São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2005

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CONTAS EXTERNAS

Empresas aproveitam queda do dólar e enviam US$ 1,35 bi; BC muda previsão e já espera superávit em 2005

Remessa de lucros bate recorde em fevereiro

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As remessas de lucros e dividendos para o exterior atingiram valores recordes no mês passado, segundo dados do Banco Central. A saída líquida de recursos foi de US$ 1,348 bilhão, maior resultado registrado no país desde setembro de 1998.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, diz que o resultado não chega a ser surpreendente, já que as multinacionais instaladas no Brasil costumam concentrar no início de cada ano o envio de lucros às suas matrizes. O que aconteceu, segundo Lopes, foi que muitas empresas preferiram antecipar essas remessas, concentrando-as em fevereiro.
Ele afirma também que o motivo dessa antecipação é, "provavelmente", o movimento da taxa de câmbio no mês passado. Com o real valorizado, torna-se mais vantajoso fazer remessas para o exterior -pois, com a mesma quantidade de reais, é possível comprar um volume maior de dólares. Em fevereiro, a moeda dos EUA chegou a ser negociada abaixo de R$ 2,60.
Nas últimas semanas, porém, já se observa uma redução no total de remessas de lucros ao exterior. De acordo com um número parcial fechado ontem, os lucros e dividendos enviados para fora do país neste mês somam, até agora, US$ 311 milhões.
A expectativa é que, entre janeiro e março deste ano, as remessas cheguem a US$ 2 bilhões, um aumento de 23,7% em relação ao mesmo período de 2004. Para Lopes, esse crescimento se explica pela maior rentabilidade alcançada pelas empresas neste ano, conseqüência do crescimento da economia ocorrido no período.
Lopes afirma também, embora sem citar números, que os bancos e a indústria de alimentos e bebidas foram os setores que mais enviaram dólares para o exterior no mês passado.
O aumento no envio de lucros e dividendos ao exterior foi o principal responsável pela piora no resultado das contas externas em fevereiro. A conta de transações correntes -que inclui as negociações de bens e serviços do Brasil com outros países- teve um superávit de US$ 117 milhões no mês passado. A expectativa de analistas do mercado financeiro era de que esse número chegasse a cerca de US$ 700 milhões.
Mesmo com o resultado menos expressivo ocorrido em fevereiro, o BC elevou suas projeções para os resultados das contas externas deste ano. A previsão para o superávit em transações correntes passou para US$ 2,1 bilhões -antes se esperava que o saldo fosse ficar próximo de zero.
"A revisão [na estimativa] reflete o bom desempenho do comércio exterior, principalmente no que diz respeito às exportações", diz Lopes. Neste ano, de acordo com os cálculos do BC, as vendas de produtos nacionais para o exterior devem chegar a US$ 105 bilhões -contra US$ 100 bilhões projetados anteriormente e US$ 96,5 bilhões registrados ao longo de 2004.
Já as importações devem ficar em US$ 78 bilhões, o que resultaria num superávit comercial de US$ 27 bilhões, um aumento de US$ 2 bilhões em relação à estimativa anterior.
Além da balança comercial, fazem parte da conta de transações correntes a balança de serviços e rendas (gastos com viagens internacionais e despesas com juros da dívida externa, entre outros itens) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao país por brasileiros que moram no exterior, e vice-versa).


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