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Setor de laranja paga menos que 1 mínimo
Fiscalização estima que cerca de 3.000 trabalhadores de uma das principais regiões produtoras de SP recebam abaixo de R$ 380
Força-tarefa vê transporte
precário e falta de itens de
segurança; produtor culpa
preços baixos da indústria,
que nega interferência
JUCIMARA DE PAUDA
DA FOLHA RIBEIRÃO
Cerca de 3.000 trabalhadores na lavoura de laranja estão
ganhando menos que o salário
mínimo (R$ 380), não têm
equipamentos de segurança e
são transportados em veículos
precários. Essas foram as principais irregularidades encontradas por uma força-tarefa
que fiscalizou nesta semana as
lavouras de laranja da região de
Araraquara e São Carlos (interior paulista), responsável pela
produção de 30% da laranja do
país ou 100 milhões de caixas.
No total, foram visitadas 50
propriedades em 40 cidades.
"A situação do trabalhador
na lavoura da laranja está pior
que a do trabalhador da cana",
disse o subdelegado do Trabalho de São Carlos, Antonio Valério Morilas Junior.
O presidente da Associtrus
(Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, diz que
o baixo preço pago pela indústria aos produtores de laranja é
o grande responsável pelas irregularidades nos laranjais. A
Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Citros)
disse que não tem nenhuma
responsabilidade nas irregularidades (leia nesta página).
Segundo Morilas Júnior,
95% dos funcionários aceitaram trabalhar ganhando menos que o salário mínimo. Eles
recebem de R$ 240 a R$ 360.
O grupo de fiscalização formado por integrantes do Ministério Público do Trabalho,
do Ministério do Trabalho e da
Polícia Federal também
apreendeu dois ônibus e interditou seis que não teriam condições de circular.
De acordo com o subdelegado, também foram encontrados atestados médicos de saúde
ocupacional fraudados. "O
preenchimento foi feito com
uma letra, e a assinatura do médico era diferente", disse.
Elio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do
Estado de São Paulo), disse que
as irregularidades no setor de
laranja demonstram o "descaso" com os trabalhadores.
"O agronegócio brasileiro
tem a cultura de descumprir os
direitos, e toda vez que a fiscalização afrouxa, as irregularidades aparecem. O suco de laranja brasileiro é competitivo no
mercado internacional à custa
do trabalho degradante e o não-cumprimento das normas trabalhistas", disse Neves.
Na safra passada, encerrada
em junho deste ano, as exportações das indústrias de laranja
bateram recorde: atingiram
mais de US$ 2 bilhões.
Ademildo Luque, 38, que colhe laranjas na região de Itápolis há quatro anos, disse que
nunca enfrentou situação tão
crítica. "A maioria não consegue tirar o salário mínimo porque a laranja está miúda. Trabalhamos o dia todo e com muito custo conseguimos encher a
caixa. A safra está ruim." Os trabalhadores ganham por produtividade -o produtor paga R$
0,31 por caixa colhida de 27 kg.
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