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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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LUÍS NASSIF

Integração monetária do Mercosul

No final do mês, uma delegação da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) estará rumando para a Argentina para uma missão relevante para a integração do Mercosul: convencer o Banco Central argentino da possibilidade de montar uma "clearing" cambial que permita o comércio bilateral entre os dois países sem a utilização de dólares.
Desde a grande crise cambial dos anos 80, o tema tem sido levantado recorrentemente. A ferramenta utilizada para compensar a falta de divisas era o CCR (Convênio de Crédito Recíproco), pelo qual os bancos centrais de dois países estabeleciam as compensações para o pagamento de seus respectivos exportadores.
O problema era que o risco nação cabia ao BC. No caso brasileiro, no início dos anos 80 ficou famoso o episódio das "polonetas". Exportou-se bastante por conta do convênio, a Polônia quebrou, mas o prejuízo foi do BC.
Quando estourou a crise argentina, as exportações brasileiras para lá despencaram. Tentou-se relançar os CCRs, mas o BC evitou a todo o custo, usando como argumento o episódio das polonetas. Com a proposta da BM&F, pode-se ter o mecanismo privado que faltava para consolidar o comércio bilateral com a Argentina, porque o risco passa a ser privado.
O comércio entre os dois países tem oscilado na faixa dos US$ 8 bilhões anuais. Pelas estatísticas da BM&F, o saldo -ora a favor de um ora de outro país- não tem sido superior a 15%. Portanto, a rigor, haveria a necessidade de apenas esses 15% de dólares, correspondendo ao saldo comercial.
Pela proposta, exportadores e importadores de cada país depositariam os contratos de câmbio em seus respectivos bancos. Esses bancos iriam até a BM&F e venderiam ou comprariam reais ou pesos para seus clientes, em uma única operação diária.
Considere-se que, hoje em dia, o Brasil padece do corte parcial das linhas de crédito à exportação e, para a Argentina, durante os próximos anos não haverá um mísero dólar para financiar seus importadores e exportadores.
Há vantagens de caráter comercial e diplomático. No plano comercial, a implantação da "clearing" servirá de poderoso estímulo ao comércio bilateral. Ao mesmo tempo, poderá significar um salto expressivo para a união monetária do continente, antes da implantação da moeda única -processo que exige a convergência dos regimes fiscal e monetário dos países da região.
Finalmente, poderá permitir estender o Sistema de Pagamentos Brasileiro a todo o continente. Aliás, a BM&F ganhou essa competência de "clearing" cambial a partir da implantação do SPB. Em abril passado passou a atuar como "clearing" do interbancário de câmbio. Pouco mais de oito meses, já negocia 65% do total de dólares do interbancário. Até a semana passada, passaram pela "clearing" da BM&F US$ 184 bilhões em operações cursadas.
Além de desburocratizar as operações bancárias de câmbio, a BM&F passou a administrar o risco cambial, inclusive passando incólume pela grande volatilidade cambial do segundo semestre do ano passado. As garantias cambiais da BM&F já chegam a US$ 300 milhões.
A questão é saber até que ponto a rivalidade histórica entre os dois países poderá dificultar a aceitação da proposta pelo BC argentino.

BB
O Banco do Brasil foi entregue a uma diretoria de altíssimo nível, com a indicação da Cássio Casseb Lima para a presidência, a manutenção de vice-presidentes de larga experiência, como Rossano Maranhão Pinto e Ricardo Alves Conceição, a volta de Edson Machado Monteiro e a contratação de José Luiz de Cerqueira Cezar para Tecnologia (vindo da BM&F).

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