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CRISE ARGENTINA
Piso para cortes nas aposentadorias e salários do funcionalismo é elevado de US$ 300 para US$ 1.000
De la Rúa cede para obter apoio a pacote
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
O governo argentino cedeu em
sua proposta de cortes de gastos
para atingir déficit fiscal zero e
conseguiu ontem o apoio dos deputados da União Cívica Radical
(UCR), o partido do presidente
Fernando de la Rúa, ao projeto.
O governo aceitou elevar o piso
para os cortes de 13% em aposentadorias de US$ 300 para US$
1.000, e adotar o mesmo piso para
os cortes nos salários dos funcionários públicos, mediante o compromisso dos deputados de aprovar uma série de mecanismos fiscais para gerar aumento de arrecadação e cumprir com o objetivo
do déficit zero.
A sessão da Câmara que analisaria a nova proposta foi iniciada
por volta das 18h15, com mais de
quatro horas de atraso. Uma manifestação de funcionários do
Congresso, descontentes com o
possível corte em seus salários
-a ampliação dos cortes ao Legislativo e ao Judiciário também
fazia parte do acordo conseguido
na madrugada de ontem- contribuiu para o atraso da sessão.
O apoio da UCR era considerado essencial para o governo conseguir implementar seu plano de
ajuste. O partido tem 80 dos 257
deputados na Câmara. A principal agremiação oposicionista, o
Partido Justicialista (PJ), que tem
100 deputados, condicionava seu
apoio ao plano do governo ao
apoio anterior da própria bancada governista, cujos integrantes
vinham fazendo declarações de
repúdio aos cortes.
O governo contava ainda com o
apoio dos 11 deputados da Ação
pela República, partido do ministro da Economia, Domingo Cavallo, e de parte dos 29 deputados da
Frepaso (Frente País Solidário),
agremiação de centro-esquerda
que compõe com a UCR a Aliança, a coalizão governista. A liderança da Frepaso liberou sua bancada a "votar de acordo com a
consciência de cada um".
As expectativas sobre a possível
aprovação do plano ontem pela
Câmara, aliadas ao anúncio do
acordo com fundos de pensão para refinanciamento da dívida de
curtíssimo prazo (leia texto nesta
página) trouxeram uma nova onda de otimismo ontem ao mercado financeiro.
Também contribuiu uma declaração do presidente francês, Jacques Chirac, que afirmou que o G-7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, contribuiria para não deixar que a economia argentina desabe.
O risco-país da Argentina, principal indicador da desconfiança
dos investidores estrangeiros, voltou a cair ontem após dois dias de
alta. O índice chegou ao fim do
dia em 1.478 pontos, 115 menos
que no dia anterior.
Os títulos da dívida argentina
também voltaram a se valorizar.
A cotação do Global 2008, principal título da dívida pública argentina negociado no exterior, teve
alta de 9% ontem.
O mercado local também viveu
um dia mais tranquilo. A Bolsa de
Buenos Aires fechou com alta de
4,47%. As taxas de juros nos empréstimos interbancários, que
embutem o temor de desvalorização do peso, voltaram a cair ontem, a 20% anuais. Na sexta-feira
da semana passada, essas taxas
haviam atingido 350%. Em condições normais, porém, deveriam
estar por volta de 6%.
Acordo em Buenos Aires
O acordo para a aprovação do
pacote do governo nacional foi seguido por um acordo no Legislativo da Província de Buenos Aires,
para aprovar um plano de cortes
do governo local.
Anteontem, o governador Carlos Ruckauf havia declarado que,
se o projeto não fosse aprovado e
se o governo nacional não repassasse à Província fundos atrasados, ele poderia ser obrigado a declarar uma moratória ao final do
mês.
Buenos Aires, a maior e mais rica das 23 Províncias argentinas,
tem também o maior déficit fiscal
proporcional -16% de seu orçamento.
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