São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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Agora, Malan põe culpa em empresa americana

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Pedro Malan (Fazenda) mudou ontem o tom de seu discurso para explicar o nervosismo do mercado financeiro e a deterioração do risco-país.
A causa da turbulência seria mais técnica -aumento da percepção de risco no mercado internacional- e menos política -o crescimento do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas e a indefinição de suas propostas para a economia, como vinha batendo.
Segundo Malan, o avanço do risco-país nos últimos dias não encontra fundamento na economia real brasileira. "Nada aconteceu, nas últimas semanas, na indústria ou no comércio, que justifique o crescimento do risco Brasil tal como medido diariamente por instituições internacionais."
Malan destacou o aumento da inadimplência nos bônus corporativos americanos no último ano como um dos fatores que fizeram os investidores internacionais ficar mais cautelosos e rever suas carteiras de aplicações em títulos de países emergentes, derrubando seus preços e pressionando os indicadores de risco-país.
A inadimplência nos bônus corporativos americanos, segundo Malan, chegou a US$ 45 bilhões no primeiro semestre do ano passado e, neste ano, até maio, já atingiu US$ 46 bilhões.
A estimativa é que bata em US$ 125 bilhões até o final do ano. "Desde a crise da Rússia mudou a percepção de risco no mundo", disse o ministro.
No ano passado, essa percepção dos investidores se acentuou após o atentado de 11 de setembro, a crise da Argentina, a quebra da Enron e a suspeita generalizada de que os balanços das empresas americanas não espelhavam a realidade.

Incerteza
Dentro desse quadro, o Brasil passou a viver neste ano a incerteza da continuidade da atual política econômica por causa das eleições. "O problema é que risco pode ser precificado, incerteza não", disse Malan.
Na opinião do ministro a "incerteza que estamos vivendo deveria ser encarada como natural em uma sociedade democrática. Do ponto de vista da democracia, é uma incerteza positiva", declarou o ministro.
Segundo Malan, a incerteza trazida pelas eleições permite que o debate se aprofunde e que as pessoas mudem de opinião. "E eu tenho notado mudanças. Essas mudanças devem ser repassadas à população como resultado da reflexão, nos próximos meses". Mas advertiu que tais mudanças precisam ser "críveis e consistentes", como aconteceu com o Partido Trabalhista inglês depois de seis anos de debates.

Serenidade
Malan enfatizou, ainda, que é preciso serenidade para atravessar o atual período de incerteza que assalta o mercado e o faz agir de forma ciclotímica. "Nesse momento de turbulência, em que as pessoas se deixam levar pelo comportamento de rebanho, é preciso serenidade e visão de longo prazo", concluiu o ministro. Ele participou ontem do Ciab 2002 (Congresso de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras), promovido pela Febraban.



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