São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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ARTIGO
Poupança, um bom negócio

DÉCIO TENERELLO

Segurança, rentabilidade e simplicidade. Esses são os três atributos do mais popular dos investimentos no Brasil: a velha e boa poupança. Tal realidade, comprovada ao longo dos 30 anos de existência da caderneta, contrasta hoje com algumas críticas despertadas pela alteração do cálculo da Taxa Referencial (TR) de juros.
A impressão que fica, a partir dessas opiniões, é que esses predicados pertencem ao passado. As cadernetas de poupança teriam sido rebaixadas à condição de um dos piores investimentos financeiros. Nada mais equivocado. O poupador, seguramente, não é um perdedor.
É inegável que a nova fórmula de apuração do redutor da TR terá impacto no rendimento da poupança. Daí a concluir que a aplicação transformou-se em mau negócio é uma falsa generalização. Os ganhos da poupança continuam compatíveis com as necessidades de preservação de recursos e de lucratividade da maior parte da população.
O que escapa a essas críticas é justamente o fato de que o perfil básico de quem aplica em caderneta é de pequenos e médios investidores. Eles optam pela segurança de aplicação em caderneta, seja porque ainda não têm acesso a ativos financeiros de risco, seja porque são pouco afeitos à especulação financeira e não querem arriscar o pouco que pouparam.
Para os pequenos e médios investidores, o rendimento da poupança continua adequado à inexistência de risco. Além da correção monetária, as cadernetas têm uma rentabilidade real superior a 6% ao ano. São beneficiadas com a isenção do Imposto de Renda, o que faz com que a rentabilidade seja absoluta.
Além disso, as reaplicações são automáticas e isentas da cobrança da CPMF. Para os depósitos que permanecem em conta durante o período de três meses, também há o benefício do reembolso da CPMF. Segundo projeções, a poupança terá ganho em torno de 8% acima da inflação neste ano.
Um dos ativos financeiros garantidos pelo governo (para saldos de até RÏ 20 mil), a caderneta é o mais simples e adequado instrumento de formação de poupança do país, entre outras razões, porque é acessível à maior parte da população.
Um dado que atesta essa realidade é a evolução da captação de recursos da poupança. O saldo das aplicações saltou de RÏ 36,8 bilhões em dezembro de 94, ano da edição do Plano Real, para quase RÏ 60 bilhões em dezembro de 96. Um crescimento superior a 63%. No ano passado, superava os RÏ 80 bilhões, com evolução de 117% sobre 94.
É fato que a mudança nas regras do cálculo da TR provocou a migração de pequena parte dos recursos para outras aplicações. O montante é inferior a 2% da carteira, e o movimento já era esperado. Por conta da alta e artificial rentabilidade da caderneta no ano passado, houve a entrada de capital especulativo na carteira.
São justamente esses investidores sem tradição na poupança que, agora, estão fazendo resgates. Tendo em vista as características e a manutenção da atratividade da poupança, os agentes financeiros não acreditam em quedas mais significativas.
O governo tem dado demonstrações inequívocas de que se dispõe a estimular o ato de poupar. As reformas macroeconômicas em andamento vão incentivar maior abrangência da poupança, que está na base de todas as nações industrializadas.
Nesse cenário, a caderneta de poupança terá papel dos mais importantes. E não é à toa. Pelas suas características, a poupança, sem dúvida nenhuma, foi, é e continuará sendo o maior instrumento popular de acumulação de recursos do país.


Décio Tenerello, 53, é vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e do Banco Bradesco S/A.



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