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LUÍS NASSIF
O pós-lua-de-mel
O problema do governo
Lula não é a falta de ritmo atual. Apenas o mercado,
com sua infinita superficialidade, poderia supor um partido, recém-chegado ao poder,
conseguir pique operacional
no primeiro ano.
O problema do PT é que foram muito altas as expectativas com a eleição de Lula. Nesses processos, a virada do pêndulo também costuma ser
muito rápida. E o que apresentar quando terminar a lua-de-mel?
Nessa hora ficarão mais claras imprudências cometidas
no período. O PT agiu de forma prudente ao manter os rumos da política econômica, ao
evitar retaliações ao governo
que passou e ao disciplinar as
declarações dos ministros e da
sua militância. Mas cochilou
ao não determinar regras de
atuação dos novos ministros.
Em muitas áreas ocorreu
uma limpa geral em cargos de
segundo e terceiro escalões.
Não se tratou meramente de
mudar comando, mas de limpar imprudentemente os escalões burocráticos. Essa imprudência está provocando a virtual paralisia de muitas áreas
e ministérios e vai dispersar
energias que deveriam estar
concentradas na definição de
planos de ação para a solução
dos enormes problemas legados pela gestão Fernando Henrique Cardoso.
A herança, ainda que pesada, não poderá indefinidamente servir de desculpa para
a não-ação. Há uma longa e
relevante lista de tarefas a serem realizadas neste ano, só
que não se sabe onde estão os
formuladores. Exemplos:
1) Política de desenvolvimento - Até agora o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
formulou um conceito de
atuação -investir na inclusão social- que está longe de
se constituir em uma política
desenvolvimentista. O Ministério do Desenvolvimento está
mais preocupado em criar ferramentas operacionais. O governo Lula continua devendo
a agenda positiva.
2) Mercado de capitais - Na
campanha foi anunciado como prioridade, como única
saída para a capitalização das
empresas. Depois, a única coisa que se ouviu foram declarações contrárias ao uso do
BNDES para estimular o setor.
3) Saneamento básico - O
governo Fernando Henrique
Cardoso produziu não só o
apagão de energia como o de
saneamento. E agora, o que
está sendo pensado para revitalizar o setor?
4) Modelo elétrico - A ministra Dilma Rousseff (Minas
e Energia) agiu com firmeza,
ao impedir que muitos autores
se apropriassem do tema reforma do setor elétrico. Mas
qual o projeto que garante a
manutenção dos investimentos?
5) Política científico-tecnológica - Não se espere nada da
equipe do ministro Roberto
Amaral (Ciência e Tecnologia). Mas quem vai formular a
proposta?
6) Indicadores educacionais - O Ministério da Educação ameaçou acabar com o
Provão, mais visível indicador
do setor. Recuou ante as pressões. Mas o Idep tem adotado
posições dúbias em relação ao
tema, como organizar seminários para avaliar os indicadores e não convidar as universidades que são avaliadas.
Além disso, o ministro Cristovam Buarque andou acenando com a ampliação da participação de funcionários e alunos na escolha de reitores de
universidades federais.
Enfim, há um longo caminho de reconstrução aguardando projetos de governo. A
saída é um choque de gestão.
Mas aparentemente Lula e
FHC têm algo em comum: o
gosto pela retórica, mais do
que pela realização.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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