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Sojicultor banca fatia maior da produção
Bancos e tradings retraem oferta de crédito; agricultor desembolsa R$ 5,3 bilhões a mais para custear safra deste ano
Custo cresce 35%; em Mato Grosso, participação de tradings no financiamento cai de 52% a 25% e a de bancos baixa de 13% a 11%
GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
A retração na oferta de crédito obrigou os produtores de soja a desembolsarem mais dinheiro nesta safra para custear
a produção. Os agricultores de
Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Goiás, Paraná e Rio Grande
do Sul -responsáveis por 81%
da produção nacional- bancaram R$ 5,3 bilhões a mais do
que na safra anterior.
Além de bancos e tradings
-intermediárias que exportam
o produto- financiarem uma
fatia menor do custeio, foi preciso mais dinheiro em razão do
aumento no preço de insumos,
que encareceram a lavoura em
torno de 35%, segundo a Agroconsult, consultoria do setor
agropecuário que apurou dados
com empresas e produtores.
Mato Grosso, responsável
por um terço da produção nacional, teve a maior inversão
nos números. Enquanto no ciclo 2007/08 os produtores bancaram apenas 6% do custeio,
precisaram desembolsar 40%
na safra 2008/09.
A participação das tradings
no financiamento caiu de 52%
para 25% do custo total da produção, enquanto a dos bancos
diminuiu de 13% para 11%.
Em Goiás, quarto maior produtor, os agricultores bancaram do bolso 41% do custeio
desta safra, ante 18% na anterior. Já as tradings financiaram
18% desta vez -foram 34% na
safra 2007/08- e os bancos diminuíram de 30% para 26%
sua participação.
Os empréstimos e os adiantamentos ofertados por tradings, que predominam no sistema de financiamento de Estados do Centro-Oeste e do
Norte, foram a fonte que mais
secou, segundo o analista de
mercado da Agroconsult Marcos Rubin.
De acordo com ele, as empresas exportadoras sofreram impacto da crise financeira, que
dificultou e encareceu os ACCs
(Adiantamentos de Contratos
de Câmbio). Além disso, as
companhias precisaram destinar recursos para ajustes diários na Bolsa.
"A alta no preço da soja em
2008 exigiu que as tradings tirassem dinheiro do caixa para
depositar como garantias de
contratos do mercado futuro.
Isso diminuiu o dinheiro disponível para os produtores", diz.
Já os bancos e a indústria de
insumos aumentaram os recursos destinados ao financiamento de safra se forem considerados valores absolutos, segundo
Rubin, mas houve queda relativa, já que os custos da lavoura
foram bem maiores neste ciclo.
Informação estratégica
O Banco do Brasil, responsável por 60% do crédito bancário para a agricultura, afirma
que emprestou R$ 3,49 bilhões
para o custeio da safra de soja,
22,3% a mais do que no ciclo
anterior. Já as três maiores tradings que operam no Brasil, todas com sede nos Estados Unidos, não revelaram números de
empréstimos e investimentos.
A Bunge disse que "as empresas foram mais rigorosas e criteriosas na concessão de crédito para garantir a rentabilidade
e a capacidade de pagamento
do produtor", mas que o volume de recursos oferecidos foi
da "mesma ordem de grandeza
dos anos anteriores".
A Cargill e a ADM (Archer
Daniels Midland Company)
disseram, por meio de assessoria, que não podem revelar os
números, mas que, na safra
passada, foi oferecido mais crédito do que em anos anteriores.
De acordo com a economista
e assessora técnica da CNA
(Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil) Rosemeire
Cristina dos Santos, a queda no
volume de recursos ofertado
pelas exportadoras nesta safra
foi evidente, mas as empresas
não revelam os números porque são estratégicos e podem
municiar as concorrentes.
Ainda segundo ela, as próprias tradings assumiram para
as entidades rurais que houve
menos recursos nesta safra.
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