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RECEITA ORTODOXA
Decisão unânime do Copom já era esperada pelo mercado, que prevê redução da Selic em setembro ou outubro
Apesar de queda na inflação, BC mantém juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo mês consecutivo,
o Banco Central decidiu manter
os juros básicos da economia em
19,75% ao ano. A decisão foi tomada ontem, por unanimidade,
pela diretoria do BC. A taxa segue
inalterada por ao menos mais
quatro semanas, quando o Copom (Comitê de Política Monetária) volta a debater o tema.
A decisão foi anunciada por
meio de uma nota divulgada pelo
Banco Central no início da noite
de ontem. "Avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação,
o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em
19,75% ao ano", afirma o texto.
A estabilidade dos juros já era
esperada por analistas do mercado financeiro, pois apenas no mês
passado foi interrompida uma série de nove aumentos seguidos.
Em documentos divulgados recentemente, o BC afirmou que a
Selic continuaria nos atuais
19,75% ao ano por um período
"suficientemente longo", numa
tentativa de fazer com que a inflação fique dentro das metas.
Neste ano, o objetivo do BC é
impedir que a alta do IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ultrapasse
5,1%. Até junho, o aumento ficou acumulado em
3,16% -mais da metade da meta do ano todo.
Antes da reunião de ontem do
Copom, chegou-se a criar uma
expectativa de que o BC poderia
reduzir os juros já neste mês, devido à recente desaceleração registrada nos índices de preços. O
IPCA, por exemplo, chegou a
mostrar uma deflação (queda nos
preços) de 0,02% em junho.
Além da queda ocorrida nos índices de preços, houve também
um recuo nas projeções feitas pelo mercado para a inflação. De
acordo com levantamento feito
pelo Banco Central na sexta-feira
passada entre bancos e empresas
de consultoria, a alta do IPCA deve ficar em 5,67% neste ano.
Apesar de ainda estar acima da
meta, a estimativa do mercado é
inferior à do BC -que é de
5,8%- e apresenta uma tendência de queda. O recuo dessas previsões favorece um corte nos juros, pois indica que os reajustes de
preços efetuados pelo setor privado podem ser menores do que o
imaginado inicialmente.
A relativa estabilidade dos preços, somada aos sinais de desaceleração da economia, sugeriu que
um corte na taxa Selic poderia
ocorrer em breve -mesmo assim, o BC optou por não reduzir
os juros. A pesquisa de mercado
feita pelo BC, porém, mostra que
a expectativa dos analistas é que a
taxa Selic só comece a ser reduzida em setembro. Se o cenário
imaginado pelo mercado se concretizar, os juros encerrariam
2005 em 18% ao ano.
Efeito recessivo
Juros altos favorecem o controle
da inflação pelo efeito recessivo
que têm sobre o nível de atividade. Taxas elevadas encarecem o
crédito, desestimulando o consumo das pessoas e os investimentos das empresas. O resultado
dessa política, portanto, é a desaceleração da economia.
No ano passado, o PIB (Produto
Interno Bruto) teve uma expansão de 4,9%. Neste ano, segundo
previsões do mercado, o crescimento deve ficar em 3%.
Juros altos também ajudam a
explicar a valorização do real
ocorrida neste ano. As taxas elevadas acabam estimulando as
aplicações de renda fixa, que se
tornam mais rentáveis com a elevação da Selic. As aplicações corrigidas pelo câmbio, por sua vez,
ficam menos atrativas, colaborando para a queda do dólar. Nas últimas semanas, a cotação da moeda norte-americana tem ficado
próxima de R$ 2,30.
Dólar mais barato significa queda no preço, em reais, de mercadorias e matérias-primas que são
importadas, o que ajuda no controle da inflação.
Segundo a pesquisa de mercado
feita pelo BC, a expectativa é a de
que os juros caiam neste ano e a
economia possa apresentar um
crescimento um pouco superior
em 2006: a previsão é que, no ano
que vem, o crescimento seja de
3,5%. Já a inflação ficaria em 5%
-um pouco acima dos 4,5% estabelecidos pela meta do governo,
mas dentro da margem de erro de
dois pontos percentuais.
A ameaça à concretização desse
cenário é, justamente, o espaço
que os juros têm para cair. Uma
queda na taxa poderia levar à desvalorização do real, o que reverteria pelo menos parte do efeito positivo que o câmbio tem tido sobre os preços.
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