São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo tailandês recua após queda recorde na Bolsa

Medida previa retenção durante um ano de 30% do capital de investidor estrangeiro usado na compra de ações no país

Bolsa de Bancoc tem pior resultado desde a crise asiática, de 1997; intenção da medida era conter a valorização da moeda local


Efe
Corretora de Hong Kong imprime cotação; a Bolsa de Bancoc fechou em queda de 15% ontem


DA REDAÇÃO

Não duraram 24 horas as medidas do governo militar da Tailândia para controlar a valorização do baht, a moeda local. Por volta das 20h de ontem (hora local), o ministro das Finanças, Pridiyathorn Devakula, revogou -após a Bolsa local cair 15% no primeiro dia de sua vigência- a decisão que controlava o capital estrangeiro no mercado de ações.
"Essa foi uma lição que mostra que medidas que foram bem-sucedidas em outros países devem ser analisadas totalmente [antes de sua implementação]", disse Devakula, um respeitado economista que era o presidente do banco central antes do golpe de setembro.
Porém, permanecerá a parte do pacote que trata do controle de investimentos estrangeiros em títulos e papéis comerciais.
A intenção do governo ao reter o capital estrangeiro era reduzir a entrada do capital especulativo e conter a valorização do baht. Segundo o Banco da Tailândia (o BC local), US$ 950 milhões em capital especulativo entraram no país na primeira semana de dezembro -a média semanal de novembro foi de US$ 300 milhões. Com o grande fluxo, a cotação da moeda americana despencou.
Na segunda-feira, a moeda tailandesa atingiu seu maior nível em nove anos em relação ao dólar: US$ 1 valia 35,09 bahts. Nos últimos três anos, ela se valorizou 20% em relação à moeda americana -7% só nos três últimos meses. Após a medida, a valorização aparentemente foi contida, e o dólar terminou a terça cotado a 35,93 bahts.
O temor do governo é que a valorização da moeda local prejudique as exportações do país, já que os produtos terão preços menos competitivos no exterior -o que poderia reprimir o crescimento econômico. A previsão é que o PIB (Produto Interno Bruto) tailandês cresça mais de 5% neste ano, contra 4,5% em 2005.

Medida do governo
A medida tomada pelo governo tailandês significava, na prática, que, a cada US$ 100 mil trazidos para o país por investidores estrangeiros, apenas US$ 70 mil poderiam ser usados na compra de títulos e ações. O restante do dinheiro, US$ 30 mil, ficaria retido pelo banco central durante um ano -sem correção. Caso o investidor decidisse retirar o montante antes de um ano, ele só receberia dois terços da quantia.
Com isso, houve uma fuga do capital não-tailandês. Os estrangeiros, que possuem cerca de 30% das ações vendidas na Bolsa de Bancoc (US$ 50 bilhões), venderam ontem aproximadamente US$ 600 milhões em ações.
Apesar de a decisão ter sido revogada, vários investidores já disseram que o mercado não deve se recuperar rapidamente. Devakula, porém, disse acreditar em um cenário diferente. "Como nós alteramos [a medida] um dia após a sua implementação, não foi tarde demais. O mercado de ações voltará ao normal, e o restante da economia está em boa forma."

Queda na Bolsa
A queda na Bolsa tailandesa foi a maior desde a crise asiática, em 1997. Ela suspendeu suas operações por uma hora e meia ainda pela manhã depois que houve uma queda de 10% -a primeira vez em que essa medida é tomada desde sua criação, há 31 anos. A Bolsa chegou a recuar até 18%, mas se recuperou antes do final do pregão. Um investidor chegou a classificar o cenário como "um banho de sangue". As autoridades disseram que haveria uma nova interrupção, caso a Bolsa chegasse a cair 20%.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Tailândia dá susto no mercado global
Próximo Texto: Memória: Em 1997, crise na Ásia atingiu emergentes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.