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DILEMA
Inflação de 5,5% em 2005 daria folga para um crescimento de 4%, afirma Mercadante, ao citar cálculo do próprio BC
Estudo liga nova meta a expansão maior
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elevação de 4,5% para 5,5% da
meta de inflação de 2005 permitiria, ao reduzir a necessidade de juros tão elevados, um crescimento
de 4% do PIB (Produto Interno
Bruto), de acordo com cálculos
feitos com os critérios adotados
hoje pelo Banco Central. A informação é da principal voz governista em defesa da revisão da meta, o senador Aloizio Mercadante
(PT-SP).
"Em vez de 3,6% [de crescimento do PIB em 2005], nós chegaríamos a 4% no ano que vem, pela
própria fórmula do BC", diz o líder do governo no Senado.
Mas, como o próprio Mercadante afirma, há também uma razão muito menos otimista para
justificar a medida: a necessidade
de absorver a esperada elevação
dos juros norte-americanos, que
tende a reduzir o fluxo de capitais
para o Brasil e elevar as cotações
internas do dólar. "Acho que vamos ter um ajuste da economia
internacional, da taxa de juros
americana", prevê. "Não sei qual
vai ser. Mas tudo indica que algum tipo de ajuste nós teremos.
Por isso, temos de ter uma meta
[de inflação] que seja realizável."
Nesse cenário, o que seria inflexão da política econômica para
propiciar mais crescimento passa
a ser só uma reação inevitável a
um choque desfavorável, como
aconteceu em 2001, 2002 e 2003,
quando a alta do dólar tornou impossível o cumprimento das metas originais para a inflação.
Mercadante, cumprindo o dever governista de alimentar expectativas positivas, minimiza os
riscos para o crescimento brasileiro. Argumenta que os superávits
comerciais tornaram o país menos dependente de capital externo e que, como a alta dos juros
nos EUA já é esperada, o mercado
já vem se preparando. "Os economistas passam metade do tempo
prevendo o que vai acontecer e a
outra metade explicando por que
não aconteceu exatamente o que
eles previram", brinca o senador,
ele próprio economista, citando
uma máxima sobre a profissão.
Mas o fato é que o previsível fim
do período de bonança internacional dá mais força aos defensores da elevação da meta de 4,5%
para o IPCA de 2005.
Apoios no governo
Conforme a Folha informou
anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos bastidores,
já deixou claro que pretende rever
a meta ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que resiste.
Ainda está em discussão o nível
de elevação -se para 5% ou
5,5%, mais a margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais.
"Sinto apoio consistente de áreas
importantes do governo [à medida]", diz Mercadante. Uma dessas
"áreas" é o ministro Ciro Gomes
(Integração Nacional).
O senador crê que o benefício
esperado com a elevação da meta
-expansão maior do PIB-
compensa o custo -não só mais
inflação mas também o risco de o
mercado interpretar a medida como um sinal de que o governo,
por conveniência política, acabará se descuidando da disciplina
monetária seguida até aqui.
"Nós vamos privatizar a agenda
nacional? Os objetivos estratégicos de um país vão ser estabelecidos apenas pelos operadores do
mercado, que têm interesses concretos nessa discussão? Ou não
têm?", pergunta. Segundo sua visão, essa é a alternativa que resta à
política econômica, uma vez que,
como decidiu o governo, as metas
da política fiscal não podem ser
alteradas. "Essa é a opção do governo: manter a política fiscal e
explorar melhor a monetária."
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