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ARTIGO
Poupança, um bom negócio
DÉCIO TENERELLO
Segurança, rentabilidade e simplicidade. Esses são os três atributos do mais popular dos investimentos no Brasil: a velha e boa
poupança. Tal realidade, comprovada ao longo dos 30 anos de existência da caderneta, contrasta hoje com algumas críticas despertadas pela alteração do cálculo da
Taxa Referencial (TR) de juros.
A impressão que fica, a partir
dessas opiniões, é que esses predicados pertencem ao passado. As
cadernetas de poupança teriam sido rebaixadas à condição de um
dos piores investimentos financeiros. Nada mais equivocado. O
poupador, seguramente, não é um
perdedor.
É inegável que a nova fórmula de
apuração do redutor da TR terá
impacto no rendimento da poupança. Daí a concluir que a aplicação transformou-se em mau negócio é uma falsa generalização. Os
ganhos da poupança continuam
compatíveis com as necessidades
de preservação de recursos e de lucratividade da maior parte da população.
O que escapa a essas críticas é
justamente o fato de que o perfil
básico de quem aplica em caderneta é de pequenos e médios investidores. Eles optam pela segurança de aplicação em caderneta,
seja porque ainda não têm acesso a
ativos financeiros de risco, seja
porque são pouco afeitos à especulação financeira e não querem
arriscar o pouco que pouparam.
Para os pequenos e médios investidores, o rendimento da poupança continua adequado à inexistência de risco. Além da correção monetária, as cadernetas têm
uma rentabilidade real superior a
6% ao ano. São beneficiadas com a
isenção do Imposto de Renda, o
que faz com que a rentabilidade
seja absoluta.
Além disso, as reaplicações são
automáticas e isentas da cobrança
da CPMF. Para os depósitos que
permanecem em conta durante o
período de três meses, também há
o benefício do reembolso da
CPMF. Segundo projeções, a poupança terá ganho em torno de 8%
acima da inflação neste ano.
Um dos ativos financeiros garantidos pelo governo (para saldos
de até RÏ 20 mil), a caderneta é o
mais simples e adequado instrumento de formação de poupança
do país, entre outras razões, porque é acessível à maior parte da
população.
Um dado que atesta essa realidade é a evolução da captação de recursos da poupança. O saldo das
aplicações saltou de RÏ 36,8 bilhões em dezembro de 94, ano da
edição do Plano Real, para quase
RÏ 60 bilhões em dezembro de 96.
Um crescimento superior a 63%.
No ano passado, superava os RÏ
80 bilhões, com evolução de 117%
sobre 94.
É fato que a mudança nas regras
do cálculo da TR provocou a migração de pequena parte dos recursos para outras aplicações. O
montante é inferior a 2% da carteira, e o movimento já era esperado.
Por conta da alta e artificial rentabilidade da caderneta no ano passado, houve a entrada de capital
especulativo na carteira.
São justamente esses investidores sem tradição na poupança que,
agora, estão fazendo resgates.
Tendo em vista as características e
a manutenção da atratividade da
poupança, os agentes financeiros
não acreditam em quedas mais
significativas.
O governo tem dado demonstrações inequívocas de que se dispõe
a estimular o ato de poupar. As reformas macroeconômicas em andamento vão incentivar maior
abrangência da poupança, que está na base de todas as nações industrializadas.
Nesse cenário, a caderneta de
poupança terá papel dos mais importantes. E não é à toa. Pelas suas
características, a poupança, sem
dúvida nenhuma, foi, é e continuará sendo o maior instrumento
popular de acumulação de recursos do país.
Décio Tenerello, 53, é vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e do Banco Bradesco S/A.
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