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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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ANÁLISE

Vara curta cutuca a onça

DE BUENOS AIRES

O presidente argentino, Néstor Kirchner, não tem medo de "cutucar onça com vara curta". A revisão dos contratos de privatização de serviços públicos é só mais uma medidas "ousadas" já anunciadas pelo novo governo.
Em menos de dois meses de mandato, Kirchner implantou um controle de capitais, aumentou o salário mínimo, as aposentadorias e mexeu em instituições como Forças Armadas e Suprema Corte de Justiça.
Também tem sido duro com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e já antecipou aos credores da sua dívida em moratória -avaliada em mais de US$ 70 bilhões- que irá pagar "como puder". O governo quer atrelar os pagamentos ao crescimento da economia. Ou seja, expansão menor, paga-se menos.
O problema das empresas privatizadas está entre os mais urgentes. As companhias pressionam e ameaçam paralisar o fornecimento de alguns serviços básicos -como água e energia elétrica- caso as tarifas, congeladas há 18 meses, não sejam revistas.
O governo se mantém firme. Diz que a privatização beneficiou o capital externo em detrimento dos interesses do consumidor. A questão vai além da discussão entre governo e empresários. O Ciadi (Centro Internacional de Acordo de Diferenças Relativas a Investimentos), órgão de arbitragem do Banco Mundial, analisa 16 processos contra a Argentina. Caso o país seja condenado, terá de pagar bilhões em multa para as empresas que acusam o governo de não cumprir os contratos. Só as norte-americanas AES e Sempra Energy cobram US$ 1,3 bilhão. A espanhola Telefónica afirma ter acumulado perdas de quase US$ 3,8 bilhões no país.
A revisão das tarifas também faz parte das exigência do FMI para negociar um novo acordo.
"Essa posição do governo não é positiva, pois as empresas precisam ter um horizonte previsível para poder organizar os seus investimentos", afirma o economista da Fiel (Fundação de Investigação Econômica para a América Latina), Juan Luis Bour.
"O reajuste está suspenso há mais de um ano. Não creio que alguém queira investir nesse cenário. E o governo não tem dinheiro para fazê-lo", diz. (EC)

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