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PARADA
Emissão de debêntures cai 76% no primeiro semestre; número de empresas listadas na Bolsa é o menor desde 1975
Mercado de capitais emperra em 2003
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado de capitais brasileiro
emperrou no primeiro semestre.
As emissões totais de debêntures
(títulos de dívida corporativa) caíram 75,8% em comparação com
os últimos seis meses do ano passado. Já na Bolsa de Valores de
São Paulo, o total de companhias
listadas caiu para o menor nível
desde 1975.
A política de juros elevados do
governo desestimulou o setor privado a buscar empréstimos no
mercado interno. A taxa básica de
juros (Selic, que serve de referência para as demais operações) está
em 26% ao ano, mas já chegou a
26,5% no primeiro semestre.
Nem mesmo na crise de 1999 o
volume de debêntures lançadas
no mercado foi tão pequeno em
um semestre. Analistas avaliam
que só com juros menores e com
o aquecimento da economia esse
mercado poderá ganhar força.
No primeiro semestre foram registrados na CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) apenas R$
2,4 bilhões em debêntures. No segundo semestre do ano passado, a
emissão desses papéis alcançou
R$ 9,9 bilhões -queda de 75,8%
de um semestre para o outro. As
debêntures são títulos de dívida
que as empresas lançam para captar recursos no mercado interno.
Além da menor disposição do
setor privado para emitir debêntures, as empresas seguem fechando seu capital. O número de
companhias listadas na Bovespa é
o menor desde 75. No fim do ano
passado, havia 400 empresas listadas na Bolsa de Valores de São
Paulo. Hoje, são apenas 386 (menos 3,5%). Em 89, havia 592 companhias com ações na Bolsa.
Para Raffi Dokuzian, diretor de
gestão da Santos Asset Management, os juros praticados neste
ano fizeram o mercado de debêntures se retrair consideravelmente. "Quem tinha possibilidade de
captar lá fora não ia se dispor a
emitir debêntures aqui, com os
juros escorchantes que são pedidos. Além disso, não há tantos
compradores para debêntures,
pois é mais interessante adquirir
um título do governo. Além de ser
atrelado à altíssima taxa básica de
juros, ele não carrega o mesmo
risco de calote de uma empresa."
Para o investidor, as debêntures
representam uma aplicação de
renda fixa, por prazo predeterminado. O principal risco para quem
adquire debêntures é o de a empresa não pagar. O investidor que
compra um título desses passa a
ser credor da companhia.
Com juros menores em 2001, o
ano foi muito melhor para o mercado de debêntures. Naquele ano,
foram registrados na CVM R$ 15,1
bilhões em debêntures. A taxa básica de juros encerrou 2001 em
19% ao ano.
Além de juros elevados, a maior
facilidade para as empresas captarem no mercado internacional
neste ano desestimulou a emissão
interna. No ano, as captações privadas lá fora já superaram US$ 12
bilhões.
Demanda menor
As taxas para captações no exterior são muito inferiores às praticadas no mercado doméstico. No
mês passado, por exemplo, o banco Votorantim captou US$ 180
milhões em eurobônus com taxa
de 6,25% ao ano.
"O mercado externo fechou
suas portas ao Brasil no segundo
semestre do ano passado, o que
deixou as empresas sem opção
para captar recursos e as levou a
lançarem um volume muito
maior de debêntures no período",
diz Dokuzian.
Neste ano, até o fim de junho,
apenas cinco ofertas de debêntures foram registradas. O volume
financeiro das ofertas só não foi
menor porque em abril a CPFL
(Companhia Paulista de Força e
Luz) ofertou no mercado um
grande lote de R$ 1,8 bilhão em
debêntures.
Roberto Padovani, da consultoria Tendências, diz que, além do
custo estar muito alto, "a atividade econômica está muito fraca, o
que diminui a demanda por investimentos por parte das empresas". Para ele, o mercado de debêntures deve ser estimulado com
juros menores, "mas é fundamental que a economia fique mais
aquecida" daqui para a frente.
Uma das dificuldades apontadas por analistas financeiros para
a expansão das emissões de títulos privados no país é a falta de
um mercado secundário mais ativo. O mercado secundário é onde
esses títulos são negociados após
serem emitidos.
Na Bovespa, há a negociação de
debêntures e de outros papéis privados de renda fixa. Os dados da
Bolsa mostram a inconsistência
desse mercado: enquanto os negócios com debêntures movimentaram R$ 84 milhões em janeiro deste ano, em fevereiro foi
girado apenas R$ 1,2 milhão.
Se não há um mercado secundário dinâmico, o investidor que
adquire uma debênture pode ter
dificuldades se precisar vendê-la
antes de seu vencimento, quando
deve ser resgatado pela empresa
que a emitiu. Com demanda retraída, as chances de ter de vender
o título a um preço menor que o
de compra crescem.
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