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Agora, Malan põe culpa em empresa americana
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro Pedro Malan (Fazenda) mudou ontem o tom de
seu discurso para explicar o nervosismo do mercado financeiro e
a deterioração do risco-país.
A causa da turbulência seria
mais técnica -aumento da percepção de risco no mercado internacional- e menos política -o
crescimento do candidato do PT,
Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas e a indefinição de suas propostas para a economia, como vinha batendo.
Segundo Malan, o avanço do
risco-país nos últimos dias não
encontra fundamento na economia real brasileira. "Nada aconteceu, nas últimas semanas, na indústria ou no comércio, que justifique o crescimento do risco Brasil tal como medido diariamente
por instituições internacionais."
Malan destacou o aumento da
inadimplência nos bônus corporativos americanos no último ano
como um dos fatores que fizeram
os investidores internacionais ficar mais cautelosos e rever suas
carteiras de aplicações em títulos
de países emergentes, derrubando seus preços e pressionando os
indicadores de risco-país.
A inadimplência nos bônus corporativos americanos, segundo
Malan, chegou a US$ 45 bilhões
no primeiro semestre do ano passado e, neste ano, até maio, já
atingiu US$ 46 bilhões.
A estimativa é que bata em US$
125 bilhões até o final do ano.
"Desde a crise da Rússia mudou a
percepção de risco no mundo",
disse o ministro.
No ano passado, essa percepção
dos investidores se acentuou após
o atentado de 11 de setembro, a
crise da Argentina, a quebra da
Enron e a suspeita generalizada
de que os balanços das empresas
americanas não espelhavam a
realidade.
Incerteza
Dentro desse quadro, o Brasil
passou a viver neste ano a incerteza da continuidade da atual política econômica por causa das eleições. "O problema é que risco pode ser precificado, incerteza não",
disse Malan.
Na opinião do ministro a "incerteza que estamos vivendo deveria ser encarada como natural
em uma sociedade democrática.
Do ponto de vista da democracia,
é uma incerteza positiva", declarou o ministro.
Segundo Malan, a incerteza trazida pelas eleições permite que o
debate se aprofunde e que as pessoas mudem de opinião. "E eu tenho notado mudanças. Essas mudanças devem ser repassadas à
população como resultado da reflexão, nos próximos meses". Mas
advertiu que tais mudanças precisam ser "críveis e consistentes",
como aconteceu com o Partido
Trabalhista inglês depois de seis
anos de debates.
Serenidade
Malan enfatizou, ainda, que é
preciso serenidade para atravessar o atual período de incerteza
que assalta o mercado e o faz agir
de forma ciclotímica. "Nesse momento de turbulência, em que as
pessoas se deixam levar pelo comportamento de rebanho, é preciso
serenidade e visão de longo prazo", concluiu o ministro. Ele participou ontem do Ciab 2002 (Congresso de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras),
promovido pela Febraban.
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