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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Fabricantes de eletrodomésticos vão ao governo se queixar; fornecedores culpam alta do dólar

Indústria reclama que matéria-prima já subiu até 80%

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fabricantes de eletrodomésticos (fogão e geladeira) e de áudio e vídeo (TV e aparelho de som) vão encaminhar ao ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) documento para detalhar os aumentos de preços de suas principais matérias-primas, que chegam a 80% em um ano.
"A pressão dos nossos fornecedores de insumos para subir os preços está violenta. O governo precisa saber disso. Não queremos ser os culpados pela subida da inflação futuramente", afirma Paulo Saab, presidente da Eletros, associação de fabricantes de eletrodomésticos e de aparelhos de áudio e vídeo.
Quem subiu os preços em até 80% no período de um ano (em 2002), segundo o levantamento da Eletros, foi a indústria de embalagens. O menor reajuste nesse setor foi de 30%. Fabricantes de aço já elevaram os preços em 63% em 2002. Neste mês, querem reajustar os preços entre 9% e 15%.
Os preços das resinas plásticas, informa a Eletros, subiram 60% no ano passado. Os fabricantes querem aumentar mais 10% neste mês e mais 20% em abril. "Estamos numa encruzilhada: a pressão de custos de um lado, juros elevados de outro, além de o consumo estar contido", afirma.
A indústria de eletrodomésticos e de áudio e vídeo, diz ele, não consegue elevar os preços acima da inflação. "Os lojistas não aceitam aumentos de preços", diz. Saab diz que a defasagem entre aumentos de custos e de preços da indústria do setor é de 20%. Seria de 20%, portanto, o reajuste mínimo que os fabricantes gostariam de fazer nos seus preços.
Os fabricantes de aço já foram chamados pelo ministro Furlan para discutir, entre outros assuntos, os aumentos de preços. Eles explicaram que os reajustes do setor ocorreram por conta da desvalorização do real, já que o aço tem cotação internacional.
"Gostaríamos que o governo chamasse os outros fornecedores de matérias-primas para conversar. Se essa pressão continuar, algumas indústrias terão de parar a produção. Não vale a pena fabricar com prejuízo", afirma Saab.
A Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) confirma as informações da Eletros. "Infelizmente, a Eletros está certa. Só que os preços dos nossos produtos subiram porque as resinas plásticas (derivadas do petróleo) estão mais caras. Não podemos sobreviver sem repassar aumentos de custos para os preços", afirma Merheg Cachum, presidente da associação.
Ele informa que os preços das resinas plásticas (polietileno, polipropileno, poliestireno e PVC) subiram 102% nos últimos 12 meses. Essas matérias-primas são utilizadas para fazer desde sacolas plásticas utilizadas pelos supermercados até pára-choque de carros e gabinetes de televisores. O preço da nafta, diz, principal matéria-prima das resinas plásticas, subiu 180% (em reais) de janeiro de 2002 a fevereiro deste ano.
Os fabricantes de plásticos, diz Cachum, ainda nem repassaram os aumentos de preços de suas matérias-primas aos clientes. "Teríamos de reajustar em mais 40% os preços dos nossos produtos", diz. Os principais clientes desse setor são montadoras, fabricantes de eletrodomésticos e supermercados.
As negociações entre fornecedores de matérias-primas, indústrias e lojistas, segundo ele, estão muito difíceis neste mês. E a guerra entre EUA e Iraque, diz, ainda nem teve efeito -isto é, os preços ainda não foram afetados no Brasil por causa de uma eventual crise mundial provocada pelo conflito entre os dois países.
A proposta de Cachum para a indústria plástica é a seguinte: "É melhor parar de produzir do que manter a fábrica operando com prejuízo." Segundo ele, algumas indústrias do setor já estão descapitalizadas. Se não houver acordo entre os elos da cadeia produtiva, diz, poderá até haver quebradeira generalizada de empresas.
Fábio Mestriner, presidente da Abre, associação dos fabricantes de embalagens, confirma que a pressão por aumentos de custos abala neste momento toda a cadeia do setor. Boa parte da culpa ele atribui à alta do dólar, que afeta importantes insumos.


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