, diz que "há algum reflexo pontual nos mercados, mas que o ambiente segue favorável". "Alguns investidores devem ter tido perdas na Ásia, sendo obrigados a realizar [em outros mercados] para ajustar suas carteiras. Mas os impactos são de curtíssimo prazo", diz.
As Bolsas de Valores atravessam um período de fortes ganhos, estando muitas delas em seus mais elevados níveis históricos -como no Brasil, no México, na Argentina e nos EUA. Por isso, já há analistas que questionam se o mercado acionário não atravessa um momento de "bolha".
Mas o desempenho do mercado ontem parece mostrar que as Bolsas estão fortes e podem seguir conquistando novos patamares. Analistas ouvidos pela Folha não entendem que o "susto" dado ontem pela Tailândia seja o prenúncio de um momento crítico, como a crise asiática de 1997, que contaminou e castigou os mercados mundiais naquele período.
O dólar terminou o pregão ontem com alta de 0,56% diante do real. Vendido a R$ 2,162, o dólar fechou em seu mais elevado valor em duas semanas.
"A Tailândia afetou um pouco, mas não entendo que vá prejudicar o desempenho do câmbio. Não vejo motivos para pensarmos na crise de 97", afirma Mário Batisttel, diretor de câmbio da corretora Novação. "Era esperado que o dólar tivesse alguma alta nesses últimos dias de 2006."
Segundo Batisttel, é possível que o mercado brasileiro até venha a receber uma parcela dos recursos que os investidores internacionais estavam planejando aplicar na Tailândia.
Por outro lado, a alta da inflação nos EUA sinaliza que há menos espaço para que os juros básicos americanos, que estão em 5,25%, venham a cair ainda no primeiro trimestre de 2007, como esperava parte do mercado. E, para os emergentes, quanto mais baixa estiver a taxa dos EUA, mais atraentes eles ficam ao capital externo.
Apesar do dia agitado, o risco-país brasileiro marcava ontem no fim do dia 199 pontos -menor patamar histórico-, em queda de 1,9% em relação ao fechamento de segunda-feira. Isso significa que os investidores não correram para se desfazer dos títulos da dívida brasileira devido às incertezas em relação à Tailândia.
O risco em níveis mais baixos indica que o Brasil representa no momento um perigo menor de dar calote. Assim, os investidores passam a cobrar taxas mais baratas na hora de emprestarem ao país.
Na BM&F, os juros subiram nos contratos de prazo mais longo, refletindo o desconforto com a inflação nos EUA. No contrato DI que vence em 12 meses, a taxa foi de 12,42% a 12,47% anuais.


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