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OPINIÃO ECONÔMICA
Triste madrugada foi aquela...
BENJAMIN STEINBRUCH
Se eu fosse do governo Lula,
colocaria as barbas de molho
depois da madrugada da última
terça-feira, dia 15, quando o PT
foi derrotado na escolha do presidente da Câmara dos Deputados.
A história dessa derrota já foi
contada em prosa e verso nos últimos dias. Foi um verdadeiro pastelão, decorrente da incapacidade do partido do governo de operar politicamente uma eleição
que era ganha por definição. O
governo consegui perder para um
deputado independente.
O fato agora é que o governo
precisa tratar esse episódio levando em conta aquilo que ele realmente representa, um tropeço político. Mais um tropeço preocupante na curta história do governo Lula, uma lição para o ano
eleitoral que vem aí, em 2006. Nas
eleições municipais do ano passado, as classes médias dos grandes
centros urbanos já manifestaram
seu descontentamento, e o governo tropeçou: perdeu o controle
político em centros importantes,
como São Paulo e Porto Alegre.
As classes empresariais também
se mostram insatisfeitas com a
carga tributária e o alto custo do
dinheiro -a nova ameaça da
burocracia de Brasília é a elevação dos juros de longo prazo cobrados nos financiamentos de investimentos produtivos.
Na raiz desses tropeços estão a
arrogância e a empáfia de alguns
responsáveis pelo comando do
governo. Esse comportamento,
que levou à derrota na eleição para a presidência da Câmara, se
apresenta também em setores do
comando da economia. É dessa
forma, com arrogância e empáfia, que vem sendo conduzida a
política monetária, pouco se lixando para as opiniões contrárias. Depois de seis meses de seguidos apertos monetários sem
resultados palpáveis para desaquecer a demanda ou para reduzir a inflação em direção à meta
de 5,1%, o Banco Central voltou a
aumentar a dose de seu remédio
ineficaz na semana passada, ao
elevar a taxa básica de juros para
18,75%. Os únicos efeitos dessa seqüência de reajustes feitos na Selic desde setembro têm sido o aumento da dívida pública e a supervalorização do real, essa uma
grave ameaça para as exportações.
Se persistir nesse comportamento, o governo corre o risco de tropeçar também naquilo que mais
tem dado prestígio à atual administração, o crescimento da economia. Uma eventual overdose
de juros poderá comprometer o
atual ciclo de expansão. Então,
não sobrará nada para ser mostrado na corrida eleitoral de 2006.
Cabe ao presidente Lula colocar
as barbas de molho e se agarrar
naquilo que ainda está dando
certo. Se realmente tem a vontade
de reeleger-se, deveria perseguir
obstinadamente a idéia de consolidar um ciclo positivo na economia. Tentar criar condições para
um largo período de crescimento
da produção e do emprego, de
uma década pelo menos, em que
o consumo se mantenha em alta
ao mesmo tempo em que avancem os investimentos para aumentar a oferta de produtos.
Esse é o único caminho para o
Brasil. Em qualquer área da vida,
na economia, na política ou nos
negócios, a soberba sempre produz resultados como os da triste
madrugada do dia 15.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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