São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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UBS "devolve" Pactual a antigos sócios

Três anos após vender banco a suíços, brasileiros pagam pouco menos do que o valor de venda e retomam banco maior

Perspectivas para bancos de investimento no Brasil pioram com suspensão de aberturas de capital e captações externas


Fernando Donasci - 26.set.08/Folha Imagem
O banqueiro André Esteves, que retomou o controle do Pactual, vendido ao suíço UBS em 2006

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Diante da pior crise em 147 anos, o suíço UBS decidiu se desfazer da unidade brasileira, o UBS Pactual, o maior banco de investimento brasileiro, que viu seu negócio encolher desde o ano passado com as turbulências da crise global.
Pelo negócio, o BTG (Banking and Trading Group), empresa do antigo sócio do Pactual André Esteves, pagará US$ 2,475 bilhões, dinheiro que será usado diretamente para capitalizar o banco suíço, que acumula prejuízo de US$ 20 bilhões desde o início de 2008.
A venda marca a saída no país do primeiro grande grupo financeiro de presença global após a crise financeira global, intensificada a partir de setembro. Até então, só o alemão Dresdner Bank havia vendido suas operações para o também ex-Pactual Luiz Cezar Fernandes.
Junto a outros sócios, Esteves tinha vendido o Pactual aos suíços em 2006 por cerca de US$ 2,6 bilhões -US$ 1 bilhão à vista e mais US$ 1,6 bilhão em parcelas, ainda em andamento. O valor em aberto não foi revelado.
Segundo Roberto Sallouti, sócio da BTG, a "devolução" do Pactual, feita pelo UBS aos antigos sócios, não significa a reversão do negócio.
Sallouti sustenta que são transações independentes, apesar de os sócios ainda terem parcelas a receber até 2011.
"A única coisa que é a mesma é o ativo [Pactual] e alguns dos sócios. Os pagamentos [que ainda não feitos pelo UBS] aos sócios continuará", disse.
Na verdade, o banco recomprado por Esteves é duas vezes maior do que o vendido em maio de 2006 para os suíços -após três anos de mercado ascendente, o valor patrimonial do Pactual saltou de R$ 1,613 bilhão para R$ 3,263 bilhões, segundo o Banco Central.
Por outro lado, as perspectivas atuais do Pactual são mais limitadas do que em 2006. Com o fim do ciclo de aberturas de capital e o fechamento do mercado global de captações, o UBS Pactual viu seu lucro cair de R$ 994,3 milhões para R$ 270,9 milhões de 2007 para 2008. O banco demitiu mais de 250 desde o final de 2008.
Instituição que comandou o boom de IPOs [abertura de capital] no Brasil, o Pactual foi comprado pelo UBS em 2006 com o objetivo de combater a letargia da maior casa bancária suíça e de expandir as operações nos mercados de países emergentes. O UBS seguiu o movimento do concorrente Crédit Suisse, que tinha comprado no Brasil o Banco Garantia (1998) e depois a corretora Hedging Griffo (2006).
Considerado um banco de investimento de perfil agressivo, a cultura do Pactual destoava do conservadorismo dos suíços, focados mais na gestão de fortunas. Parte dos acionistas do UBS atribuiu a derrocada do banco à sua entrada em mercados mais arriscados, como o de hipotecas "subprime" (segunda linha) nos EUA.
O próprio Esteves teria visto na fragilidade contábil do UBS uma oportunidade para fazer uma oferta pelo banco, rechaçada pelos gestores. O fato teria precipitado seu afastamento do UBS, onde atuava como um dos principais executivos após a venda do Pactual.
A venda das operações no Brasil tinha sido pedida no ano passado por Luqman Arnold, sócio minoritário e ex-presidente do UBS. A ideia defendida por Arnold era que o banco voltasse a focar a gestão de fortunas, setor mais estável.


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