São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

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CRISE ARGENTINA

Piso para cortes nas aposentadorias e salários do funcionalismo é elevado de US$ 300 para US$ 1.000

De la Rúa cede para obter apoio a pacote

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

O governo argentino cedeu em sua proposta de cortes de gastos para atingir déficit fiscal zero e conseguiu ontem o apoio dos deputados da União Cívica Radical (UCR), o partido do presidente Fernando de la Rúa, ao projeto.
O governo aceitou elevar o piso para os cortes de 13% em aposentadorias de US$ 300 para US$ 1.000, e adotar o mesmo piso para os cortes nos salários dos funcionários públicos, mediante o compromisso dos deputados de aprovar uma série de mecanismos fiscais para gerar aumento de arrecadação e cumprir com o objetivo do déficit zero.
A sessão da Câmara que analisaria a nova proposta foi iniciada por volta das 18h15, com mais de quatro horas de atraso. Uma manifestação de funcionários do Congresso, descontentes com o possível corte em seus salários -a ampliação dos cortes ao Legislativo e ao Judiciário também fazia parte do acordo conseguido na madrugada de ontem- contribuiu para o atraso da sessão.
O apoio da UCR era considerado essencial para o governo conseguir implementar seu plano de ajuste. O partido tem 80 dos 257 deputados na Câmara. A principal agremiação oposicionista, o Partido Justicialista (PJ), que tem 100 deputados, condicionava seu apoio ao plano do governo ao apoio anterior da própria bancada governista, cujos integrantes vinham fazendo declarações de repúdio aos cortes.
O governo contava ainda com o apoio dos 11 deputados da Ação pela República, partido do ministro da Economia, Domingo Cavallo, e de parte dos 29 deputados da Frepaso (Frente País Solidário), agremiação de centro-esquerda que compõe com a UCR a Aliança, a coalizão governista. A liderança da Frepaso liberou sua bancada a "votar de acordo com a consciência de cada um".
As expectativas sobre a possível aprovação do plano ontem pela Câmara, aliadas ao anúncio do acordo com fundos de pensão para refinanciamento da dívida de curtíssimo prazo (leia texto nesta página) trouxeram uma nova onda de otimismo ontem ao mercado financeiro.
Também contribuiu uma declaração do presidente francês, Jacques Chirac, que afirmou que o G-7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, contribuiria para não deixar que a economia argentina desabe.
O risco-país da Argentina, principal indicador da desconfiança dos investidores estrangeiros, voltou a cair ontem após dois dias de alta. O índice chegou ao fim do dia em 1.478 pontos, 115 menos que no dia anterior.
Os títulos da dívida argentina também voltaram a se valorizar. A cotação do Global 2008, principal título da dívida pública argentina negociado no exterior, teve alta de 9% ontem.
O mercado local também viveu um dia mais tranquilo. A Bolsa de Buenos Aires fechou com alta de 4,47%. As taxas de juros nos empréstimos interbancários, que embutem o temor de desvalorização do peso, voltaram a cair ontem, a 20% anuais. Na sexta-feira da semana passada, essas taxas haviam atingido 350%. Em condições normais, porém, deveriam estar por volta de 6%.

Acordo em Buenos Aires
O acordo para a aprovação do pacote do governo nacional foi seguido por um acordo no Legislativo da Província de Buenos Aires, para aprovar um plano de cortes do governo local.
Anteontem, o governador Carlos Ruckauf havia declarado que, se o projeto não fosse aprovado e se o governo nacional não repassasse à Província fundos atrasados, ele poderia ser obrigado a declarar uma moratória ao final do mês.
Buenos Aires, a maior e mais rica das 23 Províncias argentinas, tem também o maior déficit fiscal proporcional -16% de seu orçamento.



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