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ANÁLISE
Vara curta cutuca a onça
DE BUENOS AIRES
O presidente argentino, Néstor
Kirchner, não tem medo de "cutucar onça com vara curta". A revisão dos contratos de privatização de serviços públicos é só mais
uma medidas "ousadas" já anunciadas pelo novo governo.
Em menos de dois meses de
mandato, Kirchner implantou
um controle de capitais, aumentou o salário mínimo, as aposentadorias e mexeu em instituições
como Forças Armadas e Suprema
Corte de Justiça.
Também tem sido duro com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e já antecipou aos credores da sua dívida em moratória
-avaliada em mais de US$ 70 bilhões- que irá pagar "como puder". O governo quer atrelar os
pagamentos ao crescimento da
economia. Ou seja, expansão menor, paga-se menos.
O problema das empresas privatizadas está entre os mais urgentes. As companhias pressionam e ameaçam paralisar o fornecimento de alguns serviços básicos -como água e energia elétrica- caso as tarifas, congeladas há
18 meses, não sejam revistas.
O governo se mantém firme.
Diz que a privatização beneficiou
o capital externo em detrimento
dos interesses do consumidor. A
questão vai além da discussão entre governo e empresários. O Ciadi (Centro Internacional de Acordo de Diferenças Relativas a Investimentos), órgão de arbitragem do Banco Mundial, analisa 16
processos contra a Argentina. Caso o país seja condenado, terá de
pagar bilhões em multa para as
empresas que acusam o governo
de não cumprir os contratos. Só
as norte-americanas AES e Sempra Energy cobram US$ 1,3 bilhão. A espanhola Telefónica afirma ter acumulado perdas de quase US$ 3,8 bilhões no país.
A revisão das tarifas também faz
parte das exigência do FMI para
negociar um novo acordo.
"Essa posição do governo não é
positiva, pois as empresas precisam ter um horizonte previsível
para poder organizar os seus investimentos", afirma o economista da Fiel (Fundação de Investigação Econômica para a América
Latina), Juan Luis Bour.
"O reajuste está suspenso há
mais de um ano. Não creio que alguém queira investir nesse cenário. E o governo não tem dinheiro
para fazê-lo", diz. (EC)
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