São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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INVESTIGAÇÃO

Banco alemão consta como dono de ações da empresa de Maluf; advogado diz que investimentos são legais

Fundo do Deutsche na Eucatex está em Jersey

ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o final do mês passado, três fundos do Deutsche Bank em Jersey constam como donos de 36% das ações ordinárias (com direito a voto) e 29% das ações preferenciais da Eucatex S.A. Indústria e Comércio.
A empresa pertence à família do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB).
Há um ano, registros da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontavam que a origem do dinheiro investido pelos fundos na Eucatex era a Alemanha.
A informação é pública e consta de relatório entregue pela própria Eucatex à CVM em 29 de maio deste ano. Os fundos constituídos pelo Deutsche Bank compraram US$ 89,3 milhões em ações da Eucatex, em 1997.
Na edição de 10 de junho de 2001, a Folha revelou que as autoridades de Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha, bloquearam pelo menos US$ 200 milhões depositados ilegalmente na ilha em nome de Maluf e familiares.

Sem ligações
O advogado da Eucatex, Ricardo Tosto, diz que os investimentos do Deutsche na Eucatex são legais e não têm ligação com as investigações sobre Maluf.
O ex-prefeito nega ter dinheiro fora do Brasil (leia texto nesta página).
Em agosto do ano passado, o governo da Suíça informou a autoridades brasileiras que o ex-prefeito manteve contas no Citibank de Genebra, entre 1985 e 1997, quando transferiu o dinheiro para Jersey.

Histórico
O dinheiro utilizado para a compra da participação dos fundos na Eucatex saiu do Deutsche Morgan Grenfell em 21 de agosto de 1997 e passou por uma agência do Deutsche Bank em Nova York antes de chegar ao Brasil.
A participação dos fundos do Deutsche (agora transferidos da Alemanha para Jersey) na Eucatex se deu por meio de uma emissão de debêntures realizada em 1997. Foram emitidos 15 mil títulos, no valor total de R$ 150 milhões.
Os papéis previam o pagamento de rendimento fixo -IGP-M mais 6% de juros ao ano, taxa semelhante à da caderneta de poupança-, além de remuneração variável e proporcional aos lucros da empresa.
Cada debênture era também conversível em 20 mil ações da Eucatex, sendo 33% ordinárias e 67% preferenciais (com preferência no recebimento dos dividendos).
Se o comprador optasse pela conversão, perderia o rendimento fixo (IGP-M e 6% ao ano) e receberia retornos variáveis e dependentes dos lucros obtidos pela empresa.
Apesar de a Eucatex ter tido prejuízo em todos os anos desde 1995, os fundos do Deutsche Bank optaram pela conversão das debêntures, concluída no segundo trimestre de 1998.
Essa operação elevou em 62,5% o capital social da Eucatex. O capital social da empresa passou de R$ 130,3 milhões para R$ 211,8 milhões.

Nacionalidades
O dinheiro dos fundos do Deutsche Bank mudaram de nacionalidade ao longo dos anos. No relatório da CVM referente à posição acionária da Eucatex em 31 de dezembro de 1997, dois fundos aparecem com nacionalidade brasileira e um com nacionalidade alemã.
Já no relatório de 31 de dezembro de 1998, os três fundos aparecem como ingleses.
Nos relatórios finais de 1999 e de 2000, os três apareciam como alemães. Agora, eles foram identificados como provenientes de Jersey.
Além desses três fundos, um quarto, constituído nas Antilhas Holandesas, também investiu na Eucatex em 1997. Mas esse último deixou a empresa em 2000.



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