São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Decisão unânime do Copom já era esperada pelo mercado, que prevê redução da Selic em setembro ou outubro

Apesar de queda na inflação, BC mantém juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo mês consecutivo, o Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia em 19,75% ao ano. A decisão foi tomada ontem, por unanimidade, pela diretoria do BC. A taxa segue inalterada por ao menos mais quatro semanas, quando o Copom (Comitê de Política Monetária) volta a debater o tema.
A decisão foi anunciada por meio de uma nota divulgada pelo Banco Central no início da noite de ontem. "Avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 19,75% ao ano", afirma o texto.
A estabilidade dos juros já era esperada por analistas do mercado financeiro, pois apenas no mês passado foi interrompida uma série de nove aumentos seguidos. Em documentos divulgados recentemente, o BC afirmou que a Selic continuaria nos atuais 19,75% ao ano por um período "suficientemente longo", numa tentativa de fazer com que a inflação fique dentro das metas.
Neste ano, o objetivo do BC é impedir que a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ultrapasse 5,1%. Até junho, o aumento ficou acumulado em 3,16% -mais da metade da meta do ano todo.
Antes da reunião de ontem do Copom, chegou-se a criar uma expectativa de que o BC poderia reduzir os juros já neste mês, devido à recente desaceleração registrada nos índices de preços. O IPCA, por exemplo, chegou a mostrar uma deflação (queda nos preços) de 0,02% em junho.
Além da queda ocorrida nos índices de preços, houve também um recuo nas projeções feitas pelo mercado para a inflação. De acordo com levantamento feito pelo Banco Central na sexta-feira passada entre bancos e empresas de consultoria, a alta do IPCA deve ficar em 5,67% neste ano.
Apesar de ainda estar acima da meta, a estimativa do mercado é inferior à do BC -que é de 5,8%- e apresenta uma tendência de queda. O recuo dessas previsões favorece um corte nos juros, pois indica que os reajustes de preços efetuados pelo setor privado podem ser menores do que o imaginado inicialmente.
A relativa estabilidade dos preços, somada aos sinais de desaceleração da economia, sugeriu que um corte na taxa Selic poderia ocorrer em breve -mesmo assim, o BC optou por não reduzir os juros. A pesquisa de mercado feita pelo BC, porém, mostra que a expectativa dos analistas é que a taxa Selic só comece a ser reduzida em setembro. Se o cenário imaginado pelo mercado se concretizar, os juros encerrariam 2005 em 18% ao ano.

Efeito recessivo
Juros altos favorecem o controle da inflação pelo efeito recessivo que têm sobre o nível de atividade. Taxas elevadas encarecem o crédito, desestimulando o consumo das pessoas e os investimentos das empresas. O resultado dessa política, portanto, é a desaceleração da economia.
No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) teve uma expansão de 4,9%. Neste ano, segundo previsões do mercado, o crescimento deve ficar em 3%.
Juros altos também ajudam a explicar a valorização do real ocorrida neste ano. As taxas elevadas acabam estimulando as aplicações de renda fixa, que se tornam mais rentáveis com a elevação da Selic. As aplicações corrigidas pelo câmbio, por sua vez, ficam menos atrativas, colaborando para a queda do dólar. Nas últimas semanas, a cotação da moeda norte-americana tem ficado próxima de R$ 2,30.
Dólar mais barato significa queda no preço, em reais, de mercadorias e matérias-primas que são importadas, o que ajuda no controle da inflação.
Segundo a pesquisa de mercado feita pelo BC, a expectativa é a de que os juros caiam neste ano e a economia possa apresentar um crescimento um pouco superior em 2006: a previsão é que, no ano que vem, o crescimento seja de 3,5%. Já a inflação ficaria em 5% -um pouco acima dos 4,5% estabelecidos pela meta do governo, mas dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.
A ameaça à concretização desse cenário é, justamente, o espaço que os juros têm para cair. Uma queda na taxa poderia levar à desvalorização do real, o que reverteria pelo menos parte do efeito positivo que o câmbio tem tido sobre os preços.


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