São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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ANÁLISE

Superávit é pitada ortodoxa na receita heterodoxa de Kirchner

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A rescisão do contrato com uma empresa privatizada é mais um ingrediente da receita econômica heterodoxa de Néstor Kirchner, que inclui juros reais negativos, intervenção no mercado de câmbio e tentativa de controle da inflação por meio de acordos de preços e alteração de tarifas aplicadas no comércio exterior.
A forte atuação do Estado é o elemento distintivo do que passou a ser conhecido como modelo "K", de Kirchner. Dentro desse cenário heterodoxo, a pitada que agrada aos economistas conservadores é dada pela situação confortável das contas públicas, materializada em constantes superávits primários (diferença entre receita e despesa antes do pagamento de juros da dívida).
Kirchner tem conseguido economizar somas consideráveis a cada mês, graças ao aumento da arrecadação de impostos provocado pelo crescimento econômico, que no ano passado atingiu o índice de 9,2% -no Brasil, a expansão foi de 2,3%.
Porém a manutenção de superávits primários a médio prazo parecia ameaçada pelo aumento das despesas em ritmo superior ao da expansão da receita registrado em meses recentes. O gasto público é outro ingrediente do modelo "K", que ganhou mais peso em razão das eleições legislativas de 2005.
A tendência de encolhimento do superávit primário se reverteu em fevereiro, quando a arrecadação cresceu 27% e o gasto, 24%, segundo o economista Hernán Fardi, da Maxinver.com.
A economia realizada no mês passado superou as estimativas do mercado e chegou a 1,9 bilhão de pesos (US$ 630 milhões), 37% acima do superávit primário obtido em igual período de 2005. A maioria dos analistas esperava uma cifra próxima de 1,6 bilhão de pesos (US$ 530 milhões).
Neste ano, a economia argentina deve crescer em torno de 7%, o que manterá a arrecadação em alta. Se não houver um descontrole do gasto, tudo indica que Kirchner continuará a ter folga para economizar recursos públicos.
A ameaça inflacionária continua a ser o grande problema do presidente, mas o ano começou com um arrefecimento do ritmo de reajustes de alguns preços e revisão para baixo das projeções dos próximos meses.


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