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INVESTIGAÇÃO
Banco alemão consta como dono de ações da empresa de Maluf; advogado diz que investimentos são legais
Fundo do Deutsche na Eucatex está em Jersey
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde o final do mês passado,
três fundos do Deutsche Bank em
Jersey constam como donos de
36% das ações ordinárias (com
direito a voto) e 29% das ações
preferenciais da Eucatex S.A. Indústria e Comércio.
A empresa pertence à família do
ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB).
Há um ano, registros da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) apontavam que a origem
do dinheiro investido pelos fundos na Eucatex era a Alemanha.
A informação é pública e consta
de relatório entregue pela própria
Eucatex à CVM em 29 de maio
deste ano. Os fundos constituídos
pelo Deutsche Bank compraram
US$ 89,3 milhões em ações da Eucatex, em 1997.
Na edição de 10 de junho de
2001, a Folha revelou que as autoridades de Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha, bloquearam pelo menos US$ 200 milhões
depositados ilegalmente na ilha
em nome de Maluf e familiares.
Sem ligações
O advogado da Eucatex, Ricardo Tosto, diz que os investimentos do Deutsche na Eucatex são legais e não têm ligação com as investigações sobre Maluf.
O ex-prefeito nega ter dinheiro
fora do Brasil (leia texto nesta página).
Em agosto do ano passado, o
governo da Suíça informou a autoridades brasileiras que o ex-prefeito manteve contas no Citibank
de Genebra, entre 1985 e 1997,
quando transferiu o dinheiro para
Jersey.
Histórico
O dinheiro utilizado para a
compra da participação dos fundos na Eucatex saiu do Deutsche
Morgan Grenfell em 21 de agosto
de 1997 e passou por uma agência
do Deutsche Bank em Nova York
antes de chegar ao Brasil.
A participação dos fundos do
Deutsche (agora transferidos da
Alemanha para Jersey) na Eucatex se deu por meio de uma emissão de debêntures realizada em
1997. Foram emitidos 15 mil títulos, no valor total de R$ 150 milhões.
Os papéis previam o pagamento
de rendimento fixo -IGP-M
mais 6% de juros ao ano, taxa semelhante à da caderneta de poupança-, além de remuneração
variável e proporcional aos lucros
da empresa.
Cada debênture era também
conversível em 20 mil ações da
Eucatex, sendo 33% ordinárias e
67% preferenciais (com preferência no recebimento dos dividendos).
Se o comprador optasse pela
conversão, perderia o rendimento fixo (IGP-M e 6% ao ano) e receberia retornos variáveis e dependentes dos lucros obtidos pela
empresa.
Apesar de a Eucatex ter tido prejuízo em todos os anos desde
1995, os fundos do Deutsche Bank
optaram pela conversão das debêntures, concluída no segundo
trimestre de 1998.
Essa operação elevou em 62,5%
o capital social da Eucatex. O capital social da empresa passou de
R$ 130,3 milhões para R$ 211,8
milhões.
Nacionalidades
O dinheiro dos fundos do
Deutsche Bank mudaram de nacionalidade ao longo dos anos. No
relatório da CVM referente à posição acionária da Eucatex em 31
de dezembro de 1997, dois fundos
aparecem com nacionalidade
brasileira e um com nacionalidade alemã.
Já no relatório de 31 de dezembro de 1998, os três fundos aparecem como ingleses.
Nos relatórios finais de 1999 e de
2000, os três apareciam como alemães. Agora, eles foram identificados como provenientes de Jersey.
Além desses três fundos, um
quarto, constituído nas Antilhas
Holandesas, também investiu na
Eucatex em 1997. Mas esse último
deixou a empresa em 2000.
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