São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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CÚPULA

Consultor diz que Lula prometeu casa, comida, roupa e lazer, mas ao assumir se dará feliz com uma refeição diária

Mexicano critica "inflação de expectativas"

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O consultor David Konzevik, da Konzevik y Asociados, do México, atacou ontem a "inflação de expectativas" e criticou o discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, durante o primeiro dia da Cúpula de Negócios da América Latina, vinculada ao Fórum Econômico Mundial.
Segundo Konzevik, que participou do painel sobre democracia e igualdade social, Lula prometeu dar casa, comida, roupa e lazer, mas depois de eleito baixou a promessa para três refeições por dia, e, ao assumir, vai se dar por feliz com uma refeição diária.
"É preciso "desinflar" as expectativas", disse o consultor, acrescentando outras críticas às esquerdas. Segundo ele, o poder é como o violino -"carrega-se com a esquerda e toca-se com a direita"- e o mundo ficará muito melhor quando "os dogmas forem transformados em idéias".
Depois do comentário sobre Lula, Konzevik recebeu discretamente o cartão de visitas de um dos participantes, com uma só palavra, acompanhada de exclamação: "Excellent! (excelente)". Autor: o embaixador Richard Mc Cornack, que foi subsecretário de Estado de Economia, Negócios e Agricultura, e hoje é do Centro de Estudos da Presidência dos Estados Unidos, uma ONG.
Também participou do painel o atual subsecretário de Estado norte-americano para Economia, Negócios e Agricultura, Alan Larson, que atribuiu a crise da Venezuela à política isolacionista do presidente Hugo Chávez, mas igualmente criticou os oposicionistas, que estariam usando "meios antidemocráticos" contra o regime.
O subsecretário, em resumo, defendeu três pontos para a América Latina: 1) manter os ganhos da década passada, como no caso da estabilidade econômica, da saúde e da educação no Brasil; 2) promover uma "segunda geração de reformas", com crescimento econômico, criação de empregos e mais justiça social; 3) maior solidariedade entre os países (ao citar o isolamento da Venezuela).Para Larson, os países devem ajudar uns aos outros para garantir mais transparência a seus governos e combater inimigos comuns, como o crime organizado e o tráfico de drogas.
Na outra ponta do liberalismo, falaram o prefeito de Buenos Aires, Anibal Ibarra, o chairman do Instituto Ethos do Brasil, Ricardo Young, e o representante da ONG Ecoclubes, da Argentina.
Ibarra atribuiu a crise argentina à política de privatizações, que serviu para abater dívida, mas não para investimentos, e à convertibilidade (pela qual um peso valia um dólar). E adicionou ingredientes políticos à crítica: "Seria suicídio eleitoral condenar publicamente a convertibilidade".
O prefeito fez, ainda, uma comparação entre a crise e a democracia. Segundo ele, cerca de 40% dos argentinos, hoje, dão prioridade à solução da crise econômica, mesmo que se trate de um governo autoritário. A lição argentina para o continente, disse, é que "não há projeto de desenvolvimento real sem investimento no social".
Young, do Ethos, defendeu o conceito de "mercados socialmente responsáveis" e parcerias entre governos, empresas privadas e o terceiro setor para que o desenvolvimento dos países reflita em suas populações. Citou o combate ao trabalho infantil no Brasil como exemplo de sucesso.


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