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CÚPULA
Consultor diz que Lula prometeu casa, comida, roupa e lazer, mas ao assumir se dará feliz com uma refeição diária
Mexicano critica "inflação de expectativas"
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O consultor David Konzevik, da
Konzevik y Asociados, do México, atacou ontem a "inflação de
expectativas" e criticou o discurso
do presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, durante o primeiro
dia da Cúpula de Negócios da
América Latina, vinculada ao Fórum Econômico Mundial.
Segundo Konzevik, que participou do painel sobre democracia e
igualdade social, Lula prometeu
dar casa, comida, roupa e lazer,
mas depois de eleito baixou a promessa para três refeições por dia,
e, ao assumir, vai se dar por feliz
com uma refeição diária.
"É preciso "desinflar" as expectativas", disse o consultor, acrescentando outras críticas às esquerdas. Segundo ele, o poder é como
o violino -"carrega-se com a esquerda e toca-se com a direita"-
e o mundo ficará muito melhor
quando "os dogmas forem transformados em idéias".
Depois do comentário sobre
Lula, Konzevik recebeu discretamente o cartão de visitas de um
dos participantes, com uma só
palavra, acompanhada de exclamação: "Excellent! (excelente)".
Autor: o embaixador Richard Mc
Cornack, que foi subsecretário de
Estado de Economia, Negócios e
Agricultura, e hoje é do Centro de
Estudos da Presidência dos Estados Unidos, uma ONG.
Também participou do painel o
atual subsecretário de Estado norte-americano para Economia, Negócios e Agricultura, Alan Larson,
que atribuiu a crise da Venezuela
à política isolacionista do presidente Hugo Chávez, mas igualmente criticou os oposicionistas,
que estariam usando "meios antidemocráticos" contra o regime.
O subsecretário, em resumo,
defendeu três pontos para a América Latina: 1) manter os ganhos
da década passada, como no caso
da estabilidade econômica, da
saúde e da educação no Brasil; 2)
promover uma "segunda geração
de reformas", com crescimento
econômico, criação de empregos
e mais justiça social; 3) maior solidariedade entre os países (ao citar
o isolamento da Venezuela).Para
Larson, os países devem ajudar
uns aos outros para garantir mais
transparência a seus governos e
combater inimigos comuns, como o crime organizado e o tráfico
de drogas.
Na outra ponta do liberalismo,
falaram o prefeito de Buenos Aires, Anibal Ibarra, o chairman do
Instituto Ethos do Brasil, Ricardo
Young, e o representante da ONG
Ecoclubes, da Argentina.
Ibarra atribuiu a crise argentina
à política de privatizações, que
serviu para abater dívida, mas não
para investimentos, e à convertibilidade (pela qual um peso valia
um dólar). E adicionou ingredientes políticos à crítica: "Seria
suicídio eleitoral condenar publicamente a convertibilidade".
O prefeito fez, ainda, uma comparação entre a crise e a democracia. Segundo ele, cerca de 40% dos
argentinos, hoje, dão prioridade à
solução da crise econômica, mesmo que se trate de um governo
autoritário. A lição argentina para
o continente, disse, é que "não há
projeto de desenvolvimento real
sem investimento no social".
Young, do Ethos, defendeu o
conceito de "mercados socialmente responsáveis" e parcerias
entre governos, empresas privadas e o terceiro setor para que o
desenvolvimento dos países reflita em suas populações. Citou o
combate ao trabalho infantil no
Brasil como exemplo de sucesso.
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