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LUÍS NASSIF
Integração monetária do Mercosul
No final do mês, uma delegação da BM&F (Bolsa de
Mercadorias e Futuros) estará
rumando para a Argentina para uma missão relevante para a
integração do Mercosul: convencer o Banco Central argentino da possibilidade de montar
uma "clearing" cambial que
permita o comércio bilateral entre os dois países sem a utilização de dólares.
Desde a grande crise cambial
dos anos 80, o tema tem sido levantado recorrentemente. A ferramenta utilizada para compensar a falta de divisas era o
CCR (Convênio de Crédito Recíproco), pelo qual os bancos centrais de dois países estabeleciam
as compensações para o pagamento de seus respectivos exportadores.
O problema era que o risco nação cabia ao BC. No caso brasileiro, no início dos anos 80 ficou
famoso o episódio das "polonetas". Exportou-se bastante por
conta do convênio, a Polônia
quebrou, mas o prejuízo foi do
BC.
Quando estourou a crise argentina, as exportações brasileiras para lá despencaram. Tentou-se relançar os CCRs, mas o
BC evitou a todo o custo, usando como argumento o episódio
das polonetas. Com a proposta
da BM&F, pode-se ter o mecanismo privado que faltava para
consolidar o comércio bilateral
com a Argentina, porque o risco
passa a ser privado.
O comércio entre os dois países tem oscilado na faixa dos
US$ 8 bilhões anuais. Pelas estatísticas da BM&F, o saldo -ora
a favor de um ora de outro
país- não tem sido superior a
15%. Portanto, a rigor, haveria
a necessidade de apenas esses
15% de dólares, correspondendo
ao saldo comercial.
Pela proposta, exportadores e
importadores de cada país depositariam os contratos de câmbio em seus respectivos bancos.
Esses bancos iriam até a BM&F
e venderiam ou comprariam
reais ou pesos para seus clientes,
em uma única operação diária.
Considere-se que, hoje em dia,
o Brasil padece do corte parcial
das linhas de crédito à exportação e, para a Argentina, durante os próximos anos não haverá
um mísero dólar para financiar
seus importadores e exportadores.
Há vantagens de caráter comercial e diplomático. No plano
comercial, a implantação da
"clearing" servirá de poderoso
estímulo ao comércio bilateral.
Ao mesmo tempo, poderá significar um salto expressivo para a
união monetária do continente,
antes da implantação da moeda
única -processo que exige a
convergência dos regimes fiscal
e monetário dos países da região.
Finalmente, poderá permitir
estender o Sistema de Pagamentos Brasileiro a todo o continente. Aliás, a BM&F ganhou essa
competência de "clearing" cambial a partir da implantação do
SPB. Em abril passado passou a
atuar como "clearing" do interbancário de câmbio. Pouco
mais de oito meses, já negocia
65% do total de dólares do interbancário. Até a semana passada, passaram pela "clearing"
da BM&F US$ 184 bilhões em
operações cursadas.
Além de desburocratizar as
operações bancárias de câmbio,
a BM&F passou a administrar o
risco cambial, inclusive passando incólume pela grande volatilidade cambial do segundo semestre do ano passado. As garantias cambiais da BM&F já
chegam a US$ 300 milhões.
A questão é saber até que ponto a rivalidade histórica entre os
dois países poderá dificultar a
aceitação da proposta pelo BC
argentino.
BB
O Banco do Brasil foi entregue
a uma diretoria de altíssimo nível, com a indicação da Cássio
Casseb Lima para a presidência,
a manutenção de vice-presidentes de larga experiência, como
Rossano Maranhão Pinto e Ricardo Alves Conceição, a volta
de Edson Machado Monteiro e
a contratação de José Luiz de
Cerqueira Cezar para Tecnologia (vindo da BM&F).
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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