São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

agrofolha

Sojicultor banca fatia maior da produção

Bancos e tradings retraem oferta de crédito; agricultor desembolsa R$ 5,3 bilhões a mais para custear safra deste ano

Custo cresce 35%; em Mato Grosso, participação de tradings no financiamento cai de 52% a 25% e a de bancos baixa de 13% a 11%


GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

A retração na oferta de crédito obrigou os produtores de soja a desembolsarem mais dinheiro nesta safra para custear a produção. Os agricultores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul -responsáveis por 81% da produção nacional- bancaram R$ 5,3 bilhões a mais do que na safra anterior.
Além de bancos e tradings -intermediárias que exportam o produto- financiarem uma fatia menor do custeio, foi preciso mais dinheiro em razão do aumento no preço de insumos, que encareceram a lavoura em torno de 35%, segundo a Agroconsult, consultoria do setor agropecuário que apurou dados com empresas e produtores.
Mato Grosso, responsável por um terço da produção nacional, teve a maior inversão nos números. Enquanto no ciclo 2007/08 os produtores bancaram apenas 6% do custeio, precisaram desembolsar 40% na safra 2008/09.
A participação das tradings no financiamento caiu de 52% para 25% do custo total da produção, enquanto a dos bancos diminuiu de 13% para 11%.
Em Goiás, quarto maior produtor, os agricultores bancaram do bolso 41% do custeio desta safra, ante 18% na anterior. Já as tradings financiaram 18% desta vez -foram 34% na safra 2007/08- e os bancos diminuíram de 30% para 26% sua participação.
Os empréstimos e os adiantamentos ofertados por tradings, que predominam no sistema de financiamento de Estados do Centro-Oeste e do Norte, foram a fonte que mais secou, segundo o analista de mercado da Agroconsult Marcos Rubin.
De acordo com ele, as empresas exportadoras sofreram impacto da crise financeira, que dificultou e encareceu os ACCs (Adiantamentos de Contratos de Câmbio). Além disso, as companhias precisaram destinar recursos para ajustes diários na Bolsa.
"A alta no preço da soja em 2008 exigiu que as tradings tirassem dinheiro do caixa para depositar como garantias de contratos do mercado futuro. Isso diminuiu o dinheiro disponível para os produtores", diz.
Já os bancos e a indústria de insumos aumentaram os recursos destinados ao financiamento de safra se forem considerados valores absolutos, segundo Rubin, mas houve queda relativa, já que os custos da lavoura foram bem maiores neste ciclo.

Informação estratégica
O Banco do Brasil, responsável por 60% do crédito bancário para a agricultura, afirma que emprestou R$ 3,49 bilhões para o custeio da safra de soja, 22,3% a mais do que no ciclo anterior. Já as três maiores tradings que operam no Brasil, todas com sede nos Estados Unidos, não revelaram números de empréstimos e investimentos.
A Bunge disse que "as empresas foram mais rigorosas e criteriosas na concessão de crédito para garantir a rentabilidade e a capacidade de pagamento do produtor", mas que o volume de recursos oferecidos foi da "mesma ordem de grandeza dos anos anteriores".
A Cargill e a ADM (Archer Daniels Midland Company) disseram, por meio de assessoria, que não podem revelar os números, mas que, na safra passada, foi oferecido mais crédito do que em anos anteriores.
De acordo com a economista e assessora técnica da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) Rosemeire Cristina dos Santos, a queda no volume de recursos ofertado pelas exportadoras nesta safra foi evidente, mas as empresas não revelam os números porque são estratégicos e podem municiar as concorrentes.
Ainda segundo ela, as próprias tradings assumiram para as entidades rurais que houve menos recursos nesta safra.


Texto Anterior: Pessimismo nos EUA faz Bovespa ter queda de 2,9%

Próximo Texto: Produtor elogia "ser dono do próprio nariz"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.