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ANO DO DRAGÃO
Fabricantes de eletrodomésticos vão ao governo se queixar; fornecedores culpam alta do dólar
Indústria reclama que matéria-prima já subiu até 80%
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fabricantes de eletrodomésticos (fogão e geladeira) e de áudio e vídeo (TV e aparelho de
som) vão encaminhar ao ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) documento para detalhar os aumentos de preços de
suas principais matérias-primas,
que chegam a 80% em um ano.
"A pressão dos nossos fornecedores de insumos para subir os
preços está violenta. O governo
precisa saber disso. Não queremos ser os culpados pela subida
da inflação futuramente", afirma
Paulo Saab, presidente da Eletros,
associação de fabricantes de eletrodomésticos e de aparelhos de
áudio e vídeo.
Quem subiu os preços em até
80% no período de um ano (em
2002), segundo o levantamento
da Eletros, foi a indústria de embalagens. O menor reajuste nesse
setor foi de 30%. Fabricantes de
aço já elevaram os preços em 63%
em 2002. Neste mês, querem reajustar os preços entre 9% e 15%.
Os preços das resinas plásticas,
informa a Eletros, subiram 60%
no ano passado. Os fabricantes
querem aumentar mais 10% neste
mês e mais 20% em abril. "Estamos numa encruzilhada: a pressão de custos de um lado, juros
elevados de outro, além de o consumo estar contido", afirma.
A indústria de eletrodomésticos
e de áudio e vídeo, diz ele, não
consegue elevar os preços acima
da inflação. "Os lojistas não aceitam aumentos de preços", diz.
Saab diz que a defasagem entre
aumentos de custos e de preços da
indústria do setor é de 20%. Seria
de 20%, portanto, o reajuste mínimo que os fabricantes gostariam
de fazer nos seus preços.
Os fabricantes de aço já foram
chamados pelo ministro Furlan
para discutir, entre outros assuntos, os aumentos de preços. Eles
explicaram que os reajustes do setor ocorreram por conta da desvalorização do real, já que o aço
tem cotação internacional.
"Gostaríamos que o governo
chamasse os outros fornecedores
de matérias-primas para conversar. Se essa pressão continuar, algumas indústrias terão de parar a
produção. Não vale a pena fabricar com prejuízo", afirma Saab.
A Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) confirma as informações da Eletros.
"Infelizmente, a Eletros está certa.
Só que os preços dos nossos produtos subiram porque as resinas
plásticas (derivadas do petróleo)
estão mais caras. Não podemos
sobreviver sem repassar aumentos de custos para os preços", afirma Merheg Cachum, presidente
da associação.
Ele informa que os preços das
resinas plásticas (polietileno, polipropileno, poliestireno e PVC)
subiram 102% nos últimos 12 meses. Essas matérias-primas são
utilizadas para fazer desde sacolas
plásticas utilizadas pelos supermercados até pára-choque de carros e gabinetes de televisores. O
preço da nafta, diz, principal matéria-prima das resinas plásticas,
subiu 180% (em reais) de janeiro
de 2002 a fevereiro deste ano.
Os fabricantes de plásticos, diz
Cachum, ainda nem repassaram
os aumentos de preços de suas
matérias-primas aos clientes.
"Teríamos de reajustar em mais
40% os preços dos nossos produtos", diz. Os principais clientes
desse setor são montadoras, fabricantes de eletrodomésticos e
supermercados.
As negociações entre fornecedores de matérias-primas, indústrias e lojistas, segundo ele, estão
muito difíceis neste mês. E a guerra entre EUA e Iraque, diz, ainda
nem teve efeito -isto é, os preços
ainda não foram afetados no Brasil por causa de uma eventual crise mundial provocada pelo conflito entre os dois países.
A proposta de Cachum para a
indústria plástica é a seguinte: "É
melhor parar de produzir do que
manter a fábrica operando com
prejuízo." Segundo ele, algumas
indústrias do setor já estão descapitalizadas. Se não houver acordo
entre os elos da cadeia produtiva,
diz, poderá até haver quebradeira
generalizada de empresas.
Fábio Mestriner, presidente da
Abre, associação dos fabricantes
de embalagens, confirma que a
pressão por aumentos de custos
abala neste momento toda a cadeia do setor. Boa parte da culpa
ele atribui à alta do dólar, que afeta importantes insumos.
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