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LUÍS NASSIF
Os políticos e a gestão
Nas últimas semanas,
dois presidenciáveis foram praticamente colocados
fora de combate por terem deixado aberto o flanco da gestão.
Cesar Maia (PFL), pelo descalabro da saúde na cidade do
Rio de Janeiro; Geraldo Alckmin (PSDB), pelo descalabro
da Febem no Estado de São
Paulo.
Fernando Henrique Cardoso
e Luiz Inácio Lula da Silva foram os dois últimos personagens de um processo de transição política moldado na luta
contra a ditadura militar. E
vieram montados em duas utopias: o primeiro, na estabilização inflacionária; o segundo,
na utopia petista. Esse tempo
acabou.
O próximo presidenciável que
quiser conquistar a opinião pública consciente (para diferenciar daquela mais suscetível ao
populismo) terá que mostrar
outras qualidades.
Um governante é composto
de três virtudes fundamentais.
A primeira, a capacidade de falar com os eleitores, de ser percebido e acatado pelo homem
comum, elemento essencial de
governabilidade, muito mais
ainda nas modernas sociedades de massa. Alckmin tem esse
atributo, mais uma vida pessoal irrepreensível. Mas não
consolidou os dois outros: a capacidade de definir um projeto
de construção do futuro e a gestão e determinação política para implementá-lo.
Para resolver o caso Febem,
havia a necessidade de um bom
diagnóstico, um bom gestor e
coragem política para bancá-lo. Nada se fez unicamente para não enfrentar o desgaste
com as cidades do interior que
deveriam receber as novas unidades. Agora vai enfrentar,
mas em um quadro de crise. O
que fará quando tiver de definir os grandes temas nacionais?
É aí que entram duas pragas
nacionais: o modelo político capenga brasileiro, que gravita
em torno de políticos, não de
partidos; e o modelo de gestão
pública, que joga nas costas de
políticos sem experiência administrativa a responsabilidade
pela gestão.
A função do político, governador ou presidente, é nobre.
Cabe a ele pensar o futuro,
identificar os melhores caminhos, montar alianças com
partidos e sociedade civil e mobilizá-los em torno de um projeto de futuro. Debaixo dele, há
a necessidade imperiosa de
uma estrutura executiva, que
irá executar os trabalhos, prestar contas, conduzir o dia-a-dia.
Caberia a essa estrutura levantar informações, acomodar
as prioridades do governo no
Orçamento, definir formas de
acompanhamento dos trabalhos de cada secretário, para
saber se estão cumprindo a
missão que lhes foi delegada.
Pergunte a qualquer ministro
ou secretário de Estado, não
apenas de São Paulo, mas da
maioria dos Estados, qual a
missão que receberam, quais as
metas com as quais se comprometeram. Provavelmente receberam apenas o diploma de
posse e a ordem: toque isso aí.
Se o modelo político brasileiro fosse mais moderno, o próprio partido trataria de fornecer essa estrutura a seus governadores, serem co-responsáveis
pelo processo. No entanto, eleito -prefeito, governador ou
presidente-, o político se desprega da estrutura partidária.
E acaba ficando na primeira
curva do rio, ou no primeiro
motim de um reformatório.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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