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LUÍS NASSIF
A Intel e o chip nacional
A visita do chairman da Intel, Craig Barrett, trouxe
à tona uma das grandes frustrações dos últimos anos, que foi a
perda da fábrica de chips para a
Costa Rica. De certo modo foi
um divisor de águas, assim como a questão Bombardier-Embraer. O segundo colocou na agenda nacional a questão das
batalhas comerciais em organismos multilaterais. O primeiro, a
importância de políticas industriais na atração de investimentos de ponta.
O Brasil começou a chamar a
atenção dos grandes fabricantes
em 1999, quando a Motorola começou a se mexer para desenvolver circuitos integrados no
Brasil. Hoje em dia, há mais de
cem projetistas em seus laboratórios.
Em 2000, Vanda Scartezini,
do Ministério de Ciência e Tecnologia, procurou contatar os
colegas brasileiros que trabalhavam em multinacionais, para
ter uma visão mais objetiva sobre como viam o Brasil. A Intel
foi a primeira a apresentar ressalvas quanto à situação brasileira. Ficou claro que não haveria espaço para uma fábrica no
Brasil por vários motivos -o
principal deles era a ausência de
um arcabouço fiscal e legal adequado, o que dificultava bastante a entrada e a saída de materiais.
A falta dessa estrutura fez a
Intel montar a fábrica na Costa
Rica, com investimentos totais
de US$ 6 bilhões. Mesmo assim,
o modelo não é o ideal para o
país hospedeiro. O lucro que fica
na Costa Rica é muito baixo,
porque a produção consiste em
mandar para lá o "die" -o chip
nu. Lá é trabalhada pelo projetista e pelos designers. Mas a
propriedade intelectual fica nos
EUA. É por isso que 65% da exportação norte-americana, hoje
em dia, é de propriedade intelectual, de softwares, chips, filmes, música, direitos de designer de sapatos.
Na época, o Ministério do Desenvolvimento, por meio da Cacex, e o Ministério de Ciência e
Tecnologia estudaram formas
de atração de empresas. Mas o
ambiente internacional já não
era favorável. Havia ociosidade
de 40% nas unidades fabris de
circuitos integrados, saturação
do setor de telecomunicações e
terceira geração de celulares que
não ia para a frente. Esse cenário acabou se confirmando amplamente em 2001.
Se havia ociosidade, a necessidade maior era de novos produtos e de gente inovando. Apenas
nos Estados Unidos existe um
déficit de cerca de 3.000 projetistas por ano. A estratégia do Ministério do Desenvolvimento e
do Ministério de Ciência e Tecnologia foi tirar o foco da disputa dos custos para o da especialização. Todos os grandes "players" globais estão instalados no
país, trabalhando com mesma
metodologia, lógica e níveis produtividade similares às de suas
matrizes.
O desafio, portanto, é aprimorar essa oferta de mão-de-obra
especializada, a fim de ganhar
valor agregado em produtos. No
setor agrícola o Brasil tornou-se
um campeão porque consegue ir
à base da tecnologia, dominando os processos e atuando na
modificação dos produtos agrícolas.
No caso de eletrônica, se não
fizer a mesma coisa, em projeto
de chips e de softwares, não haverá inovação em telecomunicações, automação, informática
e mesmo nos eletroeletrônicos
convencionais.
A estratégia para ganhar essa
competência e atrair fabricantes
internacionais passa pela formação acelerada de especialistas. Com a Motorola, o Ministério de Ciência e Tecnologia está
trabalhando na formação de
projetistas de circuitos integrados. O curso foi montado e está
aberto a qualquer um da área,
do mercado querendo voltar para o setor ou mesmo físicos recém-formados.
Esses estudantes estão sendo
estimulados a criar pequenas
empresas. A Intel se dispôs a enviar especialistas para auxiliar
na metodologia de trabalho e de
marketing internacional das incubadoras.
É importante que o governo se
detenha na questão da propriedade intelectual. Se vai fornecer
desenvolvedores, designers, projetistas, é fundamental que nos
acordos de atração de investimento se introduzam cláusulas
permitindo que a criação intelectual fique com o país.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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