São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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DILEMA

Inflação de 5,5% em 2005 daria folga para um crescimento de 4%, afirma Mercadante, ao citar cálculo do próprio BC

Estudo liga nova meta a expansão maior

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A elevação de 4,5% para 5,5% da meta de inflação de 2005 permitiria, ao reduzir a necessidade de juros tão elevados, um crescimento de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com cálculos feitos com os critérios adotados hoje pelo Banco Central. A informação é da principal voz governista em defesa da revisão da meta, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
"Em vez de 3,6% [de crescimento do PIB em 2005], nós chegaríamos a 4% no ano que vem, pela própria fórmula do BC", diz o líder do governo no Senado.
Mas, como o próprio Mercadante afirma, há também uma razão muito menos otimista para justificar a medida: a necessidade de absorver a esperada elevação dos juros norte-americanos, que tende a reduzir o fluxo de capitais para o Brasil e elevar as cotações internas do dólar. "Acho que vamos ter um ajuste da economia internacional, da taxa de juros americana", prevê. "Não sei qual vai ser. Mas tudo indica que algum tipo de ajuste nós teremos. Por isso, temos de ter uma meta [de inflação] que seja realizável."
Nesse cenário, o que seria inflexão da política econômica para propiciar mais crescimento passa a ser só uma reação inevitável a um choque desfavorável, como aconteceu em 2001, 2002 e 2003, quando a alta do dólar tornou impossível o cumprimento das metas originais para a inflação.
Mercadante, cumprindo o dever governista de alimentar expectativas positivas, minimiza os riscos para o crescimento brasileiro. Argumenta que os superávits comerciais tornaram o país menos dependente de capital externo e que, como a alta dos juros nos EUA já é esperada, o mercado já vem se preparando. "Os economistas passam metade do tempo prevendo o que vai acontecer e a outra metade explicando por que não aconteceu exatamente o que eles previram", brinca o senador, ele próprio economista, citando uma máxima sobre a profissão.
Mas o fato é que o previsível fim do período de bonança internacional dá mais força aos defensores da elevação da meta de 4,5% para o IPCA de 2005.

Apoios no governo
Conforme a Folha informou anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos bastidores, já deixou claro que pretende rever a meta ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que resiste.
Ainda está em discussão o nível de elevação -se para 5% ou 5,5%, mais a margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais. "Sinto apoio consistente de áreas importantes do governo [à medida]", diz Mercadante. Uma dessas "áreas" é o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional).
O senador crê que o benefício esperado com a elevação da meta -expansão maior do PIB- compensa o custo -não só mais inflação mas também o risco de o mercado interpretar a medida como um sinal de que o governo, por conveniência política, acabará se descuidando da disciplina monetária seguida até aqui.
"Nós vamos privatizar a agenda nacional? Os objetivos estratégicos de um país vão ser estabelecidos apenas pelos operadores do mercado, que têm interesses concretos nessa discussão? Ou não têm?", pergunta. Segundo sua visão, essa é a alternativa que resta à política econômica, uma vez que, como decidiu o governo, as metas da política fiscal não podem ser alteradas. "Essa é a opção do governo: manter a política fiscal e explorar melhor a monetária."


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