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OPINIÃO ECONÔMICA
Manter a calma em jogo nervoso
GESNER OLIVEIRA
Da disparada do risco Brasil na quinta-feira ao apito
final do juiz mexicano Felipe Rizo
na madrugada de sexta, a adrenalina se manteve nas alturas.
Quando Owen fez o gol para os
ingleses aos 23min do primeiro
tempo e a falsa maldição da camisa azul parecia concretizar-se,
estabeleceu-se uma vantagem
que não refletia o que as duas
equipes apresentavam em campo.
O Brasil jogava melhor e tinha
condições de continuar impondo
seu ritmo.
Da mesma forma, a elevação do
Brasil à condição de vice-campeão de risco soberano à frente da
concordatária Nigéria e atrás
apenas da falida Argentina não
corresponde aos fundamentos da
economia brasileira.
Pelo menos três fatos acerca do
endividamento brasileiro merecem lembrança para acalmar um
pouco os ânimos. Em primeiro lugar, o crescimento da dívida interna depois do Plano Real não
pode ser extrapolado para o futuro. Conforme já foi mostrado nesta coluna, a expansão da dívida
mobiliária nos últimos anos se
deveu em boa medida a fatores
específicos, como a renegociação
das dívidas estaduais, a assunção
de obrigações efetivas, mas que
não haviam sido explicitadas (os
famosos "esqueletos"), e a criação
de um colchão de gerenciamento,
precisamente para enfrentar situações de instabilidade como a
atual.
Em segundo lugar, a atual estrutura de prazos da dívida interna é melhor do que a que prevalecia em circunstâncias externas
mais graves, como por ocasião da
crise da Ásia. O prazo médio dos
papéis emitidos em leilão é de
24,7 meses, contra apenas 6,82
meses em dezembro de 1997.
Em terceiro lugar, mesmo considerando o encurtamento de prazos observado nas últimas semanas, os vencimentos para a virada
do ano, naturalmente abrangendo a próxima administração, não
representam algo exorbitante que
não possa ser honrado. A média
mensal de vencimentos de títulos
públicos no quarto trimestre de
2002 e no primeiro trimestre de
2003 ainda é inferior à média dos
vencimentos verificados nos primeiros cinco meses de 2002 (R$ 22
bilhões).
Além disso, a dívida pública
brasileira como proporção do PIB
de cerca de 55% não é elevada
comparativamente à experiência
internacional e é muito fácil demonstrar sua estabilidade ao longo do tempo, mantidos os parâmetros básicos da política econômica.
Se o time brasileiro tivesse entrado em pânico depois do gol de
Owen, ou após a discutível expulsão de Ronaldinho, os ingleses, e
não a seleção brasileira, estariam
neste momento se prepararando
para a semifinal da próxima
quarta-feira. Da mesma forma,
em persistindo um comportamento de manada de fuga de ativos dos países emergentes, a volatilidade dos últimos dias pode
persistir. Se não houver calma,
corre-se o risco de as expectativas
pessimistas, descoladas dos fundamentos da economia, afetarem
negativamente esses últimos, caracterizando uma profecia auto-realizável.
No final da Copa de 1958, quando a Suécia abriu o placar na final com o Brasil, aos 4min, para o
delírio da torcida da casa, Didi,
vestindo a mesma camisa azul da
seleção brasileira, recolheu a bola
no fundo das redes e serenamente
se dirigiu ao centro do gramado,
pedindo calma aos companheiros
e abrindo o caminho para o primeiro campeonato mundial do
Brasil. Eis um bom exemplo para
os agentes de mercado e as autoridades econômicas.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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