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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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PARADA

Emissão de debêntures cai 76% no primeiro semestre; número de empresas listadas na Bolsa é o menor desde 1975

Mercado de capitais emperra em 2003

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de capitais brasileiro emperrou no primeiro semestre. As emissões totais de debêntures (títulos de dívida corporativa) caíram 75,8% em comparação com os últimos seis meses do ano passado. Já na Bolsa de Valores de São Paulo, o total de companhias listadas caiu para o menor nível desde 1975.
A política de juros elevados do governo desestimulou o setor privado a buscar empréstimos no mercado interno. A taxa básica de juros (Selic, que serve de referência para as demais operações) está em 26% ao ano, mas já chegou a 26,5% no primeiro semestre.
Nem mesmo na crise de 1999 o volume de debêntures lançadas no mercado foi tão pequeno em um semestre. Analistas avaliam que só com juros menores e com o aquecimento da economia esse mercado poderá ganhar força.
No primeiro semestre foram registrados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) apenas R$ 2,4 bilhões em debêntures. No segundo semestre do ano passado, a emissão desses papéis alcançou R$ 9,9 bilhões -queda de 75,8% de um semestre para o outro. As debêntures são títulos de dívida que as empresas lançam para captar recursos no mercado interno.
Além da menor disposição do setor privado para emitir debêntures, as empresas seguem fechando seu capital. O número de companhias listadas na Bovespa é o menor desde 75. No fim do ano passado, havia 400 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Hoje, são apenas 386 (menos 3,5%). Em 89, havia 592 companhias com ações na Bolsa.
Para Raffi Dokuzian, diretor de gestão da Santos Asset Management, os juros praticados neste ano fizeram o mercado de debêntures se retrair consideravelmente. "Quem tinha possibilidade de captar lá fora não ia se dispor a emitir debêntures aqui, com os juros escorchantes que são pedidos. Além disso, não há tantos compradores para debêntures, pois é mais interessante adquirir um título do governo. Além de ser atrelado à altíssima taxa básica de juros, ele não carrega o mesmo risco de calote de uma empresa."
Para o investidor, as debêntures representam uma aplicação de renda fixa, por prazo predeterminado. O principal risco para quem adquire debêntures é o de a empresa não pagar. O investidor que compra um título desses passa a ser credor da companhia.
Com juros menores em 2001, o ano foi muito melhor para o mercado de debêntures. Naquele ano, foram registrados na CVM R$ 15,1 bilhões em debêntures. A taxa básica de juros encerrou 2001 em 19% ao ano.
Além de juros elevados, a maior facilidade para as empresas captarem no mercado internacional neste ano desestimulou a emissão interna. No ano, as captações privadas lá fora já superaram US$ 12 bilhões.

Demanda menor
As taxas para captações no exterior são muito inferiores às praticadas no mercado doméstico. No mês passado, por exemplo, o banco Votorantim captou US$ 180 milhões em eurobônus com taxa de 6,25% ao ano.
"O mercado externo fechou suas portas ao Brasil no segundo semestre do ano passado, o que deixou as empresas sem opção para captar recursos e as levou a lançarem um volume muito maior de debêntures no período", diz Dokuzian.
Neste ano, até o fim de junho, apenas cinco ofertas de debêntures foram registradas. O volume financeiro das ofertas só não foi menor porque em abril a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) ofertou no mercado um grande lote de R$ 1,8 bilhão em debêntures.
Roberto Padovani, da consultoria Tendências, diz que, além do custo estar muito alto, "a atividade econômica está muito fraca, o que diminui a demanda por investimentos por parte das empresas". Para ele, o mercado de debêntures deve ser estimulado com juros menores, "mas é fundamental que a economia fique mais aquecida" daqui para a frente.
Uma das dificuldades apontadas por analistas financeiros para a expansão das emissões de títulos privados no país é a falta de um mercado secundário mais ativo. O mercado secundário é onde esses títulos são negociados após serem emitidos.
Na Bovespa, há a negociação de debêntures e de outros papéis privados de renda fixa. Os dados da Bolsa mostram a inconsistência desse mercado: enquanto os negócios com debêntures movimentaram R$ 84 milhões em janeiro deste ano, em fevereiro foi girado apenas R$ 1,2 milhão.
Se não há um mercado secundário dinâmico, o investidor que adquire uma debênture pode ter dificuldades se precisar vendê-la antes de seu vencimento, quando deve ser resgatado pela empresa que a emitiu. Com demanda retraída, as chances de ter de vender o título a um preço menor que o de compra crescem.

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